Vermelho/Editorial/30 outubro 2007
Eles sinalizam uma mudança importante no equilíbrio do poder econômico e político no mundo. Até recentemente, os países chamados em desenvolvimento - como a China, a Rússia e o Brasil - eram quase sempre deficitários em seu comércio com os países ricos. Somente os países produtores de petróleo conseguiam superávits, que eram aplicados em títulos dos tesouros nacionais dos países ricos, principalmente dos EUA.
O boom do desenvolvimento da China começou a inverter esta tendência que, este ano, se fortaleceu quando países como o Brasil livraram-se da tutela do FMI e começaram , na esteira de um mercado mundial favorável a suas exportações, a acumular montanhas de divisas, formam altos volumes de reservas internacionais.
Com uma particularidade: essas reservas cresceram num ambiente de enfraquecimento do dólar e, em consequência, de queda na remuneração de investimentos feitos em títulos do Tesouro dos EUA. Uma opção que, ao longo do tempo, foi se revelando um mau negócio para os países que aplicam nesses títulos: calcula-se que, desde 2002, quando sua cotação começou a cair, o dólar já perdeu 20% de seu valor. Somente em 2007, desde a crise dos mercados imobiliários de agosto, a queda teria sido de 3%.
A reação, previsível, dos países emergentes, detentores de elevados saldos comerciais no comércio com os países ricos foi proteger seus ativos. Os Fundos de Riqueza Soberana não são novos. Hoje, existem cerca de 42, entre eles dez com ativos superiores a 100 bilhões de dólares. Somente o da China, criado este ano, tem patrimônio de 200 bilhões; o da Rússia tem 127 bilhões. E o Brasil começa a estudar a criação do seu, com pelo menos 10 bilhões.
Daí a ameaça que representam para os países ricos, e que levou a questão à pauta da reunião da diretoria do FMI, em 20 de outubro. Enquanto essas reservas estavam aplicadas em títulos do Tesouro dos EUA, elas eram benéficas para o equilibrio das contas da maior potência imperialista e não causavam preocupação. Afinal isso significava que os próprios países ''emergentes'' deixavam seu dinheiro em poder da potência dominante, equilibrando suas contas esfarrapadas e ajudando a manter o mundo em um equilíbrio que a favorecia.
Com os fundos soberanos a situação é outra. Os governos dos países ''emergentes'' deixam de financiar a gastança dos ricos e passam a usar seus recursos para influir na economia mundial. Vão gastar seu dinheiro apoiando a compra de empresas ou bancos, financiando sua própria infraestrutura ou, no caso do Brasil, ou realizando obras para a integração continental.
E isso é inaceitável para os países ricos. As nações que há séculos tem sido dominadas estão sinalizando que vão usar suas reservas para fortalecer sua autonomia, seu desenvolvimento nacional e, no pior dos mundos para os velhos países imperialistas, ter voz ativa na economia das nações que tem sido o centro da economia mundial.
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