terça-feira, 23 de outubro de 2007

ANÁLISE/Por que não sai Reforma Agrária no Brasil?

Frei Pilato Pereira *

Agência Adital/22 outubro 2007

Muitos brasileiros devem estar se perguntando sobre a razão pela qual a Reforma Agrária não sai do papel. Realmente é uma questão difícil de entender. Afinal nosso país tem terras para assentar todos os sem terra e ainda sobra latifúndio. Sabemos que a Reforma Agrária, além de promover a justiça social, também é uma alternativa para o progresso e o desenvolvimento do país. E temos um presidente que foi pobre, sem terra e que sempre lutou em favor dos trabalhadores e ainda assim nada de acontecer a tão sonhada Reforma Agrária. Mas, diante desta indagação, fomos revirar um pouco do passado recente e encontramos a resposta nas palavras do próprio atual presidente da República, que na época era postulante ao cargo que hoje ocupa. Em novembro de 2000, Luiz Inácio Lula da Silva, disse para a Revista "Caros Amigos" algo muito profético que vem ultrapassando os tempos de seu próprio governo. Assim disse Lula: "Não se justifica num país, por maior que seja, ter alguém com 30 mil alqueires de terra! Dois milhões de hectares de terra! Isso não tem justificativa em lugar nenhum do mundo! Só no Brasil. Porque temos um presidente covarde, que fica na dependência de contemplar uma bancada ruralista a troco de alguns votos."
Isto foi o que disse Lula quando não governava o Brasil e o presidente covarde a que ele se referia era o Fernando Henrique Cardoso, que realmente foi um governo lacaio do capital internacional e dos grandes do país. FHC foi um social-democrata que se bestializou. E Lula tinha razão ao criticá-lo sobre sua incapacidade de fazer a tão desejada Reforma Agrária no Brasil. Um governo totalmente vendido aos poderosos não poderia atender ao clamor dos pobres. Mas, e agora que o próprio Lula é presidente, seria pelo mesmo motivo que não acontece a Reforma Agrária? Logo que disse esta frase tão verdadeira, em menos de dois anos, Lula já estava na presidência da Republica, já estava ocupando o lugar do presidente que ele chamou de covarde. E, por que então Lula não começou a fazer o que antes considerava ser tão importante para o país? A verdade inconveniente é que agora Lula é o "presidente covarde, que fica na dependência de contemplar uma bancada ruralista a troco de alguns votos." E por isso, os pobres deste país seguem herdando as beiras de estradas, vivendo constantemente na miséria e no abandono. E quando se organizam sofrem ameaças das polícias dos governos locais e das milícias do latifúndio e ainda são criminalizados pela mídia e por outros setores da sociedade.

Lula quer governar o país, afinal foi para isto que o elegemos e depois o reelegemos Presidente da República. Ele sabe que seu governo precisa de sustentação, de apoio e de algum tipo de força política. Mas em vez de manter vivo o apoio, a força que vem do povo, iludidamente, Lula se rende para os grandes. Não digo que Lula se vendeu, mas já se rendeu aos ruralistas que lhe venderam a ilusão de que eles têm a força e o poder que o sustenta. Lula está enganado e toda a nação vai pagar, já está pagando pelos seus enganos. Se o governo petista quisesse ser um governo forte, atenderia aos interesses do povo. Porque a força do povo é que é sólida, eficaz e duradoura.

A Reforma Agrária e outras ações em favor do povo não saem do papel e da promessa porque o presidente atual, além de herdar a cadeira de FHC e dos outros que por lá passaram, parece que herdou também o vírus da covardia. Menos mal que em Lula esta doença da covardia não está tão avançada, ele até vem trabalhando para melhorar a vida dos mais pobres. Mas lhe falta coragem de realizar ações mais consistentes que mudem as estruturas da sociedade, como por exemplo, a Reforma Agrária. Lula vem dando paliativos para amenizar a dor e o sofrimento dos pobres. E assim ele mantém sua boa relação com todos. Mas não está sendo capaz de curar a doença crônica da fome e da miséria, porque está se contaminando pelo vírus da covardia. Talvez pudéssemos livrar nosso presidente deste grande mal, lembrando a ele e ao seu partido que quem o fez presidente foram milhões de trabalhadores e não "trezentos picaretas".

* Franciscano Capuchinho de Canoas - RS

pilato@capuchinhosrs.org.br

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=30160

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