Maputo, 29 outubro 2007 - Os constantes atropelos dos direitos fundamentais da criança poderão, nos próximos tempos, registar alguma redução no centro do país, com a realização, esta semana, em Chibata, distrito de Gondola, em Manica, da I Reunião Regional da Rede Nacional de Teatro do Oprimido (RETEC).
Pretende-se, na essência, com este encontro de cinco dias, organizado pelo Grupo Teatro do Oprimido, em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Agência Dinamarquesa para o Desenvolvimento (ASDI), municiar os curingas (agentes das artes cénicas do “oprimido”) de ferramentas que possam servir de pilar para a consciencialização das comunidades sobre os perigos causados pelos abusos cometidos.
Sob o lema “Por uma Comunidade Activa e Interventiva”, o I Encontro Regional Centro da RETEC, vem decorrendo desde a passada segunda-feira e termina hoje, reunindo curingas de 32 distritos das províncias de Sofala, Zambézia, Tete e a anfritriã Manica, com as atenções viradas para a busca de melhores formas de, através do teatro-fórum, fazer passar as mensagens de luta contra os abusos dos direitos da criança.
As Cartas Africana e das Nações Unidas sobre os direitos fundamentais da criança foram, dentre vários, os instrumentos recorridos para capacitar os curingas presentes no encontro do “Planalto”, com especialistas entendidos na matéria, a trazerem à ribalta os contornos destes documentos oficiais.
Sabe-se, no entanto, que Moçambique é um dos países subscritores destas ferramentas, mas o seu cumprimento ainda deixa muito a desejar, pese embora haja muito esforço neste sentido.
Dinis Chembene, porta-voz do encontro, disse ao nosso Jornal que, para além de ferramentas ligadas à luta contra os abusos dos Direitos da Criança, a gestão e planificação de projectos, mecanismos de coordenação, o fluxo de informação, capacidade de “lobbies” são, entre vários, os outros temas em debate.
“É fundamental que haja melhorias nos conteúdos das peças que levamos às comunidades e que gostariam de ver os seus problemas bem apresentados. Por esta razão elas têm sempre uma palavra a dizer no teatro do oprimido”, anotou.
O mesmo sentimento é comungado por vários participantes ao encontro, entrevistados pelo nosso Jornal.
Arlete Freitas, de Quelimane, província da Zambézia, disse, por exemplo, que com as ferramentas obtidas poderá contribuir no melhoramento das peças e palestras que têm levado às comunidades.
“Na minha província, os abusos dos Direitos da Criança, sobretudo psicológicos e à educação são frequentes, mas a sua abordagem é complexa. Assim, já estou em condições de fazer um teatro mais interactivo, capaz de contribuir na resolução destes problemas”, referiu.
Para David Avelino, de Cahora Bassa, província de Tete, a violência de menores, casamentos prematuros e troca de bens materiais por parte dos pais e encarregados das crianças são os casos mais frequentes naquele ponto do país. “Precisamos de salvar as crianças destes males. E com estes ensinamentos adquiridos poderemos contribuir de forma saudável para que tal aconteça”, ajuntou.
Por seu turno, Célcia Helena Lázaro, de Gorongosa, em Sofala, o Direito do Registo é o calcanhar de “Aquiles” naquele ponto do país. Na sua apreciação, o teatro-fórum é uma arma na resolução do problema, tendo justificado o facto alegando que aquela forma de representação permite a interacção entre a comunidade e os fazedores daquele tipo de artes cénicas.
Salvador Sibanda, do distrito de Manica, província do mesmo nome, disse que ao nível daquela região, o teatro do “oprimido” deve focalizar bastante o capítulo do Direito à Educação, envolvendo em grande medida as comunidades das zonas mais recônditas porque é lá, segundo advoga, onde residem os maiores problemas ligados aos petizes.
“Nos centros urbanos e nas sedes distritais há alguma informação difundida pelos meios de comunicação social, mas lá não. Por isso é que julgo que alguns atropelos acontecem por ignorância. Sendo assim, é lá onde devem estar viradas as nossas atenções”, sublinhou. (Noticias)
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