O QUE O PAPA VEM FAZER NO BRASIL?
18 julho 2013, Blog do Emir Carta Maior
http://www.cartamaior.com.br (Brasil)
Emir Sader
Estava na programação do papa anterior, que o novo
papa cumpre, a visita ao Brasil. É claramente parte de um plano do Vaticano
para tentar recuperar terreno perdido nas últimas décadas no continente
considerado o mais católico do mundo.
O Papa João Paulo II havia feito uma opção estratégica de alinhamento com os
EUA e a Inglaterra, para protagonizar, junto com Ronald Reagan e Margareth
Thatcher, a ofensiva final contra a URSS, para provocar o desenlace favorável
ao bloco imperialista na guerra fria. Fez parte disso a repressão e o
enfraquecimento fundamental da teologia da libertação – que poderia ter sido a
versão popular do catolicismo.
A forte ofensiva do Vaticano contra a teologia da liberação matou a galinha dos
ovos de ouro do catolicismo e abriu campo para todas as variantes evangélicas,
que ocuparam o espaço que poderia ter sido ocupado pela teologia da libertação.
Ao invés de se fortalecer, a Igreja Católica entrou numa profunda – e provavelmente
irreversível – decadência.
A vinda do papa ao Brasil – considerado o maior país católico do mundo – tem
como objetivo tentar recuperar espaço perdido nas últimas décadas, na contramão
das tendências de enfraquecimento da adesão a religiões e da expansão das
várias correntes evangélicas.
Mas o papa não traz nenhum discurso atraente, especialmente para as novas
gerações, maioritárias no Brasil e na América Latina. Mais além da participação
da relativa quantidade de jovens nas manifestações da vinda dele, nada indica
que o papa possa recuperar prestígio e adesão ao catolicismo no Brasil e no
nosso continente.
Nos temas que preocupam os jovens e o mundo contemporâneo, o papa não tem nada
a dizer. Seu discurso tem se revelado conservador nos temas básicos que
interessam aos jovens e que poderiam renovar o discurso da Igreja: papel das
mulheres na Igreja, aborto, divórcio, entre outros.
Há uma campanha publicitária, tentando projetar uma imagem simpática do novo
papa, uma ação contra a antipatia e a falta total de apelo do papa anterior.
Mas nada além da imagem dele.
Propagava-se que, como o novo papa é argentino, ilusórias previsões de que já
não viriam dois milhões, mas dois milhões e meio, o que rapidamente
naufragaram. Fala-se agora de menos da metade disso e, certamente, mais de 90%
vindos do Brasil.
A visita do papa terá um efeito instantâneo, nada mais do que isso, produto de
uma campanha publicitária de projetar algum líder conservador em um mundo em
que os estadistas do bloco ocidental – Obama, Merkel, Hollande, Rajoy, Cameron,
entre outros – têm suas imagens muito deterioradas.
Mas à falta de discurso atraente – mais além dos apelos demagógicos e vazios
sobre a miséria, a paz, o revigoramento da espiritualidade, etc. –, nada se
pode esperar de duradouro da visita do papa, que partirá como veio, sem nenhuma
capacidade de fortalecer uma Igreja Católica brasileira com autoridades
oficiais conservadoras e inexpressivas. A direita conseguirá apenas
episodicamente projetar a imagem simpática do papa atual, sem nenhuma
ingerência na situação do Brasil e da América Latina.
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