12
julho 2013, O Tempo http://www.otempo.com.br (Brasil)
Leonardo Boff
É notório que a direita brasileira,
apoiada pelas mídias privada e familiar, está se aproveitando das manifestações
massivas nas ruas para manipular essa energia a seu favor. A estratégia é fazer
sangrar mais e mais a presidente Dilma Rousseff e desmoralizar o PT, e assim
criar uma atmosfera que lhe permite voltar ao lugar que por via democrática
perderam.
Se, por um lado, não podemos nos privar de críticas ao governo do PT, por outro não podemos ingenuamente permitir que as transformações político-sociais alcançadas nos últimos dez anos sejam desmoralizadas e desmontadas por parte das elites conservadoras.
É sabido que, com a vitória do
capitalismo sobre o socialismo estatal do Leste Europeu, em 1989, o presidente
norte-americano Reagan e a primeira-ministra britânica Thatcher inauguraram uma
campanha mundial de desmoralização do Estado,
tido como ineficiente, e da
política como empecilho aos negócios das grandes corporações globalizadas e à
lógica da acumulação capitalista. Com isso, visava-se chegar ao Estado mínimo,
debilitar a sociedade civil e abrir amplo espaço às privatizações e ao domínio
do mercado, até conseguir a passagem de uma sociedade com mercado para uma
sociedade de puro mercado, na qual tudo vira mercadoria. Conseguiram.
O Brasil, sob a hegemonia do PSDB,
se alinhou ao que se achava o marco mais moderno e eficaz da política mundial.
Protagonizou vasta privatização de bens públicos, que foi maléfica ao interesse
geral.
Que isso foi uma desgraça mundial
se comprova pelo fosso abissal que se estabeleceu entre os poucos que dominam
os capitais e as finanças e a grande maioria da humanidade. Sacrifica-se um
povo inteiro, como a Grécia, sem qualquer consideração, no altar do mercado e
da voracidade dos bancos.
A crise econômico-financeira de
2008, instaurada no coração dos países centrais que inventaram essa
perversidade social, foi consequência desse tipo de opção política. Foram os
Estados que tanto combateram que os salvaram da completa falência, produzida
por suas medidas montadas sobre a mentira e a ganância.
Então, se devemos criticar a nossa
classe política por ser corrupta, e o Estado por ser ainda, em grande parte,
refém da macroeconomia neoliberal, devemos fazê-lo com critério e senso de
medida. Caso contrário, levamos água ao moinho da direita. Esta se aproveita
dessa crítica não para melhorar a sociedade em benefício do povo que grita na
rua, mas para resgatar seu antigo poder político, especialmente aquele ligado
ao poder de Estado, a partir do qual garantiam seu enriquecimento fácil.
Por isso, as massas devem continuar
na rua contra elas. Precisam estar atentas a essa infiltração, que visa mudar o
rumo das manifestações. Elas invocam a segurança pública e a ordem a ser
estabelecida. Quem sabe, até sonham com a volta do braço armado para limpar as
ruas.
Daí, cabe reforçar o governo de
Dilma, cobrar-lhe, sim, reformas políticas profundas, evitar a histórica
conciliação entre as forças em tensão e a oposição para, juntas novamente,
esvaziarem o clamor das ruas e manterem um status quo que prolongue benefícios
compartilhados.
Dessa forma se enfrentarão as
articulações da direita e se poderá, com mais força, reclamar reformas
políticas de base que vão na direção de atender a infraestrutura reclamada pelo
povo nas ruas: melhor educação, melhores hospitais públicos, melhor transporte
coletivo e menos violência na cidade e no campo.
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