quarta-feira, 24 de julho de 2013

Brasil/Grupo de bispos brasileiros defende manifestações durante visita do papa



22 julho 2013, Carta Maior http://www.cartamaior.com.br (Brasil)

Os 41 bispos da Igreja Católica Apostólica Brasileira (Icab), uma ordem autônoma não reconhecida pelo Vaticano, disseram que não podem ficar alheios "às manifestações do seu povo que clama por justiça, exigindo de seus governantes um comportamento honesto no mínimo coerente com as leis”. Por Dermi Azevedo


O apoio às reformas que começam a ser feitas pelo papa Francisco foi oficializado em encontro no final de semana, no Rio de Janeiro, pelos 41 bispos da Igreja Católica Apostólica Brasileira (Icab), uma ordem autônoma não reconhecida pelo Vaticano.

Em um ‘Manifesto à Nação’, os dirigentes dessa dissidência nacional do catolicismo afirmam que a Icab “não pode ficar alheia às manifestações do seu povo que clama por justiça, exigindo de seus governantes um comportamento honesto no mínimo coerente com as leis”.

A nação, enfatiza o texto, “exige um tratamento digno e respeitoso para a cidadania e repudia a corrupção, que se alastra tanto nos órgãos públicos quanto na iniciativa privada”.

Os bispos querem entregar o manifesto pessoalmente ao papa Francisco, mas sabem que isso será difícil, considerando que o processo de diálogo entre as duas instituições ainda não foi oficialmente iniciado.

Isso deve acontecer a partir de agosto próximo, quando os bispos da Icab pediram uma audiência ao Núncio Apostólico (embaixador do Papa) em Brasília.

Apoio
Em entrevista à Carta Maior, o bispo presidente da Icab, d. Josivaldo Pereira de Oliveira, afirmou que a visita do papa “merece todo apoio pelo seu caráter pastoral, representando um dever de todos os bispos”, mas destacou que os católicos esperam profundas mudanças nos dogmas e no modelo administrativo de Roma, sobretudo no que se refere à infalibilidade do Papa.

De acordo com esse dogma, determinadas ações do papa não podem ser questionadas por ser ele infalível. Um outro ponto a ser modificado é a afirmação do código de direito canônico segundo a qual “diante das decisões do papa, não cabem recursos”.

O ‘Manifesto à Nação’ defende a participação dos movimentos sociais na visita do papa por meio da continuidade das manifestações de rua, tendo como pauta o compromisso social de todas as igrejas e religiões que atuam no país com um novo projeto de desenvolvimento sustentável e humano.
Dois Pontos
D. Rosivaldo afirmou depois que a visita do papa “apresenta mais elementos positivos do que negativos”. Entre os primeiros aspectos, enfatizou “a simplicidade do papa e o carinho com qual tem se referido à da libertação dos mais pobres”.

Entre os negativos, destacou os “excessivos gastos públicos com a viagem, dando assim um tratamento privilegiado a uma igreja que é a mais poderosa, mas que não e a única”.

O que e a Icab
A Icab foi fundada em 1945 pelo bispo de Botucatu (SP), d. Carlos Duarte Costa. Portador de ideias socialistas, ele foi excomungado pelo papa e criou a Icab. O grupo tem 36 dioceses e representações em 15 países.

"MANIFESTO À NAÇÃO II

Igreja Católica Apostólica Brasileira

2013

O POVO BRASILEIRO CLAMA POR JUSTIÇA
A Igreja Católica Apostólica Brasileira não pode ficar alheia às manifestações do seu povo que clama por justiça, exigindo de seus governantes um comportamento honesto e, no mínimo, coerente com as leis que regulam a vida da nação brasileira, que clama por um tratamento digno e respeitoso para com os seus concidadãos, e, ao mesmo tempo, faz ecoar um grito de repúdio à corrupção, que vem se alastrando por diversos órgãos públicos e privados da nossa Pátria. Mas, diante de tudo isso, qual seria o papel pastoral da nossa Igreja? Deveríamos esquecer completamente a nossa missão precípua de evangelizadores? E, se assim o fizéssemos, não estaríamos colocando em dúvida a eficácia da palavra de Deus, na solução dos nossos problemas? Pode até parecer que, com estas colações, estamos querendo nos eximir da luta em prol das jutas reivindicações do povo brasileiro. Não poderia ser esse o pensamento de uma Igreja que tem com sua real chefia o Episcopado Nacional, formado por Bispos eleitos por suas comunidades religiosas; de uma Igreja que, desde o início de sua criação, sonda os anseios espirituais do povo brasileiro para uma melhor e mais fácil adequação desses anseios, em consonância aos puros e perfeitos ensinamentos do Cristo. Por tanto, as nossas orientações não estão desvinculadas da verdade libertadora da Palavra do Cristo, que nos convida a participar do seu Reino Eterno, buscando com mais garra e perseverança, as transformações e evoluções espirituais, que, uma vez alcançadas, em muito ajudarão a humanidade, na formação de uma sociedade mais justa e pacífica, onde homens e mulheres, tomados pelo verdadeiro sentimento do amor cristão, abandonarão seus pensamentos mesquinhos e egoísticos, voltados para os prazeres e as riquezas materiais – causa evidente da variedade de crimes perpetrados contra o ser humano e a humanidade – e abraçarão os sentimentos cristãos de solidariedade e fraternidade, formando uma sociedade onde os seus membros utilizarão dos seus dons, em benefício de todos. E, desta forma, sem desprezar as reivindicações do povo brasileiro, em busca de um Brasil melhor e mais justo.
“Felizes os que têm sede e fome de justiça, porque serão saciados.”(Mt 5,6)


A QUESTÃO SÓCIO-POLÍTICO-ECONÔMICA

Problemas socioeconômicos, denunciados naquele 18 de agosto de 1945 por São Carlos do Brasil, no século, Dom Carlos Duarte Costa, em seu “MANIFESTO À NAÇÃO”, ainda encontram-se presentes em nossa sociedade 68 anos depois. Da mesma forma, a questão política, embora esta com outra roupagem, a de um governo sob a égide do capital financeiro; naquela ocasião vivia-se ainda a “Ditadura Vargas” um mescla de populismo que se misturava ao autoritarismo. Em ambos os casos, é nítida a dominação das elites sobre as classes trabalhadoras, o proletariado nacional, a força de trabalho que alavanca o desenvolvimento deste país.


Neste início do século XXI, começa-se a desvanecer as ilusões vendidas a preço de sangue nas últimas décadas do século passado. O engodo da globalização orquestrada pelo neoliberalismo que se apresentava como a panacéia para todos os males e a deficiência do capitalismo, finalmente revelou-se ao que veio... Agora estamos aí, em um mundo com guerras sistemáticas, terrorismo, violência de todos os tipos e em todos os níveis, insegurança, incertezas, e finalmente as doenças do corpo, da mente e da alma: a depressão, o alcoolismo, as drogas; juntamente com o aumento da prostituição, da desagregação familiar, a falta de espiritualidade; em fim é uma sociedade que já dá sinais de caminhar em direção à barbárie. Como analisou nosso fundador:

As perseguições e os sofrimentos unem: mas se a pressão é excessiva, sufoca, se a desgraça comum é absoluta, sobrevém as dissensões, como em plena prosperidade, e a dissociação é tal, que provoca a dissolução e a destruição.

Crises econômicas nas nações mais frágeis da EU (Grécia, Portugal, Espanha...). No mundo árabe, dominado por oligarquias, tiranias, ditaduras, houve uma expressiva revolução e ainda continua havendo. As questões norte-americanas como das guerras no Oriente, a prisão de Guantánamo, o bloqueio a Cuba. A questão de um Estado para o povo Palestino que nunca se concretiza. No nosso país surgem escândalos sobre escândalos de corrupção no Governo em todas as esferas, na Câmara e no Congresso: negociatas, superfaturamento, mensalões, e toda a sorte de improbidades.

Deste modo, iremos fazer uma análise crítica de alguns tópicos que preocupa a nossa Igreja desde seus primórdios em 1945 com relação à questão do trabalhador, do proletário, do camponês, do desempregado, do desvalido, que sempre carregou, em suas costas o pesos de tantos desmandos, de tanta perversão por parte dos governos e de seus mantenedores, conforme apresentaremos abaixo sempre a luz do “MANISFESTO À NAÇÃO” de nosso Santo fundador:

O HOMEM DO SERTÃO

No nordeste, entra e sai governo, mas a seca continua secando o sonho do homem da terra, terra seca, rachada. O verde vira palha, graveto; o açude vira lama, o gado morre assim como as crianças subnutridas. O homem, trabalhador da terra perde sua dignidade. Sem trabalho, sem terra, sua herança é a miséria. Só lhe resta o êxodo para os grandes centros urbanos onde se alojará com o que sobrou da família em talvez uma favela, o até mesmo debaixo da ponte, ou em uma praça; talvez consiga até um emprego na construção civil onde será uma espécie de escravo com contrato de trabalho. Andará em trens, metrôs e ônibus superlotados, em péssimo estado, cansado, humilhado, durante horas para ir e voltar, pagando caro e vendendo barato a sua força de trabalho. Seus filhos estudarão numa escola de baixíssima qualidade, caso não precisarem vender balas no sinal, isto, para os que sobreviverem as fascinações do tráfico de drogas. Sim, fascinação para quem não tem comida, casa, roupa, trabalho, escola, acrescentando sempre a expressão “com dignidade” para cada um destes substantivos enumerados, o tráfico, o estado paralelo pode representar uma opção para o jovem sem o menor apoio do Estado de fato.

A indústria da seca já elegeu inúmeros políticos nos mais diversos cargos embora as soluções encontram-se arquivadas, esquecidas desde a monarquia até hoje.

REFORMA AGRÁRIA

Mesmo a Reforma Agrária que não se limita a uma área especifica do Brasil, como a questão da seca, mas de todo o seu interior onde o homem vive da terra, do que cultiva; questão vital, mas que nunca se desenrola no Brasil. Vem sempre sendo procrastinada por todos os governos, mesmo os que se dizem ser “dos trabalhadores”, Mas que espécie de Reforma Agrária pretende o Governo? Reforma Agrária, comprando latifúndios improdutivos? Como explica nosso Santo fundador, Dom Carlos:

Como se formou o proletário moderno? Com a monopolização da terra em progressão, o que implica no gradual despojo do direito igual, ao uso de elementos naturais, com prejuízo das classes, cada vez mais numerosas. Surgem, assim, essas fortunas gigantescas contemporâneas ao lado dessa multidão faminta que joga por terra a presente civilização na reconquista de seus direitos de viver na sociedade.

Como alguém se torna proprietário de um latifúndio, produtivo ou não? Por “direito divino”? E tê-lo ou mantê-lo improdutivo, que benefício tem isso para a sociedade? Daí a União ainda ter que pagar por isso com o dinheiro dos impostos?!.. Desse modo nunca haverá um Reforma Agrária no Brasil, pelo menos enquanto os políticos não agirem dentro dos princípios cristãos ditarem as regras...

Quando exigimos por Reforma Agrária, estamos falando de um conjunto de medidas que permitam ao trabalhador do campo a produzir e escoar a sua produção: através de financiamento agrícola para máquinas e equipamentos, sementes e também construção de estradas vicinais, ferrovias e hidrovias. Orientação técnica. Além de sistema de irrigação para regiões onde não haja disponibilidade de água para o plantio.

Este direito de propriedade é como a derivação lógica do direito igual ao trabalho, assistido e completado pelo direito igual ao uso da terra. O fundamento do direito de propriedade é a mesma lei moral, que dá o produzido ao produtor ou seja o trabalho é o fundamento único do direito de propriedade. Ninguém pode participar da propriedade dos frutos do nosso trabalho, porque se alguém participasse teria, além do seu próprio direito ao fruto do seu trabalho, um direito sobre o fruto do trabalho de outrem, e deixariam de ser iguais esses direitos; desigualdade característica da escravidão. As coisas produzidas pelo trabalho são propriedade do produtor por direito natural, e por conseguinte seu proprietário não tem limites em consumi-las, dá-las, ou legá-las.

Como bem expõe Dom Carlos Duarte Costa acima, sem a divisão de terras, o produtor poderia se tornar dono do fruto do seu trabalho, sendo expropriado do mesmo pelo proprietário do latifúndio. Esta condição, típica a dos “meeiros”, é semelhante à condição de escravo e não de cidadão.

Como pode alguém, melhor dizendo, dezenas ou centenas de trabalhadores, serem privados de trabalhar a terra por outrem que recebeu em herança latifúndios estes que em algum momento da história foram adquiridos sabe lá como... A grilagem foi e é pratica comum no nosso país de dimensões continentais. Conforme encontramos no site da WWF:

A grilagem acontece até hoje devido às deficiências encontradas no sistema de controle de terras no Brasil. Apesar das diversas propostas, o governo ainda não implementou um registro único de terras ou ao menos um cadastro específico para as grandes propriedades.

Também não há articulação e cruzamento de dados entre os órgãos fundiários nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal). Some-se a isto a existência de diversos títulos de propriedade para uma mesma área e fiscalização ineficiente junto aos Cartórios de Registro Imobiliário.[1]
A grilagem de terras é a principal razão da violência no campo, o que suscitou no assassínio de Chico Mendes em 1988 e da religiosa da Igreja Romana, Irmã Dorothy Stang em 2005, também o Massacre de Eldorado dos Carajás foi a morte de dezenove sem-terra que ocorreu em 17 de abril de 1996 no município de Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, entre outros casos de tantos outros mártires da questão fundiária no Brasil, conforme site da Secretaria de Estado da Ordem Pública e Social do Distrito Federal -SEOPS:

A grilagem de terra está associada à especulação imobiliária, venda de madeiras e lavagem de dinheiro.[2]

Enfim, grileiros, latifundiários, as multinacionais dos transgênicos[3], do agronegócio, dos desertos verdes[4] têm sido o entrave da Reforma Agrária no país. Em nossa país, o poder econômico financia as campanhas políticas em todos os níveis o torna impossível a Reforma Agrária, é uma fantasia vendida a preço de sangue há décadas para desarticular os movimentos camponeses que lutam pelo seu direito. Daí que a proposta de Dom Carlos foi de uma Reforma Agrária verdadeiramente socialista:

Com a nacionalização da terra, assumindo o Estado a propriedade integral, passando assim a terra a ser da coletividade.

E bom que fique claro que quando Dom Carlos fala de “nacionalização” não é no sentido chauvinista, jamais! Não é o nacionalismo ufanista, nunca! Dom Carlos, foi perseguido e preso pelos fascistas. E o nacionalismo de que ele fala é o que respeita as nacionalidades locais e nos conduz a fraternidade entre as nações, o verdadeiro internacionalismo, como podemos ver em seu comentário intitulado “O Homem Cidadão do Mundo”:

Da nacionalização da terra de todos os países e da abolição de todos os privilégios e monopólios econômicos, resultaria de fato, embora não de direito, a internacionalização[5] dos recursos naturais, resolvendo-se assim, além de outros importantíssimos problemas, a nevrálgica questão das matérias primas.

Dom Carlos quando fala da propriedade coletiva de terra nos ensina que:

A transformação seria somente a troca de proprietário. A propriedade individual do solo, refundir-se-ia na propriedade comum, isto é, pública. Este estado de coisas concordaria perfeitamente com a lei moral[6]; todos os homens seriam igualmente livres, ficando a terra ajustada, ocupada e cultivada, na completa subordinação da lei de igual liberdade para todos. E destarte e com a abolição de todos os monopólios cresceria a renda social e o estado teria oportunidade a possibilidade de realizar, gradualmente os ideais do socialismo[7], que são inerentes às tendências do espírito humano, e acordes com as leis invariáveis, que regulam o desenvolvimento social, ficando esses ideais plenamente conciliados com a liberdade individual. Com a realização desses ideais, a Paz será uma bênção permanente. A Civilização atingirá alturas inimagináveis. A Humanidade elevar-se-á culminância do Cristianismo e o Reino de Deus descerá sobre a Terra. Tal é o poder da Verdade e da Justiça.

O PROLETARIADO URBANO

Outro sofredor, explorado, é o trabalhador da indústria e do comércio. Que mora nas periferias das grandes cidades. Quem vende sua força de trabalho por baixos salários para apenas mantém a sua subexistência e continuar escravizado (manter-se vivo e trabalhando). A lei da “mais valia”[8], que dita que quando mais o empregado produz, mais rico fica o seu patrão e menor será o seu salário, é matemática pura. Mas vejamos o que diz as Escrituras:

(...) porque o coração deste povo se endureceu: taparam os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda; para que não se convertam e eu os sare (Is 6,9s).[9]

Sim, a questão da “mais valia” é lógica, mas todos estão cegos que nem a percebem. Quando denunciamos, não escutam. Os grandes milagres de NSJC não foi propriamente a cura da cegueira física, da surdez física, da paralisia física, mas foi tirar o povo da cegueira, surdez e paralisia social, política, moral! Porque, naquele tempo, o povo estava sendo oprimido, explorado, humilhado tanto pelas elites de Israel (saduceus, fariseus, escribas e governantes corruptos) quanto pelo imperialismo romano. E ainda eram considerados os culpados, pelos sacerdotes, pela decadência da nação israelita por não seguirem os 613 preceitos da Lei. Até hoje as elites dominantes culpam os oprimidos pelas suas próprias mazelas.

Destarte, o trabalhador para suprir as suas necessidades básicas e de sua família, ainda tem que empregar toda a sua família por baixos salários para que todos possam comer e ter um lugar para dormir. Não sobra tempo nem dinheiro para estudo, lazer, esporte; para nada (!), nem para as coisas de Deus! Trabalha para se manter vivo, não muito diferente de uma besta e suas crias que recebem sua porção de milho ou capim para serem mantidas vivas e trabalharem no dia seguinte.

Quando algum trabalhador procura a rede pública de saúde para uma emergência, (pois o pobre só vai ao médico em caso emergência, não existe medicina preventiva para o trabalhador do Brasil) encontra um hospital de péssima qualidade para não cuidar de sua saúde, mas sim acomodá-los no chão dos corredores, isto quando encontra um hospital que os atenda. Muitos trabalhadores morrem sem encontrar um leito hospitalar: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”[10]. No trabalhador continua o sofrimento do Cristo e no Cristo continua o sofrimento do trabalhador: “-Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer”[11].
Os sindicatos que seriam para proteger os trabalhadores, em sua maioria são de pelegos, usando o mesmo para trampolim para uma vida na política. Outra causa do martírio dos trabalhadores são os partidos sem programas definidos, sem ideologia que, em sua maioria, estão apenas preocupados em aumentar sua bancada para que seja aumentado o seu poder de barganha, fazem coligações sem princípios ideológicos, apenas com fins eleitoreiros. A questão da traição das lideranças que refreiam os movimentos autênticos fazendo acordos e iludindo os trabalhadores. Alguns aceitam até negociar direitos adquiridos com muita luta ao longo da história. O cenário político do Brasil é bem conhecido de todos para ocuparmos deste espaço com comentários evidentes.

Enfim, o trabalhador no sistema capitalista perde direito sobre o produto do seu trabalho que é alienado pelo seu patrão que compra a sua força de trabalho e de sua família, aumentando o seu lucro com base nas “mais valia”. Dom Carlos, ousou erguer sua voz e sofreu as consequências, quando afirmava:

As atividades humanas, enquanto dirigidas à produção de meios econômicos chamam-se trabalho. O direito igual ao trabalho é, pois, o primeiro dos direitos econômicos naturais.

E ainda explica:

Não se confunda o direito igual ao trabalho com o direito de escolher o trabalho, o ofício ou a profissão como rezam muitas Constituições; este segundo é irrisório ao passo que o primeiro é propriedade de todo homem, e esta propriedade é a primeira, a mais sagrada e imprescritível de todas[12].

Espoliado do fruto de seu trabalho, o proletário se torna um quase indigente. Aquele que um dia com o seu ofício construiu cidades, máquinas; hoje está reduzido a um simples operador de máquinas em uma linha de montagem: onde estão os carpinteiros, os mecânicos, os pedreiros que aprendiam seu ofício com os seu pais e passavam para seus filhos? Hoje estão limitados a uma linha de produção que outrora “fordista”, muito apreciada pela Alemanha nazista, hoje “toyotista” em que diminui mais ainda a mão de obra do profissional, com o uso indiscriminado mecatrônica, em que reduz a produção a um mínimo, conforme a demanda. Como se a demanda definisse quem tem direito a comer, se abrigar sob um teto, estudar, ter assistência médica, enfim dignidade. O trabalhador é manipulado como se fosse uma peça da engrenagem de uma máquina. Lembremos o ontológico filme do senhor Chaplin “Tempos modernos” que já denunciava a exploração, degeneração e alienação da classe operária. O que lhe custou a expulsão dos EUA.

ESSA SOCIEDADE POR SER CHAMADA DE CRISTÃ?

É comum a sociedade reclamar da violência, mas ninguém se interessa por combatê-la em sua origem. E a raiz deste mal são as próprias contradições do sistema capitalista que se torna cada vez mais excludente, mais opressor, segregacionista, contrariando as leis naturais, pois o homem é um ser social, o que significa laços de fraternidade. Como afirma Aristóteles: “(...) o homem, por natureza, é um animal político [isto é, destinado a viver em sociedade]”[13]. Entenda-se por “político” o termo “cidadão” (pólis = cidade). No capitalismo o homem trai a sua natureza, se tornando competidor, vendo no que seria um igual, apenas um adversário, como se no mundo não houvesse espaço para o próximo. Ironicamente Aristóteles nos diz:

(...) o homem que não consegue viver em sociedade, ou que não necessita viver nela porque basta a si mesmo, não faz parte da Cidade; por conseguinte, deve ser uma besta ou um deus.[14]

Se vivemos em uma sociedade capitalista em que “o homem é o lobo do homem”[15], a violência, as guerras serão uma constante, como acontece nos dias de hoje e sempre aconteceu. Porque neste arremedo de sociedade, tão violenta, em que um ser se levanta contra o outro, para tirá-lo do seu caminho, é como comenta Aristóteles que este tipo de individuo “tem sede de guerra e, como não é freado por nada, assemelha-se a uma ave de rapina”[16]. Exatamente, ave de rapina, pois subtrai, através das “mais valias”, tudo o que o trabalhador tem como direito natural, transformando-o em um ser miserável.

Como disse Dom Carlos:

Foi sempre a má distribuição da riqueza, o motivo das crises econômicas, não sendo permitido às massas tornar parte no banquete da natureza, protelando-se sempre a crise da miséria permanente no mundo.

O Evangelho sempre nos aponta para a “partilha”, “divisão”, “distribuição”, para a “fraternidade”; no entanto o que vemos na nossa sociedade? Sociedade essa de acumulação de bens pelos mais afortunados em detrimentos dos mais pobres. Este abismos entre as classes, enquanto estas existirem, será a causa dos distúrbios que campeiam pelo mundo em todos os níveis: guerras, rebeliões, terrorismo, corrupção, tragédias ambientais; pelo fato do homem está andando na contramão da natureza. E o porquê é a simples ganância, a usura, a ambição, essas filhas malditas do capitalismo que idolatra o lucro, o acúmulo, acima de qualquer outro bem na terra.

Como todos os direitos naturais são iguais, proclamar a função social da propriedade equivale a reconhecer o direito igual de todos os homens, ao uso da terra que é o segundo dos seus direitos econômicos naturais incompatíveis com o direito de propriedade privada sobre a terra.

Desta forma, nosso fundador, São Carlos do Brasil, o padroeiro dos excluídos, leva ao público suas preocupação como o povo pobre, excluído, marginalizado das periferias das grandes cidades, das favelas, dos morros; sem direitos e sem justiça, sem trabalho, sem salário digno, sem moradia, sem assistência médica, sem educação, esporte e lazer. Naquela ocasião propõe uma Igreja Libertadora que lute pela libertação dos povos oprimidos: por “Deus, Terra e Liberdade”. Trabalhadores, lutem!
Hoje ante o venerando túmulo de São Carlos do Brasil, queremos erguer nossa voz, unindo-a a voz das ruas de nossa Nação para numa atitude profética, cristã e coerente apelar para a verdadeira mudança, para uma conversão dos políticos e da própria Política, aos princípios do Evangelho e da Justiça Social. Ouvimos a voz de São Carlos do Brasil hoje como ouvimos na Bíblia: “busquem o Senhor enquanto se pode achar e o invoquem enquanto esta perto.” (Is. 55,6) assim certos que Deus está sempre perto do ser humano e, também pode sempre ser encontrado. E desse encontro com Deus, São Carlos declara como Santo Agostinho com infinita paixão sacerdotal sua infinita fidelidade a Deus através do exercício fiel do seu Episcopado, e seu pensar não foi outro senão esse: “Minha alma, ó Deus, foi feita para ti e não encontrará descanso enquanto não repousar em ti” Nós como Bispos, Sacerdotes e Diáconos, somos chamar a sermos continuadores de sua voz profética, denunciando hoje com o vigor de ontem.

A busca de Deus consumiu toda a existência de nosso Santo Fundador, iniciar o movimento de Libertação religiosa no Brasil não foi fácil, não foi um movimento das massas mas acima de tudo uma necessidade delas. É antes uma empreitada pessoal, não individualista, onde as experiências alheias são apenas referências, nunca definitivas. A razão e o intelecto são mobilizados, mas a busca também não se explica nem se esgota pela lógica da filosofia. E achar a Deus foi achar o irmão e colocar-se a seu lado.

Assim nós também alicerçando nossas bases em Jesus Cristo e seus valores, iremos responder aos clamores das ruas. Que brada por saúde, educação, trabalho digno, o fim da corrupção e a reforma política.

Grita e com razão, até pelos que estão calados: O trabalhador explorado vítima da seca do Nordeste; a criança e o adolescente abandonado; enfim homens e mulheres deste imenso país.
Nossa voz hoje é uma prece e um protesto. Pedimos perdão por todas as vezes que nos calamos quando deveríamos ter sido mais fortes em nos posicionar ao lado dos fracos e oprimidos. Nossa política não é deste mundo, mas a que trazemos, e é a de Cristo, é a única que pode de fato acalmar os corações sofridos e construir um presente no qual se realize tudo aquilo pelo qual nosso povo aspira.

“Em todas as minhas orações, rezo com alegria para todos vós” (Fl 1,4)

Do Rio de Janeiro, ao Brasil em 6 de julho de 2013.

+Josivaldo Pereira de Oliveira
Presidente da ICAB“

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