10 julho 2013, http://www.maurosantayana.com (Brasil)
Mauro
Santayana
(JB) ---Nota-se uma diferença de linguagem
na reação do governo brasileiro à ampla invasão do sistema de comunicações de
nosso país pelos serviços secretos norte-americanos. A presidente Dilma
Rousseff, ainda que ponderada, foi muito mais incisiva do que o chanceler
Antonio Patriota.
O
ministro chegou a elogiar a disposição do Departamento de Estado em nos prestar
esclarecimentos, pelas vias diplomáticas – como se isso fosse uma concessão do
poderoso, e não uma prática da diplomacia clássica. Não se trata de verberar
sua atitude, e menos ainda, de louvá-la, mas, sim, de entendê-la: Patriota tem
notória simpatia pelos Estados Unidos, onde foi embaixador, antes de assumir a
Secretaria-Geral do Itamaraty, e é casado com uma cidadã norte-americana.
A cada
dia nos surpreendemos por novas revelações da intromissão de Washington em
nossos assuntos internos. Poucos países do mundo sofreram ingerência direta dos
ianques tanto quanto o Brasil. Eles souberam controlar os grandes meios de
comunicação no Brasil. E como não conseguem guardar segredos, hoje se sabe que,
no cerco contra Getúlio Vargas e a Petrobrás, em 1954, editoriais violentos dos
grandes diários do Rio foram redigidos na Embaixada dos Estados Unidos, em
inglês, e traduzidos ao português por jornalistas pagos pelos serviços secretos
norte-americanos.
A sua
participação na mal-explicada renúncia de Jânio e no posterior golpe de 1964 é
hoje um fato histórico bem documentado. O homem-chave em seu planejamento e
execução foi o general Vernon Walters, amigo de Castelo Branco, e a mais
enigmática figura dos serviços norte-americanos de inteligência, e que foi
oficial de ligação do V Exército com a FEB, na campanha da Itália. Walters
participou do golpe contra Mossadegh, no Irã, esteve no Vietnã depois do golpe
no Brasil, e, entre outros cargos, foi diretor da CIA e embaixador na Alemanha.
O momento
é delicado, uma vez que a presidente Dilma Rousseff deverá realizar uma visita
de Estado a Washington em outubro próximo. Essa visita era vista – diante
de alentadores sinais do Departamento de Estado – como o início de um novo
relacionamento entre os dois países, com o reconhecimento de nosso direito a
uma diplomacia livre de orientações e de tutela, o que, de alguma forma, já
ocorria, desde o início do governo Lula, em 2003.
Pressionada
por todos os lados, a chefe de Estado está compelida a cumprir o programa, que
não se fará sem natural constrangimento das duas partes. Outros fossem os
tempos, e governantes -como foram Juscelino, Jânio e Itamar - e o Brasil
protelaria, se não cancelasse de vez, a viagem programada para daqui a escassos
três meses.
Apesar da
conjuntura difícil, o Brasil não pode reagir com timidez. Sua postura terá de
ser firme, sem bravatas, mas de forma conseqüente. Um dos passos recomendáveis
seria a denúncia dos acordos de cooperação na área de inteligência do combate
ao narcotráfico – sempre um canal disponível para outros tipos de informação,
entre eles os da vigilância de nossas fronteiras.
Devemos
deixar claro o nosso protesto, com medidas efetivas.
-----------------
RELACIONADAS
Alta traição: 86
deputados federais são favoráveis à espionagem dos EUA contra o Brasil*
Mercosul
& CPLP http://mercosulcplp.blogspot.com.br
14 julho
2013, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
Texto enviado pelo jornalista Sergio Caldieri
http://www.dialogosdosul.org.br/websul/86-deputados-federais-sao-favoraveis-a-espionagem-dos-eua-contra-o-brasil/
Seria
cômico, caso não fosse trágico. Porém é mesmo verdade. Oitenta e seis (86)
deputados federais votaram contra à moção de repúdio à espionagem estadunidense
de cidadãos, empresas e instituições brasileiras, apresentada pelo deputado
José Guimarães (PT). As principais lideranças tucanas** na Câmara se abstiveram
na votação.
Os votos
contrários à moção foram registrados por deputados dos partidos considerados
“de direita”, pertencentes as bancadas evangélica e ruralista como aponta o
mapeamento da votação realizado pela Diálogos do Sul.
Em
números percentuais os partidos que mais favoráveis à continuidade das ações de
espionagem dos Estados Unidos contra o Brasil foram o DEM – 20 dos 23
deputados, o PSD – também 20 dos 32 deputados, o PP – 17 dos 24 deputados e o
PSC – 8 de 10 deputados. Merece registro que 14 deputados do PMDB votaram
contra a moção, o que representa cerca de 20% da bancada do partido na Câmara
dos Deputados.
Finalmente
merece registro que expressivas lideranças do PSDB, tais como Mendes Thame,
Duarte Nogueira, Eduardo Azeredo, Antonio Imbassahi, Jutahi Junior e Nelson
Marchezan Júnior votaram pela abstenção. Tal fato reforça as denúncias de que
desde o Governo FHC empresas e o próprio governo brasileiro colaboram com as
autoridades e práticas imperialistas dos Estados Unidos. Confira abaixo o texto
da
MOÇÃO DE
REPÚDIO
Nós,
parlamentares da Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil,
MANIFESTAMOS:
O nosso
repúdio à espionagem e o monitoramento de bilhões de e-mails, telefonemas e
dados de empresas e cidadãos brasileiros, bem como do governo do Brasil,
supostamente realizados por agências de inteligência dos Estados Unidos da
América, que violam direitos de empresas e cidadãos brasileiros e atentam
contra a soberania nacional.
Ao mesmo
tempo, externamos o nosso apoio às iniciativas do Estado brasileiro, que
pretende levar este grave caso à consideração da Organização das Nações Unidas
(ONU) e da União Internacional das Telecomunicações (UIT).
Declaramos,
ademais, nossa concordância com as iniciativas destinadas a criar uma agência
multilateral, no âmbito do sistema das Nações Unidas, para gerir e regulamentar
a rede mundial de computadores, poderoso instrumento de uso compartilhado da
humanidade.
Por
último, externamos a nossa apreensão com a segurança do cidadão estadunidense
Edward Snowden, que está refugiado, há dias, no aeroporto de Moscou.
Confira
também a lista de parlamentares que são favoráveis à continuidade da espionagem
dos EUA e contra o respeito à privacidade de cidadãos, empresas e instituições
brasileiras.
DEM – 16
votos
Abelardo
Lupion – PR
Alexandre
Leite – SP
Augusto
Coutinho – PE
Claudio
Cajado – BA
Davi
Alcolumbre – AP
Eli
Correa Filho – SP
Jairo
Ataíde – MG
Jorge
Tadeu Mudalen – SP
Júlio
Campos – MT
Luiz de
Deus – BA
Mandetta
– MS
Mendonça
Filho – PE
Onyx
Lorenzoni – RS
Paulo
Cesar Quartiero – RR
Rodrigo
Maia – RJ
Ronaldo
Caiado – GO
Total de
Bancada: 20
PMDB – 12
votos
Aníbal
Gomes – CE Obstrução
Darcísio
Perondi – RS
Edio
Lopes – RR
Fernando
Jordão – RJ
Lucio
Vieira Lima – BA
Marçal
Filho – MS
Marcelo
Almeida – PR
Mauro
Mariani – SC
Osmar
Terra – RS
Silas
Brasileiro – MG
Valdir
Colatto – SC
Wladimir
Costa – PA
Total da
Bancada: 64
PMN – 3
votos
Francisco
Tenório – AL
Jaqueline
Roriz – DF
Total da
Bancada: 3
PP – 17
votos
Arthur
Lira – AL
Dilceu
Sperafico – PR
Esperidião
Amin – SC
Iracema
Portella – PI
Jair
Bolsonaro – RJ
Jerônimo
Goergen – RS
Lázaro
Botelho – TO
Luis
Carlos Heinze – RS
Luiz
Fernando Faria – MG
Missionário
José Olimpio – SP
Renato
Andrade – MG
Renzo
Braz – MG
Roberto
Balestra – GO
Roberto
Britto – BA
Roberto
Teixeira – PE
Sandes Júnior – GO
Vilson Covatti – RS
Total da
Bancada: 24
PR – 5
votos e 1 abstenção
Bernardo
Santana de Vasconcellos – MG
Henrique
Oliveira – AM
Maurício
Quintella Lessa – AL
Paulo
Freire – SP
Vicente
Arruda – CE Abstenção
Total da
Bancada: 24
PRP – 1
voto
Jânio
Natal – BA
Total da
Bancada: 2
PSB – 2
votos e 1 abstenção
Fernando
Coelho Filho – PE Abstenção
Júlio
Delgado – MG
Paulo
Foletto – ES
Total da
Bancada: 21
PSC – 8
votos
Andre
Moura – SE
Costa
Ferreira – MA
Deley –
RJ
Lauriete
– ES
Nelson
Padovani – PR
Pastor
Marco Feliciano – SP
Takayama
– PR
Zequinha
Marinho – PA
Total da
Bancada: 10
PSD – 20
votos
Ademir
Camilo – MG
Arolde de
Oliveira – RJ
Átila
Lins – AM
Carlos
Souza – AM
César
Halum – TO
Danrlei
De Deus Hinterholz – RS
Eduardo
Sciarra – PR
Eleuses
Paiva – SP
Fernando
Torres – BA
Guilherme
Campos – SP
Hélio
Santos – MA
Hugo
Napoleão – PI
Jefferson
Campos – SP
João Lyra
– AL
José
Carlos Araújo – BA
Júlio
Cesar – PI
Manoel
Salviano – CE
Onofre
Santo Agostini – SC
Sergio
Zveiter – RJ
Walter
Ihoshi – SP
Total da
Bancada: 32
PSDB – 2
votos e 10 abstenções
Alfredo
Kaefer – PR
Andreia
Zito – RJ
Antonio
Carlos Mendes Thame – SP Abstenção
Antonio
Imbassahy – BA Abstenção
Duarte
Nogueira – SP Abstenção
Eduardo
Azeredo – MG Abstenção
Jutahy
Junior – BA Abstenção
Nelson
Marchezan Junior – RS Abstenção
Nilson
Leitão – MT Abstenção
Plínio
Valério – AM
Reinaldo
Azambuja – MS
Vaz de
Lima – SP Abstenção
William
Dib – SP Abstenção
Total da
bancada: 39
PTB – 2
votos
Arnaldo
Faria de Sá – SP
Sérgio
Moraes – RS
Total da
Bancada: 13
*Título de Mercosul & CPLP. No original: 86
deputados federais são favoráveis à espionagem dos EUA contra o Brasil
**Tucano: Ave latino-americana que figura no
logotipo do partido direitista PSDB. (Nota
de Mercosul & CPLP)
----------------------
Brasil/AMORIM: POLÍTICA EXTERNA ALTIVA E ATIVA CONTRA VISÃO DOMESTICADA
Mercosul
& CPLP http://mercosulcplp.blogspot.com.br
17 julho 2013, Vermelho
http://www.vermelho.org.br (Brasil)
Celso
Amorim: “Afirmamos uma política externa altiva e ativa contra a visão
domesticada”
Em artigo, o jornalista Leonardo Severo, da equipe ComunicaSul, escreve sobre a fala do ministro da Defesa e ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, na noite desta terça-feira (16), na Conferência Nacional "2003-2013: Uma Nova Política Externa", realizada pelo Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GRRI) e pela Universidade Federal do ABC.
Leia a seguir o artigo do jornalista.
Para o ministro da Defesa e ex-ministro das Relações Exteriores, o Brasil
começou a exercer protagonismo na construção de uma nova ordem mundial.
“Uma política externa altiva e ativa. Foram essas palavras que me ocorreram depois de ter a confirmação do presidente Lula da minha indicação como ministro das Relações Exteriores. Foram palavras para definir uma diferença de atitude, da consciência do povo brasileiro de mudar o seu destino”.
Com esta avaliação o atual ministro da Defesa, Celso Amorim, abriu sua conferência “Início de uma Política Externa Altiva e Ativa”, terça-feira à noite, na Universidade Federal do ABC. Diante das centenas de participantes que tomaram o recém-inaugurado auditório San Tiago Dantas, o ministro pontuou o significado da política externa que começava a ser descortinada em 2003: “Altiva porque não deveríamos nos submeter aos ditames de outras potências, ainda que mais poderosas, pois tínhamos condições de defender os nossos pontos de vista.
Ativa como refutação de uma concepção anterior que costumava dizer que o Brasil não podia ter papel protagônico para não desencadear algum tipo de retaliação”. Foi em contraposição a essa “visão domesticada da política externa”, frisou, que o governo Lula começou a “reagir e influenciar a agenda internacional”. Acima de tudo, “o Brasil queria contribuir – como contribuiu - para uma nova ordem mundial”.
Entre as inúmeras atuações certeiras do período, Amorim recordou a luta contra o locaute petroleiro na Venezuela - com o qual a oposição de direita queria depor o presidente Hugo Chávez e retroceder os avanços econômicos e sociais do país bolivariano – e o projeto imperialista da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), com o qual os Estados Unidos planejava impor sua hegemonia em inúmeros setores, “como o de serviços, investimentos e propriedade intelectual”. “Com diplomacia, conseguimos impedir o retrocesso”, declarou.
Amorim lembrou da “imensa pressão da mídia” contra os interesses nacionais e seu alinhamento à pauta neoliberal, bastante vinculada às pretensões hegemônicas dos EUA. Além disso, recordou da firme oposição brasileira à guerra do Iraque, da solidariedade à Palestina, e de como o governo Lula bloqueou o acordo na Organização Mundial do Comércio, “que seria extremamente prejudicial aos nossos interesses”. “Na OMC, colocamos o pé na porta e ela não pôde ser fechada na nossa cara”, contou orgulhoso.
Defesa da Nação
“Nós vivemos num mundo de Estados-nação e ataques, dos mais variados, continuarão a ocorrer”, alertou, frisando que a melhor maneira do país garantir a sua independência e manter a paz é estar preparado para a guerra. “E estar capacitados a defender nossas estruturas críticas significa fazer pesados investimentos em ciência e tecnologia nacional”, acrescentou o ministro, citando a recente espionagem cibernética feita pelo governo dos Estados Unidos e denunciada pelo ex-agente da CIA, Edward Snowden.
Amorim destacou também o papel das parcerias regionais com a Argentina - no caso do projeto do novo avião cargueiro, que substituirá o Hércules -, e do navio patrulha, com a Colômbia e o Peru.
“Em nosso país temos recursos altamente cobiçados e cada vez mais escassos como alimentos, energia e água. Precisamos estar preparados para nos defender. Não com as armas dos séculos 19 e 20, mas com as armas e escudos do século 21. Este é um longo caminho que precisará ser percorrido”, concluiu Amorim, sob extensos aplausos.
“Uma política externa altiva e ativa. Foram essas palavras que me ocorreram depois de ter a confirmação do presidente Lula da minha indicação como ministro das Relações Exteriores. Foram palavras para definir uma diferença de atitude, da consciência do povo brasileiro de mudar o seu destino”.
Com esta avaliação o atual ministro da Defesa, Celso Amorim, abriu sua conferência “Início de uma Política Externa Altiva e Ativa”, terça-feira à noite, na Universidade Federal do ABC. Diante das centenas de participantes que tomaram o recém-inaugurado auditório San Tiago Dantas, o ministro pontuou o significado da política externa que começava a ser descortinada em 2003: “Altiva porque não deveríamos nos submeter aos ditames de outras potências, ainda que mais poderosas, pois tínhamos condições de defender os nossos pontos de vista.
Ativa como refutação de uma concepção anterior que costumava dizer que o Brasil não podia ter papel protagônico para não desencadear algum tipo de retaliação”. Foi em contraposição a essa “visão domesticada da política externa”, frisou, que o governo Lula começou a “reagir e influenciar a agenda internacional”. Acima de tudo, “o Brasil queria contribuir – como contribuiu - para uma nova ordem mundial”.
Entre as inúmeras atuações certeiras do período, Amorim recordou a luta contra o locaute petroleiro na Venezuela - com o qual a oposição de direita queria depor o presidente Hugo Chávez e retroceder os avanços econômicos e sociais do país bolivariano – e o projeto imperialista da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), com o qual os Estados Unidos planejava impor sua hegemonia em inúmeros setores, “como o de serviços, investimentos e propriedade intelectual”. “Com diplomacia, conseguimos impedir o retrocesso”, declarou.
Amorim lembrou da “imensa pressão da mídia” contra os interesses nacionais e seu alinhamento à pauta neoliberal, bastante vinculada às pretensões hegemônicas dos EUA. Além disso, recordou da firme oposição brasileira à guerra do Iraque, da solidariedade à Palestina, e de como o governo Lula bloqueou o acordo na Organização Mundial do Comércio, “que seria extremamente prejudicial aos nossos interesses”. “Na OMC, colocamos o pé na porta e ela não pôde ser fechada na nossa cara”, contou orgulhoso.
Defesa da Nação
“Nós vivemos num mundo de Estados-nação e ataques, dos mais variados, continuarão a ocorrer”, alertou, frisando que a melhor maneira do país garantir a sua independência e manter a paz é estar preparado para a guerra. “E estar capacitados a defender nossas estruturas críticas significa fazer pesados investimentos em ciência e tecnologia nacional”, acrescentou o ministro, citando a recente espionagem cibernética feita pelo governo dos Estados Unidos e denunciada pelo ex-agente da CIA, Edward Snowden.
Amorim destacou também o papel das parcerias regionais com a Argentina - no caso do projeto do novo avião cargueiro, que substituirá o Hércules -, e do navio patrulha, com a Colômbia e o Peru.
“Em nosso país temos recursos altamente cobiçados e cada vez mais escassos como alimentos, energia e água. Precisamos estar preparados para nos defender. Não com as armas dos séculos 19 e 20, mas com as armas e escudos do século 21. Este é um longo caminho que precisará ser percorrido”, concluiu Amorim, sob extensos aplausos.
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