sexta-feira, 19 de julho de 2013

Brasil/A INSOLÊNCIA AMERICANA


10 julho 2013, http://www.maurosantayana.com (Brasil)

Mauro Santayana

(JB) ---Nota-se uma diferença de linguagem na reação do governo brasileiro à ampla invasão do sistema de comunicações de nosso país pelos serviços secretos norte-americanos. A presidente Dilma Rousseff, ainda que ponderada, foi muito mais incisiva do que o chanceler Antonio Patriota.

O ministro chegou a elogiar a disposição do Departamento de Estado em nos prestar esclarecimentos, pelas vias diplomáticas – como se isso fosse uma concessão do poderoso, e não uma prática da diplomacia clássica. Não se trata de verberar sua atitude, e menos ainda, de louvá-la, mas, sim, de entendê-la: Patriota tem notória simpatia pelos Estados Unidos, onde foi embaixador, antes de assumir a Secretaria-Geral do Itamaraty, e é casado com uma cidadã norte-americana.

A cada dia nos surpreendemos por novas revelações da intromissão de Washington em nossos assuntos internos. Poucos países do mundo sofreram ingerência direta dos ianques tanto quanto o Brasil. Eles souberam controlar os grandes meios de comunicação no Brasil. E como não conseguem guardar segredos, hoje se sabe que, no cerco contra Getúlio Vargas e a Petrobrás, em 1954, editoriais violentos dos grandes diários do Rio foram redigidos na Embaixada dos Estados Unidos, em inglês, e traduzidos ao português por jornalistas pagos pelos serviços secretos norte-americanos.

A sua participação na mal-explicada renúncia de Jânio e no posterior golpe de 1964 é hoje um fato histórico bem documentado. O homem-chave em seu planejamento e execução foi o general Vernon Walters, amigo de Castelo Branco, e a mais enigmática figura dos serviços norte-americanos de inteligência, e que foi oficial de ligação do V Exército com a FEB, na campanha da Itália. Walters participou do golpe contra Mossadegh, no Irã, esteve no Vietnã depois do golpe no Brasil, e, entre outros cargos, foi diretor da CIA e embaixador na Alemanha.

O momento é delicado, uma vez que a presidente Dilma Rousseff deverá realizar uma visita de Estado a Washington em outubro próximo. Essa visita era vista – diante de alentadores sinais do Departamento de Estado – como o início de um novo relacionamento entre os dois países, com o reconhecimento de nosso direito a uma diplomacia livre de orientações e de tutela, o que, de alguma forma, já ocorria, desde o início do governo Lula, em 2003.

Pressionada por todos os lados, a chefe de Estado está compelida a cumprir o programa, que não se fará sem natural constrangimento das duas partes. Outros fossem os tempos, e governantes -como foram Juscelino, Jânio e Itamar - e o Brasil protelaria, se não cancelasse de vez, a viagem programada para daqui a escassos três meses.   

Apesar da conjuntura difícil, o Brasil não pode reagir com timidez. Sua postura terá de ser firme, sem bravatas, mas de forma conseqüente. Um dos passos recomendáveis seria a denúncia dos acordos de cooperação na área de inteligência do combate ao narcotráfico – sempre um canal disponível para outros tipos de informação, entre eles os da vigilância de nossas fronteiras.

Devemos deixar claro o nosso protesto, com medidas efetivas.


----------------- RELACIONADAS

Alta traição: 86 deputados federais são favoráveis à espionagem dos EUA contra o Brasil*
Mercosul & CPLP http://mercosulcplp.blogspot.com.br
14 julho 2013, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)

Texto enviado pelo jornalista Sergio Caldieri 
http://www.dialogosdosul.org.br/websul/86-deputados-federais-sao-favoraveis-a-espionagem-dos-eua-contra-o-brasil/

Seria cômico, caso não fosse trágico. Porém é mesmo verdade. Oitenta e seis (86) deputados federais votaram contra à moção de repúdio à espionagem estadunidense de cidadãos, empresas e instituições brasileiras, apresentada pelo deputado José Guimarães (PT). As principais lideranças tucanas** na Câmara se abstiveram na votação.

Os votos contrários à moção foram registrados por deputados dos partidos considerados “de direita”, pertencentes as bancadas evangélica e ruralista como aponta o mapeamento da votação realizado pela Diálogos do Sul.

Em números percentuais os partidos que mais favoráveis à continuidade das ações de espionagem dos Estados Unidos contra o Brasil foram o DEM – 20 dos 23 deputados, o PSD – também 20 dos 32 deputados, o PP – 17 dos 24 deputados e o PSC – 8 de 10 deputados. Merece registro que 14 deputados do PMDB votaram contra a moção, o que representa cerca de 20% da bancada do partido na Câmara dos Deputados.

Finalmente merece registro que expressivas lideranças do PSDB, tais como Mendes Thame, Duarte Nogueira, Eduardo Azeredo, Antonio Imbassahi, Jutahi Junior e Nelson Marchezan Júnior votaram pela abstenção. Tal fato reforça as denúncias de que desde o Governo FHC empresas e o próprio governo brasileiro colaboram com as autoridades e práticas imperialistas dos Estados Unidos. Confira abaixo o texto da

MOÇÃO DE REPÚDIO

Nós, parlamentares da Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil, MANIFESTAMOS:
O nosso repúdio à espionagem e o monitoramento de bilhões de e-mails, telefonemas e dados de empresas e cidadãos brasileiros, bem como do governo do Brasil, supostamente realizados por agências de inteligência dos Estados Unidos da América, que violam direitos de empresas e cidadãos brasileiros e atentam contra a soberania nacional.

Ao mesmo tempo, externamos o nosso apoio às iniciativas do Estado brasileiro, que pretende levar este grave caso à consideração da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Internacional das Telecomunicações (UIT).

Declaramos, ademais, nossa concordância com as iniciativas destinadas a criar uma agência multilateral, no âmbito do sistema das Nações Unidas, para gerir e regulamentar a rede mundial de computadores, poderoso instrumento de uso compartilhado da humanidade.

Por último, externamos a nossa apreensão com a segurança do cidadão estadunidense Edward Snowden, que está refugiado, há dias, no aeroporto de Moscou.
Confira também a lista de parlamentares que são favoráveis à continuidade da espionagem dos EUA e contra o respeito à privacidade de cidadãos, empresas e instituições brasileiras.

DEM – 16 votos
Abelardo Lupion – PR
Alexandre Leite – SP
Augusto Coutinho – PE
Claudio Cajado – BA
Davi Alcolumbre – AP
Eli Correa Filho – SP
Jairo Ataíde – MG
Jorge Tadeu Mudalen – SP
Júlio Campos – MT
Luiz de Deus – BA
Mandetta – MS
Mendonça Filho – PE
Onyx Lorenzoni – RS
Paulo Cesar Quartiero – RR
Rodrigo Maia – RJ
Ronaldo Caiado – GO
Total de Bancada: 20

PMDB – 12 votos
Aníbal Gomes – CE Obstrução
Darcísio Perondi – RS
Edio Lopes – RR
Fernando Jordão – RJ
Lucio Vieira Lima – BA
Marçal Filho – MS
Marcelo Almeida – PR
Mauro Mariani – SC
Osmar Terra – RS
Silas Brasileiro – MG
Valdir Colatto – SC
Wladimir Costa – PA
Total da Bancada: 64

PMN – 3 votos
Francisco Tenório – AL
Jaqueline Roriz – DF
Total da Bancada: 3

PP – 17 votos
Arthur Lira – AL
Dilceu Sperafico – PR
Esperidião Amin – SC
Iracema Portella – PI
Jair Bolsonaro – RJ
Jerônimo Goergen – RS
Lázaro Botelho – TO
Luis Carlos Heinze – RS
Luiz Fernando Faria – MG
Missionário José Olimpio – SP
Renato Andrade – MG
Renzo Braz – MG
Roberto Balestra – GO
Roberto Britto – BA
Roberto Teixeira – PE
Sandes Júnior – GO
Vilson Covatti – RS
Total da Bancada: 24

PR – 5 votos e 1 abstenção
Bernardo Santana de Vasconcellos – MG
Henrique Oliveira – AM
Maurício Quintella Lessa – AL
Paulo Freire – SP
Vicente Arruda – CE Abstenção
Total da Bancada: 24

PRP – 1 voto
Jânio Natal – BA
Total da Bancada: 2

PSB – 2 votos e 1 abstenção
Fernando Coelho Filho – PE Abstenção
Júlio Delgado – MG
Paulo Foletto – ES
Total da Bancada: 21

PSC – 8 votos
Andre Moura – SE
Costa Ferreira – MA
Deley – RJ
Lauriete – ES
Nelson Padovani – PR
Pastor Marco Feliciano – SP
Takayama – PR
Zequinha Marinho – PA
Total da Bancada: 10

PSD – 20 votos
Ademir Camilo – MG
Arolde de Oliveira – RJ
Átila Lins – AM
Carlos Souza – AM
César Halum – TO
Danrlei De Deus Hinterholz – RS
Eduardo Sciarra – PR
Eleuses Paiva – SP
Fernando Torres – BA
Guilherme Campos – SP
Hélio Santos – MA
Hugo Napoleão – PI
Jefferson Campos – SP
João Lyra – AL
José Carlos Araújo – BA
Júlio Cesar – PI
Manoel Salviano – CE
Onofre Santo Agostini – SC
Sergio Zveiter – RJ
Walter Ihoshi – SP
Total da Bancada: 32

PSDB – 2 votos e 10 abstenções
Alfredo Kaefer – PR
Andreia Zito – RJ
Antonio Carlos Mendes Thame – SP Abstenção
Antonio Imbassahy – BA Abstenção
Duarte Nogueira – SP Abstenção
Eduardo Azeredo – MG Abstenção
Jutahy Junior – BA Abstenção
Nelson Marchezan Junior – RS Abstenção
Nilson Leitão – MT Abstenção
Plínio Valério – AM
Reinaldo Azambuja – MS
Vaz de Lima – SP Abstenção
William Dib – SP Abstenção
Total da bancada: 39

PTB – 2 votos
Arnaldo Faria de Sá – SP
Sérgio Moraes – RS
Total da Bancada: 13

*Título de Mercosul & CPLP. No original: 86 deputados federais são favoráveis à espionagem dos EUA contra o Brasil

**Tucano: Ave latino-americana que figura no logotipo do partido direitista PSDB. (Nota de Mercosul & CPLP)

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Brasil/AMORIM: POLÍTICA EXTERNA ALTIVA E ATIVA CONTRA VISÃO DOMESTICADA

Mercosul & CPLP http://mercosulcplp.blogspot.com.br
17 julho 2013, Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)



Celso Amorim: “Afirmamos uma política externa altiva e ativa contra a visão domesticada”

Em artigo, o jornalista Leonardo Severo, da equipe ComunicaSul, escreve sobre a fala do ministro da Defesa e ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, na noite desta terça-feira (16), na Conferência Nacional "2003-2013: Uma Nova Política Externa", realizada pelo Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GRRI) e pela Universidade Federal do ABC. 

Leia a seguir o artigo do jornalista.

Para o ministro da Defesa e ex-ministro das Relações Exteriores, o Brasil começou a exercer protagonismo na construção de uma nova ordem mundial.

“Uma política externa altiva e ativa. Foram essas palavras que me ocorreram depois de ter a confirmação do presidente Lula da minha indicação como ministro das Relações Exteriores. Foram palavras para definir uma diferença de atitude, da consciência do povo brasileiro de mudar o seu destino”.

Com esta avaliação o atual ministro da Defesa, Celso Amorim, abriu sua conferência “Início de uma Política Externa Altiva e Ativa”, terça-feira à noite, na Universidade Federal do ABC. Diante das centenas de participantes que tomaram o recém-inaugurado auditório San Tiago Dantas, o ministro pontuou o significado da política externa que começava a ser descortinada em 2003: “Altiva porque não deveríamos nos submeter aos ditames de outras potências, ainda que mais poderosas, pois tínhamos condições de defender os nossos pontos de vista.

Ativa como refutação de uma concepção anterior que costumava dizer que o Brasil não podia ter papel protagônico para não desencadear algum tipo de retaliação”. Foi em contraposição a essa “visão domesticada da política externa”, frisou, que o governo Lula começou a “reagir e influenciar a agenda internacional”. Acima de tudo, “o Brasil queria contribuir – como contribuiu - para uma nova ordem mundial”.

Entre as inúmeras atuações certeiras do período, Amorim recordou a luta contra o locaute petroleiro na Venezuela - com o qual a oposição de direita queria depor o presidente Hugo Chávez e retroceder os avanços econômicos e sociais do país bolivariano – e o projeto imperialista da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), com o qual os Estados Unidos planejava impor sua hegemonia em inúmeros setores, “como o de serviços, investimentos e propriedade intelectual”. “Com diplomacia, conseguimos impedir o retrocesso”, declarou.

Amorim lembrou da “imensa pressão da mídia” contra os interesses nacionais e seu alinhamento à pauta neoliberal, bastante vinculada às pretensões hegemônicas dos EUA. Além disso, recordou da firme oposição brasileira à guerra do Iraque, da solidariedade à Palestina, e de como o governo Lula bloqueou o acordo na Organização Mundial do Comércio, “que seria extremamente prejudicial aos nossos interesses”. “Na OMC, colocamos o pé na porta e ela não pôde ser fechada na nossa cara”, contou orgulhoso.

Defesa da Nação
“Nós vivemos num mundo de Estados-nação e ataques, dos mais variados, continuarão a ocorrer”, alertou, frisando que a melhor maneira do país garantir a sua independência e manter a paz é estar preparado para a guerra. “E estar capacitados a defender nossas estruturas críticas significa fazer pesados investimentos em ciência e tecnologia nacional”, acrescentou o ministro, citando a recente espionagem cibernética feita pelo governo dos Estados Unidos e denunciada pelo ex-agente da CIA, Edward Snowden.

Amorim destacou também o papel das parcerias regionais com a Argentina - no caso do projeto do novo avião cargueiro, que substituirá o Hércules -, e do navio patrulha, com a Colômbia e o Peru.

“Em nosso país temos recursos altamente cobiçados e cada vez mais escassos como alimentos, energia e água. Precisamos estar preparados para nos defender. Não com as armas dos séculos 19 e 20, mas com as armas e escudos do século 21. Este é um longo caminho que precisará ser percorrido”, concluiu Amorim, sob extensos aplausos.

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