22 julho 2013, Blog do
Planalto http://blog.planalto.gov.br (Brasil)
Nota:
Mercosul
& CPLP incluiu nesta matéria o discurso do papa Francisco mencionado pela presidenta Dilma na saudação
ao visitante. O documento, com data de 16 de maio deste ano, tem por título “Discurso do papa Francisco aos novos
embaixadores do Quirguistão, Antígua e Barbados, Grão-Ducado do Luxemburgo e Botswana
por ocasião da apresentação das cartas credenciais”.
DISCURSO DA PRESIDENTA DA REPÚBLICA, DILMA ROUSSEFF, DURANTE CERIMÔNIA OFICIAL DE CHEGADA DE SUA SANTIDADE O PAPA FRANCISCO
Rio de Janeiro-RJ, 22 de julho
de 2013
Sua Santidade Papa Francisco,
Senhoras e senhores,
Com grande alegria, Papa Francisco,
dou-lhe as boas-vindas ao Rio de Janeiro e ao Brasil. É uma honra para o povo
brasileiro recebê-lo. Honra redobrada, em se tratando do primeiro Papa
latino-americano.
Sua Santidade,
O Brasil e seus mais de 50 milhões
de jovens acolhem, de braços abertos, os peregrinos de dezenas de países que
vieram para esta grande celebração que é a Jornada Mundial da Juventude.
Saúdo, em particular, o governo do
estado do Rio de Janeiro, a prefeitura do Rio de Janeiro e a Arquidiocese do
Rio de Janeiro, a quem agradeço os esforços dedicados que tornaram possível
esse grande evento.
A presença de Sua Santidade no
Brasil nos oferece a oportunidade de renovar o diálogo com a Santa Sé em prol
de valores que compartilhamos: a justiça social, a solidariedade, os direitos
humanos e a paz entre as nações. Conhecemos o compromisso de Sua Santidade com
esses valores. Por seu sacerdócio entre os mais pobres, que se reflete até
mesmo no próprio nome escolhido como Papa, uma homenagem a São Francisco de
Assis, sabemos que temos, diante de nós, um líder religioso sensível aos
anseios de nossos povos por justiça social, por oportunidade para todos e
dignidade cidadã.
Lutamos contra um inimigo comum: a
desigualdade, em todas as suas formas. Essa convergência orienta o diálogo do
Estado brasileiro com todas as religiões, um diálogo marcado pelo respeito à
liberdade de crenças e de culto e pela convivência com a diferença. Não poderia
ser distinto em um país que acolheu e acolhe todas as culturas e todas as
religiões.
Em seu discurso de 16 de maio,
Vossa Santidade manifestou preocupação com as desigualdades agravadas pela
crise financeira e o papel nocivo das ideologias que defendem o enfraquecimento
do Estado, reduzindo sua capacidade de prover serviços públicos de qualidade
para todos. Manifestou sua preocupação com a globalização da indiferença, que
deixa as pessoas insensíveis ao sofrimento do próximo.
Compartilhamos e nos juntamos a
essa posição. Estratégias de superação da crise econômica, centradas só na
austeridade, sem a devida atenção aos enormes custos sociais que ela acarreta,
golpeiam os mais pobres e os jovens, que são pelo mundo afora as principais
vítimas do desemprego. Geram xenofobia, violência e desrespeito pelo outro.
O
Brasil muito se orgulha de ter alcançado extraordinários resultados nos últimos
dez anos na redução da pobreza, na superação da miséria e na garantia da
segurança alimentar à nossa população.
Fizemos muito, e sabemos que ainda
há muito o que ser feito. Nesse processo, temos contado com a profícua parceria
com a Igreja. As pastorais católicas, por exemplo, tem sido importantes
parceiras do governo brasileiro na atenção aos segmentos mais vulneráveis de
nossa população, como também na promoção da defesa dos direitos das nossas
crianças e adolescentes, na defesa dos direitos das pessoas que vivem nas ruas,
na garantia da dignidade dos direitos nos presídios.
Temos buscado apoiar a disseminação
das experiências brasileiras em outros países. Agora mesmo, estamos engajados
no apoio à adoção de tecnologias sociais para melhorar a capacidade produtiva
entre pequenos agricultores na África, e para criar canais de comercialização
que lhes permitam obter resultados econômicos mais justos e adequados,
inclusive por meio do fornecimento de alimentação escolar. Apoiamos também a
difusão de programas de transferência de renda, do tipo do Bolsa Família, em
vários países da África e da América Latina.
Acreditamos que o apoio da Igreja,
apoiando esses processos, pode transformar iniciativas ainda pontuais em iniciativas
globais, em iniciativas efetivas para garantir a segurança alimentar e combater
a pobreza e a fome no mundo. Sabemos que a fome e a sede de justiça têm pressa.
A crise econômica que desemprega e
retira oportunidade de milhões pelo mundo afora nos obriga a um novo senso de
urgência para combater a desigualdade. A participação de Vossa Santidade, um
homem que veio do povo latino-americano, que veio da nossa irmã vizinha
Argentina, agregaria mais condições para criar uma ampla aliança global de combate
à fome e à pobreza, uma aliança de solidariedade, uma aliança de cooperação e
humanitarismo, disseminando as boas experiências, entre outras, aquelas obtidas
aqui no Brasil.
Santidade,
Nós, brasileiros, somos mulheres e
homens de fé. A fé é parte indelével do espírito brasileiro. Falo da fé
religiosa e falo também da crença que cada um de nós, brasileiras e
brasileiros, temos quanto a nossa capacidade de melhorar nossa vida, a crença
que o amanhã pode ser melhor que hoje. Essa crença que nós mesmos e em nós
mesmos e no outro é um dos traços marcantes do povo do meu país.
Sabemos que podemos encarar novos
desafios e tornar nossa realidade cada vez melhor. Esse foi o sentimento que
moveu, por exemplo, nas últimas semanas, centenas de milhares de jovens a irem
às ruas. Democracia, como sabe Vossa Santidade, gera desejo de mais democracia,
e inclusão social provoca cobrança de mais inclusão social, qualidade de vida
desperta anseio por mais qualidade de vida.
Para nós, todos os avanços que nós
conquistamos são só um começo. Nossa estratégia de desenvolvimento sempre vai
exigir mais, tal como querem todos os brasileiros e todas as brasileiras.
Exigem de nós aceleração e aprofundamento das mudanças que iniciamos há dez
anos.
A juventude brasileira tem sido
protagonista nesse processo e clama por mais direitos sociais: mais educação,
melhor saúde, mobilidade urbana, segurança, qualidade de vida na cidade e no
campo, o respeito ao meio ambiente. Os jovens exigem respeito, ética e
transparência. Querem que a política atenda aos seus interesses, aos interesses
da população e não seja território dos privilégios e das regalias. Desejam
participar da construção de soluções para os problemas que os afetam.
Os jovens querem viver plenamente.
Estão cansados da violência que muitas vezes os tornam as principais vítimas.
Querem dar um basta a toda forma de discriminação e ver valorizadas sua
diversidade, suas expressões culturais. Tal como em várias partes do mundo, a
juventude brasileira está engajada na luta legítima por uma nova sociedade.
E esse é um momento muito especial
para realização dessa Jornada Mundial da Juventude. Potencializa o que os
jovens têm de mais valioso e revigorante, e isso nós estamos vendo aqui nas
ruas do Rio de Janeiro: a alegria, o otimismo, a fraternidade, a coragem e
valores cristãos.
É oportunidade para discutir e
buscar todos os novos valores para renovar as esperanças por um mundo melhor.
Estou certa que essa celebração da juventude durará muito mais que os seis dias
da programação oficial e perdurará no coração de todos os que dela
participarem.
Seja bem-vindo ao Brasil, Papa
Francisco. Sejam bem-vindos jovens de todo o mundo. Sintam-se em casa nesta
cidade maravilhosa que é o Rio de Janeiro e em todo o Brasil, e levem daqui
como melhor lembrança o carinho do nosso povo. Muito obrigada!
Ouça a íntegra (11min10s) do discurso
da Presidenta Dilma
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Brasil/VEJA ÍNTEGRA DO DISCURSO DO PAPA FRANCISCO NO 1º DIA DE VISITA AO BRASIL
22 julho 2013, G1 http://g1.globo.com
(Brasil)
Papa foi
recebido pela presidente Dilma Rousseff no Aeroporto do Galeão.
Milhares acompanharam trajeto do papamóvel no Centro do Rio de Janeiro.
O Papa Francisco chegou ao Brasil
às 15h43 desta segunda-feira (22) para presidir a Jornada Mundial da Juventude (JMJ)
e saudou os jovens em seu primeiro discurso, no Rio de Janeiro. "Cristo
bota fé nos jovens", afirmou o pontífice argentino, que faz sua primeira
viagem internacional desde que foi escolhido sucessor de Bento XVI. O Papa fica
no país até domingo (28) e ainda visitará a cidade de Aparecida (SP), nesta
quarta.
Leia a íntegra do discurso a
seguir:
"Senhora Presidenta, Ilustres
Autoridades, Irmãos e amigos!
Quis Deus na sua amorosa
providência que a primeira viagem internacional do meu Pontificado me consentisse
voltar à amada América Latina, precisamente ao Brasil,
nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos
sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor de
Pedro. Dou graças a Deus pela sua benignidade.
Aprendi que para ter acesso ao Povo
Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso
permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta.
Peço licença para entrar e
transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de
mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para alimentar a
chama de amor fraterno que arde em cada coração; e desejo que chegue a todos e
a cada um a minha saudação: “A paz de Cristo esteja com vocês!”
Saúdo com deferência a senhora
presidenta e os ilustres membros do seu governo. Obrigado pelo seu generoso
acolhimento e por suas palavras que externaram a alegria dos brasileiros pela
minha presença em sua Pátria. Cumprimento também o senhor governador deste
Estado, que amavelmente nos recebe na sede do governo, e o senhor prefeito do
Rio de Janeiro, bem como os Membros do Corpo Diplomático acreditado junto ao
governo brasileiro, as demais autoridades presentes e todos quantos se
prodigalizaram para tornar realidade esta minha visita.
Quero dirigir uma palavra de afeto
aos meus irmãos no Episcopado, sobre quem pousa a tarefa de guiar o Rebanho de
Deus neste imenso País, e às suas amadas igrejas particulares. Esta minha
visita outra coisa não quer senão continuar a missão pastoral própria do Bispo
de Roma de confirmar os seus irmãos na Fé em Cristo, de animá-los a testemunhar
as razões da Esperança que d’Ele vem e de incentivá-los a oferecer a todos as
inesgotáveis riquezas do seu Amor.
O motivo principal da minha
presença no Brasil, como é sabido, transcende as suas fronteiras. Vim para a
Jornada Mundial da Juventude. Vim para encontrar os jovens que vieram de todo o
mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Eles querem
agasalhar-se no seu abraço para, junto de seu Coração, ouvir de novo o seu
potente e claro chamado: "Ide e fazei discípulos entre todas as
nações".
Estes jovens provêm dos diversos
continentes, falam línguas diferentes, são portadores de variadas culturas e,
todavia, em Cristo encontram as respostas para suas mais altas e comuns
aspirações e podem saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico que os
irmanem para além de toda diversidade.
Cristo abre espaço para eles, pois
sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do
coração dos jovens quando conquistados pela experiência da sua amizade. Cristo
“bota fé” nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa: “Ide, fazei
discípulos”. Ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem
um mundo de irmãos. Também os jovens “botam fé” em Cristo. Eles não têm medo de
arriscar a única vida que possuem porque sabem que não serão desiludidos.
Ao iniciar esta minha visita ao
Brasil, tenho consciência de que, ao dirigir-me aos jovens, falarei às suas
famílias, às suas comunidades eclesiais e nacionais de origem, às sociedades
nas quais estão inseridos, aos homens e às mulheres dos quais, em grande
medida, depende o futuro destas novas gerações.
Os pais usam dizer por aqui: “os
filhos são a menina dos nossos olhos”. Que bela expressão da sabedoria
brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual
entra a luz regalando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós, se não
tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de seguir em frente? O meu
auspício é que, nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar por esta
desafiadora pergunta.
A juventude é a janela pela qual o
futuro entra no mundo e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa geração
se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber
abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno
desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a
vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode
ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida,
assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica,
suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um mundo que
corresponda à medida da vida humana; despertar nele as melhores potencialidades
para que seja sujeito do próprio amanhã e corresponsável do destino de todos.
Concluindo, peço a todos a
delicadeza da atenção e, se possível, a necessária empatia para estabelecer um
diálogo de amigos. Nesta hora, os braços do Papa se alargam para abraçar a
inteira nação brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa.
Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até
as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do Papa. Depois de amanhã, se
Deus quiser, tenho em mente recordar-lhes todos a Nossa Senhora Aparecida,
invocando sua proteção materna sobre seus lares e famílias. Desde já a todos
abençoo. Obrigado pelo acolhimento!"
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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS NOVOS EMBAIXADORES DO QUIRGUISTÃO, ANTÍGUA
E BARBADOS, GRÃO-DUCADO DO LUXEMBURGO E BOTSWANA POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS
CARTAS CREDENCIAIS
16 maio 2013, Vaticano http://www.vatican.va
Sala Clementina
Quinta-feira, 16 de Maio de 2013
Quinta-feira, 16 de Maio de 2013
Senhores Embaixadores
Com alegria vos recebo por ocasião
da apresentação das Cartas que vos credenciam como Embaixadores Extraordinários
e Plenipotenciários dos vossos respectivos Países junto da Santa Sé:
Quirguistão, Antíqua e Barbados, Grão-Ducado do Luxemburgo e Botswana. As
palavras cordiais, que me dirigistes e que vos agradeço sentidamente, atestam
que os Chefes de Estado dos vossos Países têm a peito desenvolver as relações
de estima e colaboração com a Santa Sé. Ficar-vos-ia grato se quisésseis
transmitir-lhes os meus sentimentos de gratidão e respeito, juntamente com a
certeza das minhas orações pelas suas pessoas e seus compatriotas.
Senhores Embaixadores, considerados
os progressos que se verificam em vários âmbitos, a humanidade está neste
momento a viver uma espécie de viragem na sua história. Não podemos deixar de
nos alegrar com os resultados positivos, que concorrem para o bem-estar
autêntico da humanidade, por exemplo, nos campos da saúde, educação e
comunicação. Mas há que reconhecer também que a maior parte dos homens e
mulheres do nosso tempo continua a viver dia a dia numa precariedade de
consequências funestas. Aumentam algumas patologias, com as suas consequências
psicológicas; o medo e o desespero apoderam-se do coração de numerosas pessoas,
mesmo nos Países considerados ricos; a alegria de viver vai diminuindo; a
imoralidade e a violência estão a aumentar; torna-se mais evidente a pobreza.
Tem-se de brigar para viver, cingindo-se muitas vezes a uma vida pouco
dignificante. A meu ver, uma das causas desta situação reside na relação que
temos com o dinheiro, aceitando o seu predomínio sobre nós e as nossas
sociedades. Assim a crise financeira, que estamos a atravessar, faz-nos
esquecer a sua origem primordial, que se encontra numa profunda crise
antropológica, ou seja, na negação da primazia do homem. Criámos novos ídolos.
A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32,1-8) encontrou uma nova
e cruel versão na idolatria do dinheiro e na ditadura de uma economia realmente
sem fisionomia nem finalidade humanas.
A crise mundial, que envolve as
finanças e a economia, parece evidenciar as suas deformações e, sobretudo, a
sua grave carência de perspectiva antropológica, que reduz o homem a uma única
das suas exigências: o consumo. Pior ainda, hoje o próprio ser humano é visto
como um bem de consumo, que se pode usar e deitar fora. Começámos esta cultura
do bota-fora. Esta perversão verifica-se tanto a nível individual como social;
e goza do seu favor! Em tal contexto, a solidariedade, que é o tesouro dos
pobres, acaba muitas vezes por ser considerada contraproducente, contrária à
racionalidade financeira e económica. Enquanto os rendimentos duma minoria
crescem de maneira exponencial, os da maioria vão-se exaurindo. Este
desequilíbrio deriva de ideologias que promovem a autonomia absoluta dos
mercados e a especulação financeira, negando assim o direito de controle aos
Estados, que têm precisamente a responsabilidade de prover ao bem comum.
Instaura-se uma nova tirania, invisível e às vezes virtual, que impõe,
unilateralmente e sem recurso possível, as suas leis e regras. Além disso, a
dívida e o crédito afastam os Países da sua economia real, e os cidadãos do seu
poder real de compra. Depois vem juntar-se a isto uma corrupção tentacular e
uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A avidez de poder
e riqueza não conhece limites.
Por detrás desta atitude,
esconde-se a recusa da ética, a recusa de Deus. Como a solidariedade, também a
ética incomoda! É considerada contraproducente, vista como demasiado humana,
porque relativiza o dinheiro e o poder, e como uma ameaça, porque recusa a
manipulação e sujeição da pessoa; porque a ética conduz a Deus, que escapa às
categorias do mercado. Deus é considerado por estes financeiros, economistas e
políticos como não regulável, Deus não regulável, ou até perigoso, porque chama
o homem à sua plena realização e à independência de qualquer tipo de
escravidão. A meu ver, a ética – naturalmente não ideológica – permite criar um
equilíbrio e uma ordem social mais humanos. Neste sentido, encorajo os peritos
financeiros e os governantes dos vossos Países a terem em conta estas palavras
de São João Crisóstomo: «Não partilhar com os pobres os próprios bens é
roubá-los e tirar-lhes a vida. Os bens que possuímos não são nossos, mas deles»
(Homilia sobre Lázaro, 1, 6: PG 48, 992D).
Prezados Embaixadores, seria
desejável a realização de uma reforma financeira que fosse ética e produzisse,
por sua vez, uma reforma económica salutar para todos. Isso, porém, requereria
por parte dos dirigentes políticos uma corajosa mudança de atitude. Exorto-os a
enfrentarem este desafio com determinação e clarividência, naturalmente tendo
em conta a peculiaridade dos respectivos contextos. O dinheiro deve servir, e
não governar! Eu amo a todos, ricos e pobres; mas tenho o dever de recordar ao
rico, em nome de Cristo, que deve ajudar o pobre, respeitá-lo, promovê-lo. Por
isso, o Papa exorta à solidariedade desinteressada e a um retorno à ética que
favoreça o homem na realidade financeira e económica.
A Igreja, por sua parte, não
cessará de trabalhar pelo desenvolvimento integral de toda a pessoa. Neste
sentido, recorda que o bem comum não deveria ser simplesmente um acréscimo, um
esquema conceitual de reduzido valor, inserido nos programas políticos. A
Igreja encoraja os governantes a permanecerem verdadeiramente ao serviço do bem
comum das suas populações. Exorta os dirigentes das realidades financeiras a
tomarem em consideração a ética e a solidariedade. E porque não dirigirem-se a
Deus para que lhes inspire os seus desígnios!? Formar-se-á então uma nova
mentalidade política e económica, que contribuirá para transformar a profunda
dicotomia entre as esferas económica e social numa sã convivência.
Depois, por vosso intermédio, saúdo
com afecto os Pastores e fiéis das comunidades católicas presentes nos vossos
Países. Exorto-os a continuarem o seu intrépido e jubiloso testemunho de fé e
amor fraterno ensinado por Cristo. Não tenham medo de oferecer a própria
contribuição para o desenvolvimento dos seus Países, por meio de iniciativas e
atitudes inspiradas na Sagrada Escritura. Enfim, no momento em que inaugurais a
vossa missão, formulo-vos, Senhores Embaixadores, votos dos melhores êxitos,
assegurando a colaboração da Cúria Romana no desempenho da vossa função. Com
este objectivo, de bom grado, invoco sobre vós e vossos familiares e também
sobre os vossos colaboradores a abundância das bênçãos de Deus. Obrigado!
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