26 julho 2013, Pátria
Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)
Piero
Locatelli/Carta Capital
Maior artista
plástico da Argentina, León Ferrari morreu nesta quinta-feira 25, enquanto o
papa Francisco, que espalhou ódio contra sua obra, passeava pelo Brasil criticando
políticas progressistas, como a descriminalização das drogas.
A opinião de
Bergoglio sobre Ferrari destoava daquela dada pelo resto do mundo ao seu
conterrâneo. Para o New York Times, ele era um dos cinco maiores artistas vivos
do mundo. Do júri da Bienal de Veneza, Ferrari recebeu seu prêmio principal em
2007, honraria única para alguém do seu país. A Arco, uma das principais feiras
de arte do mundo, considerou-o o melhor artista internacional vivo em 2010.
Antes de ser o
papa Francisco, porém, Bergoglio pediu aos católicos uma “jornada de jejum e
orações” contra a obra de Ferrari em 2004. Quando era arcebispo de Buenos
Aires, o religioso apelou para que uma retrospectiva de Ferrari no Centro
Cultural Recoleta fosse fechada.
Ele não aceitava que obras questionadoras do
catolicismo viessem ao público. Entre elas, a de Jesus Cristo crucificado sob
um avião carregado de bombas (La civilización occidental y cristiana, que
remete à guerra do Vietnã). Outra escultura representava o inferno tomado por
santos.
Bergoglio chamou
os fiéis, em uma carta, para irem às ruas contra as obras de Ferrari, já que
ele era um “um blasfemo”. Como resultado, manifestações diárias fizeram a
exposição ser vetada diversas vezes. Graças aos chamados, católicos destruíram
parte de suas obras e o centro cultural sofreu quatro ameaças de bomba. A
exposição terminou antes do previsto, a pedido de Ferrari, preocupado com a
segurança dos funcionários do museu e das suas obras. A perseguição não era
novidade para o artista. Durante a ditadura argentina, teve de morar no Brasil
a partir de 1976. Só retornou ao país que o expulsara nos anos 90.
Na época de sua
retrospectiva, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Ferrari disse: "o
problema que tenho com Bergoglio é que ele acha que as pessoas que não pensam
como ele devem ser castigadas, condenadas. E eu penso que ninguém, nem sequer
ele, deve ser castigado."
Como Ferrari
deixa claro, não seria necessário que Francisco gostasse da sua obra. O
problema é que ele usou sua posição de poder para incitar o ódio contra um
artista que critica o cristianismo, além de tentar impedir a liberdade de
crítica.
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