25 julho 2013, ODiário.info
http://www.odiario.info (Portugal)
Dick Emanuelsson*
ANNCOL /
2013-07-20 /Guerrilheiros das FARC
capturaram há um mês um soldado profissional norte-americano. Apesar de que os
Estados Unidos têm três guerrilheiros presos nos EUA, as FARC dizem estar
dispostas a entregar o militar a “uma comissão humanitária integrada pela
Senadora Piedad Córdoba, um delegado da comunidade de Saint Egídio e pelo
Comité Internacional da Cruz Vermelha”(1).
Um comunicado do órgão máximo da
insurgência das FARC-EP, o Secretariado do Estado Maior Central, informa que o
militar norte-americano foi capturado no município de El Retorno no
departamento de Guaviare, em 20 de Junho. Tudo indica que a inteligência da
guerrilha trabalhou durante o mês que decorreu entretanto para obter
informações e elementos para precisar o percurso de vida de Kevin Scott Sutay,
nascido na cidade de Nova York, segundo o passaporte Nº 488667176, emitido em
03 de Fevereiro de 2012.
Segundo o comunicado, que a ANNCOL
reproduz abaixo, o norte-americano entrou na Colômbia a 8 de Junho, proveniente
de México, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Não se sabe quando chegou
a San José de Guaviare, capital do departamento de Guaviare. Nesta cidade da
selva há grande presencia de militares estado-unidenses e duas bases militares
do Exército e da Policia Antinarcótica.
O que chama a atenção é a presença
de um gringo em regiões que são historicamente bastiões da guerrilha das FARC
nas quais a guerrilha possui quatro frentes guerrilheiras.
Segundo o comunicado da guerrilha, o militar Kevin Scott Sutay “assegura ter sido membro da Armada dos Estados Unidos entre 17 de Novembro de 2009 e 22 de Março de 2013 e segundo a sua própria versão participou na guerra de Afeganistão entre os anos 2010 e 2011, onde desempenhou funções de perito em explosivos, especialista em
Se já era desmobilizado do Exército
estado-unidense, ¿que fazia num departamento onde cada passo é observado pelos
actores do conflito social e armado e onde há muitos campos minados?
Segundo o portal Internet da
Embaixada estado-unidense em Bogotá, há fortes restrições à deslocação dos
cidadãos estado-unidenses que visitam o país ou que residem em Colômbia:
“Funcionários do governo dos
Estados Unidos e seus familiares em Colômbia podem viajar para as principais
cidades do país, mas normalmente apenas por via aérea. Não podem utilizar o
transporte em autocarros inter-regionais ou na cidade ou viajar por estrada à
noite fora das zonas urbanas. Funcionários do governo dos EUA e as suas
famílias em Colômbia devem apresentar um pedido para viajar para qualquer zona
de Colômbia que esteja fora das duas áreas centrais”.
Enquanto ocupantes, os
militares estado-unidenses são objectivos militares
Não constitui segredo que os militares estado-unidenses em Colômbia têm mais restrições por serem considerados objectivos militares da guerrilha, uma vez que esta os vê como ocupantes. São aproximadamente 2000 oficiais norte-americanos que operam a partir das sete bases militares estado-unidenses ou que trabalham como assessores das FF.AA. colombianas na guerra contra insurgente.
Não constitui segredo que os militares estado-unidenses em Colômbia têm mais restrições por serem considerados objectivos militares da guerrilha, uma vez que esta os vê como ocupantes. São aproximadamente 2000 oficiais norte-americanos que operam a partir das sete bases militares estado-unidenses ou que trabalham como assessores das FF.AA. colombianas na guerra contra insurgente.
Segundo o diário El Tiempo, nem a
embaixada dos EUA em Bogotá nem o Exército Nacional confirmaram a desaparição
do soldado estado-unidense. O que não significa que não estejam informados
sobre a sorte de Kevin Scott Sutay.
San José de Guaviare é a capital do
departamento de Guaviare. O Comando Sul possui aí uma base de treino militar,
El Barrancón. Em Janeiro de 1997, quatro embarcações repletas de paramilitares
armados até aos dentes passaram vários controlos fluviais do Rio Guaviare,
entre os quais o controlo da base militar El Barrancón. O destino dos
paramilitares era o município de Mapiripan, onde cometeram um dos piores
massacres da história de Colômbia, assassinando, violando e mutilando
aproximadamente 50 povoadores. Diz Eduardo Carreño, advogado do Colectivo de
advogados CAJAR, em entrevista ao jornalista José Abelardo Díaz, em Fevereiro
de 2012:
“Existe adicionalmente uma tese que
não foi investigada que é a que inclui ou vincula membros das tropas
norte-americanas que estão aquarteladas em el Barrancón, em el Guaviare entre
San José e Mapiripán; essa é a base militar de treino o retreinamento das
forças militares de luta contra guerrilheira.
Quando se faz a deslocação dos
grupos paramilitares até San José do Guaviare há uma operação muito grande da
Policia, Exército e Força Aérea. Há que deslocar dois aviões desde
Villavicencio (45 minutos de voo desde a capital do Meta, nota ANNCOL) e desde
Medellín até ao Urabá antioquenho (no extremo norte de Colômbia, nota ANNCOL)
para trazer cerca de 85 paramilitares, segundo eles mesmos confessaram. Essa
operação contou com a colaboração da Força Aérea, do Exército e da Policia do
Urabá antioquenho e são essas as entidades que não foram investigadas. Isso
está em absoluta impunidade.
Os aviões chegam a San José do
Guaviare, efectivamente, e daí retiram os paramilitares em camiões. Isto sucede
num aeroporto que está militarizado e que é, para além disso, a base
fundamental da luta contra o narcotráfico. Não obstante, entram aí os aviões e
os camiões dos paramilitares e levam-nos sem que nada suceda.
Depois disso os paramilitares são
trasladados a Puerto Alvira pelo trilho ganadeiro e por meio de lanchas pelo
rio Guaviare, passando pela base militar de Barrancón. Quer dizer, os militares
da base (norte-americana) viram passar os paramilitares que iam pelo rio. Isso
é desconhecido pela opinião pública.
Sem dúvida que a captura
guerrilheira do militar estado-unidense, activo ou desmobilizado, numa das
regiões de maior conflito de Colombia, é uma batata quente para a Embaixada e
para a administração de JM Santos. Não cremos que o perito em explosivos e
especialista na desactivação de campos minados na guerra do Afeganistão tenha chegado
a Guaviare para estudar e investigar as formosas borboletas que o departamento
possui.
SOLDADO NORTEAMERICANO
CAPTURADO
COMUNICADO
COMUNICADO
O Secretariado do Estado Maior
Central das FARC-EP informa a opinião pública nacional e internacional de que
no dia 20 de Junho de 2013, no município de Retorno, departamento de Guaviare,
foi capturado o soldado norte-americano Kevin Scott Sutay, nascido na cidade de
New York, segundo o passaporte nº. 488667176 emitido em 03 de Fevereiro de
2012, que transportava consigo no momento da sua detenção por unidades
guerrilheiras.
O mencionado cidadão
norte-americano assegura ter sido membro da Armada dos Estados Unidos entre 17
de Novembro de 2009 e 22 de Março de 2013 e segundo a sua própria versão
participou na guerra do Afeganistão entre os anos 2010 e 2011 onde exerceu as
funções de perito em explosivos, especialista em desminagem, integrando a
companhia 541 ST do batalhão 54 TN de engenharia.
Teria entrado em Colombia em 8 de
Junho de 2013, seguindo o trajecto México, Honduras, Costa Rica, Nicarágua,
Panamá, Bogotá, San José de Guaviare, sede da base militar de Barrancón, onde é
conhecida de há muito a presença de militares norte-americanos.
A captura do soldado Kevin torna
evidente a activa participação no terreno de militares e mercenários
norte-americanos em operações de contra insurgência nas quais surgem sob o
eufemismo de contratistas, forma privatizada das forças de intervenção
imperial, própria da era da globalização capitalista, que lhes permite explorar
com um menor custo político outro filão do negocio da guerra para as suas
campanhas de agressão e rapina contra os povos.
Negócio criminoso ao qual que
aspiram pertencer o Presidente Santos, o seu ministro da defesa e os generais,
quando anunciam aos quatro ventos a assinatura de um acordo de cooperação com a
OTAN, posicionando a Colombia como disponibilizadora de serviços deste tipo de
forças mercenárias à disposição dos planos de intervenção e pilhagem imperial
em todos os cantos do planeta.
Apesar do direito que nos asiste de
manter o soldado Kevin Scott como prisioneiro de guerra, tomámos a decisão
política de o libertar, como um gesto que se enquadra no ambiente das
conversações com o governo colombiano que decorrem em La Havana, em busca de um
acordo que ponha fim ao conflito social e armado no nosso país.
Para tal fim solicitamos a constituição de uma comissão humanitária integrada pela Senadora Piedad Córdoba, por um delegado da comunidade de Saint Egídio e do Comité Internacional da Cruz Vermelha.
Montanhas de Colombia,
19 de Julho 2013.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
*Sub director ANNCOL
Nota dos Editores:
Ontem mesmo o presidente colombiano JM Santos recusou a constituição desta
comissão, alegando que a libertação do soldado Kevin Scott Sutay não se iria
tornar “um espectáculo mediático”.
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