1 Novembro 2013, Radio Moçambique
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Contra todas as previsões dos
ocupantes, o bastião da Renamo, no distrito de Marínguè, na província de
Sofala, foi esta semana tomada pelo comando conjunto das Forças de Defesa de
Moçambique (FADM) e Força de Intervenção Rápida (FIR), desvendando os mistérios
do lugar que outrora foi a retaguarda segura daquela organização, durante os 16
anos de conflito armado no país.
Quando a notícia sobre a
possibilidade de se tomar a base da Renamo pelas FDS se espalhou, muitas
pessoas mostravam-se incrédulas.
Analistas políticos e sociais e a
população em geral diziam que se tratava de uma falácia das Forças de Defesa e
Segurança e que isso jamais aconteceria por se tratar de uma zona de difícil
acesso.
A nossa Reportagem fez parte do
grupo de jornalistas que
se interessou em trazer tal novidade, que, quanto a
nós, era improvável devido ao mito que gira em torno da base de Marínguè.
Conduzir de Nhamapaza até a
vila-sede distrital de Marínguè tornou-se pesado a avaliar pelo silêncio dos
ocupantes da viatura. A estrada estava deserta e as casas praticamente
abandonadas num raio de 40 quilómetros. Reparando para a zona norte de
Marínguè, podia-se ver fumo negro a espalhar-se pelo ar. Eram minas explodindo
feito fogo-de-artifício.
O nosso repórter e outros dois de
uma televisão estrangeira, Guy Henderson e o seu operador de câmara, Adil
Bradlow, foram recebidos no comando distrital da PRM e depois encaminhados para
outros pontos. Jovens das forças especiais das FADM com cara de poucos amigos
receberam-nos num ponto que dá acesso à pista outrora utilizada por homens de
Afonso Dhlakama.
Depois de uma demorada apresentação
seguiu-se um longo percurso, com paragens em quase todos os pontos de avanço. O
fim era chegar ao “coração” da base, onde se encontravam as patentes superiores
das forças armadas. Durante o percurso a desconfiança imperava.
Labirintos e mitos
As pessoas que julgavam que a base
de Marínguè era impenetrável podiam ter as suas razões. Até porque os próprios
guerrilheiros da Renamo nunca imaginavam que um dia o “seu espaço” seria
tomado, a avaliar pelos volumosos documentos tidos como importantes deixados
numa mala de madeira.
Um oficial das forças armadas e
perito militar que falou ao nosso Jornal na condição de não ser identificado
disse que as dúvidas que pairavam no seio das pessoas tinham a sua razão de
ser. Explicou que a base ora sob controlo governamental é um autêntico
labirinto.
Tal especialista militar das FADM
disse que apesar de se ter tomado o quartel em pouco tempo (cinco horas), não
foi um trabalho fácil.
Entre a coragem e o medo,
jornalistas protegidos por militares de diferentes especialidades mostravam-se
todos atónitos, não sabendo o que lhes aconteceria nos minutos seguintes.
Perante uma mata fechada e com árvores frondosas, percorremos trilhos que não
se sabia se estavam minados ou não.
Todos os militares envolvidos na
operação da tomada do quartel general de Marínguè estavam proibidos de errar
nos seus procedimentos.
“Aqui só há ordens e nada de
iniciativas pessoais”, confidenciou-nos, reiterando que não havia nada a
inventar na operação, pois estava tudo milimetricamente programado.
Refira-se que, na sua fuga
precipitada, os homens armados da Renamo deixaram vários documentos importantes
para a história da organização, sendo de destacar um passaporte que era usado
pelo líder do movimento durante a guerra dos 16 anos.
Através deste documento, Afonso
Dhlakama fazia-se passar por um empresário de nacionalidade queniana com o nome
de Alfonsi Muanacato Barão. Com o mesmo viajou para vários países de África,
Europa, América e Ásia, com destaque para a África do Sul, Quénia, Suécia,
Itália, França e Estados Unidos da América (EUA).
Por exemplo, no dia 26 de Outubro
de 1991, conforme os vistos contidos naquele passaporte, o líder da Renamo teria
estado na Suíça.
Ainda há troca de tiros
A Força de Defesa e Segurança (FDS)
estacionada no posto administrativo de Vunduzi, distrito de Gorongosa, em
Sofala, tem enfrentado nos últimos dias alguma resistência dos homens armados
da Renamo, que tentam aos disparos esporádicos reocupar a base de Sandjudgira
tomada no passado dia 21 de Outubro.
Nas passadas terça e 4.ª feiras,
por exemplo, os homens de Afonso Dhlakama trocaram tiros com a força
governamental durante algumas horas, não tendo sido registadas quaisquer
vítimas em ambas as partes, pois muito cedo os primeiros recolheram para o seu
esconderijo.
A acção dos guerrilheiros da Renamo
é descrita pelos oficiais da corporação de defesa e segurança como sendo de
desespero, pois não têm como sobreviver escondidos nas montanhas.
Homens da Renamo estão já há 10
dias nas montanhas localizadas próximo da base de Sandjudgira. Acredita-se
igualmente que o seu líder, Afonso Dhlakama, também se tenha refugiado nas
colinas.
Uma fonte militar que falou ao nosso
Jornal na condição de anonimato disse que a corporação está aguardando ordens
para ver se “acabamos com estas brincadeiras. Porque isto não é vida”.
Falámos igualmente com certos
cidadãos que vivem próximo das montanhas que disseram haver muitas famílias por
lá onde se supõe Dhlakama esteja escondido.
“Deixamos de nos dirigir à montanha
temendo que fôssemos confundidos com guerrilheiros da Renamo, mas as pessoas
que se fizeram àquela zona antes do ataque à base de Sandjudgira continuam lá
confinadas, temendo descer. Lá há mulheres e crianças que sobrevivem da
agricultura”, disseram algumas das pessoas ouvidas pelo nosso jornal em
Vunduzi, temendo que qualquer intervenção militar nas colinas possa matar
muitos inocentes.
Tomada de Sandjudgira foi anunciada
a Dhlakama
A tomada da base de Sandjudgira no
passado dia 21 de Outubro não foi surpresa. Antes de se registarem
confrontações as Forças de Defesa e Segurança usando megafones convidaram a
todos que se encontravam no quartel de Sandjudgira para se renderem.
De acordo com um vídeo produzido
naquele dia pelos militares, os oficiais superiores da Polícia e das FADM
gritavam alto “viemos em paz, senhor presidente da Renamo. Entregue-se que o
acompanharemos....”.
Tal vídeo que está na posse de militares
retrata o momento da entrada na base de Sandjudgira e as acções que lá
decorreram depois da ocupação.
Uma das fontes militares referiu
que se o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, tivesse se rendido não haveria tanto
sofrimento. (Com jornalnoticias.co.mz)
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