domingo, 26 de agosto de 2007

EUA, para dividir AL, propõe parceria entre Brasil e Otan

Vermelho / 25 agosto 2007

O Brasil poderá estreitar a colaboração com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e agir ao lado da organização como ator de uma “parceria global” – ao menos no que depender dos Estados Unidos. A idéia foi sugerida na sexta-feira (24) em São Paulo por Clifford Sobel, embaixador americano no Brasil, que afirmou também que Brasília “poderá ajudar a convencer outros países com visões semelhantes a colaborar com a Otan”. A proposta é mais uma investida norte americana para tentar paralisar o processo de unidade que se dá entre governos na América Latina.

Criada em 1949 para se contrapor ao avanço da União Soviética, a Otan conta hoje com 26 países-membros ligados por acordos militares de proteção mútua e ação conjunta.


Na palestra desta sexta na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, Sobel disse que não há um modelo para uma parceria com o Brasil, mas citou como exemplos colaborações da Austrália e do Japão. ''Isso não significa trazer membros de fora do espaço euroatlântico para a aliança, mas facilitar a ação de uma Otan forte, que trabalha com parceiros globais.''


Fator Chávez

Apesar da falta de apoio dos EUA a parte das ambições brasileiras no cenário internacional - como uma cadeira permanente do país no Conselho de Segurança da ONU -, o embaixador afirmou que é hora de o Brasil agir globalmente. ''Há muitas democracias que já ajudam outros países e poderão expandir seu papel. A questão é assumir uma responsabilidade global, como a que o Brasil tem no Haiti [onde lidera a missão das Nações Unidas].''


Na avaliação de Peter Hakim, presidente do grupo de pesquisas Inter-American Dialogue (diálogo interamericano), a fala de Sobel tem valor mais político do que estratégico. ''Os EUA certamente buscam boas relações com o Brasil, que é visto como alternativa à influência da Venezuela. Mas não vejo nenhuma possibilidade de uma aliança militar entre o Brasil e Otan'', afirmou Hakim.


Já Jorge Zaverucha, coordenador do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas (NIC) da Universidade Federal de Pernambuco, disse que a proposta de colaboração está ligada ao ''fator Chávez''. ''Os EUA vêem que há uma corrida armamentista na Venezuela e tentam atrair o Brasil para se contrapor a este avanço.'' Ele destacou que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tem um projeto de poder para o continente, o que seria visto na proposta de alteração do nome do Exército venezuelano para Exército Bolivariano. Nesse contexto, ''o Brasil pode ser seduzido com parcerias de treinamento militar com a Otan''.


Presente na palestra ontem, o ex-embaixador brasileiro em Londres, Sérgio Amaral, afirmou que é preciso estudar a proposta de Sobel. Ele defendeu, porém, que as relações do Brasil com os EUA vêm melhorando ao lado da deterioração das relações dentro da América Latina. ''[O presidente da Bolívia], Evo Morales, jogou na lata do lixo o mais promissor setor de integração da América do sul -o energético-, e Chávez desencadeou uma corrida armamentista sem precedentes.''


A opinião do embaixador, uma das viúvas de FHC *, reflete bem o espírito da proposta de Sobel, tentar seduzir o Brasil para barrar o crescente processo de unidade que vem se construindo no continente, em especial entre Brasil Bolívia e Venezuela.


Índia e China

Além da parceria global, Sobel abordou as relações comerciais americanas com o Brasil e a ''necessidade de união em face do avanço da China e da Índia'' - Washington vem pressionando os chineses a permitir a valorização de sua moeda, de modo a reduzir seu superávit no comércio com os EUA.


''A China está atraindo US$ 1 bilhão em investimentos por semana. Precisamos trabalhar para criar aqui no hemisfério ocidental um sistema comercial aberto, justo, previsível e transparente.''


Em resposta a Sobel, Rubens Ricupero, ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, criticou a posição comercial americana. ''O último projeto para a agricultura da Câmara dos Representantes dos EUA é um retrocesso e devolveria todos os subsídios contra os quais o Brasil lutou na Organização Mundial do Comércio'', disse.


Sob bandeira da ONU

Por meio de seu porta-voz, o embaixador Ricardo Neiva Tavares, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, comentou que o Brasil tem por tradição participar de missões apenas sob bandeira das Nações Unidas.


''Pretende continuar assim'', disse o porta-voz, que lembrou, como fez antes o embaixador dos Estados Unidos, o comando da missão no Haiti, mas também o papel desempenhado no Timor Leste.


Na América do Sul, a Argentina foi admitida como ''aliada extra-Otan'' da organização, em 1997, no governo Menem.


Enquanto Sobel vomita o receituário belicista de Bush para o Brasil, o Ministério das Relações Exteriores resiste a pressões e mantém postura altiva na construção de um bloco latino-americano e também de um bloco sul-sul que faça frente ao unilateralismo norte-americano. (Fonte: Da redação com informações da Folha de S.Paulo)


http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=23834


* FHC = Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil (1995/2003). Favoreceu grupos financeiros nacionais e internacionais, em particular com a privatização de empresas estatais. Entre as suas medidas que causaram grandes prejuizos e levaram milhares de trabalhadores ao desemprego se encontram a entrega ao setor privado da Rede Ferroviária Federal e da Companhia Vale do Rio Doce. Quando FHC terminou o mandato, deixou o país envolvido em profunda crise social e economica. É considerado um dos piores presidentes da história brasileira. (Nota de Mercosul & CPLP)

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