quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Brasil/Livro atualiza versões oficiais sobre mortes e desaparecimentos durante a ditadura

Sabrina Craide / Repórter da Agência Brasil

Brasília, 29 agosto 2007 - Resgatar a memória, a verdade e a justiça sobre o que realmente aconteceu com os mortos e desaparecidos durante o período da ditadura militar é o objetivo da obra Direito à Memória e à Verdade, lançada hoje (29) no Palácio do Planalto. A cerimônia contou com a presença de diversos familiares de vítimas, recebidos antes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em audiência reservada.

A publicação é o resultado de 11 anos de trabalho da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e recupera a história de 479 militantes políticos, que foram vítimas da ditadura militar no Brasil durante o período de 1961 a 1988. Para cada militante, o livro traz a antiga versão para o que supostamente teria ocorrido com os desaparecidos e uma nova versão oficial, obtida depois da pesquisa realizada pela comissão.

A comissão analisou ao todo 475 casos em 11 anos de trabalho. Destes, 136 já tinham suas mortes ou desaparecimentos reconhecidos oficialmente, 221 passaram a ter direito a indenização para as famílias após o trabalho da comissão e 118 tiveram os pedidos de reconhecimento oficial negados.

Em seu discurso durante o lançamento, Lula garantiu que o governo continuará fazendo o que for preciso para contar a história do Brasil do jeito que ela realmente aconteceu. “Nós temos disposição e vontade política para continuar fazendo o que for preciso fazer para que a gente possa fazer com que a história do Brasil seja contada com uma única verdade. Ou melhor, com aquela verdade que todo mundo sabe que existe, mas que está mal contada”, disse o presidente.
Segundo o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannnuchi, organizador da publicação, a obra não tem o objetivo de promover "revanchismo", mas sim o de buscar a reconciliação na sociedade brasileira.
“Ninguém pode e ninguém será movido por sentimentos de revanchismo. Mas o silêncio e a omissão também não permitem a idéia de reconciliação, que só pode nascer do profundo conhecimento daquilo que ocorreu, sobretudo o direito inalienável de 140 famílias de sepultar os seus mortos”, disse o ministro, em alusão ao número de pessoas desaparecidas que ainda não tiveram seus restos mortais encontrados.

A necessidade da abertura dos arquivos militares foi destacada pelo presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antônio Rodrigues Barbosa. “No Brasil, ainda não se pode afirmar que houve uma plenitude do conhecimento da verdade, os arquivos ainda não foram totalmente abertos, assim como ainda não foram identificados os desaparecidos durante a Guerrilha do Araguaia”, afirmou. Barbosa lembrou que existe iniciativa do governo de acabar com o “sigilo eterno” de arquivos e disse que deverá ser criado um centro de documentação a respeito da repressão na ditadura.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, garantiu que as Forças Armadas receberam a publicação do livro com naturalidade. Segundo ele, não haverá reação dos militares e, se houver, ela não ficará sem resposta do governo.

A primeira edição do livro tem tiragem de 5 mil exemplares, que vão ser distribuídos a comissões de familiares, centros de pesquisa, imprensa, parlamentares e bibliotecas públicas. Uma versão eletrônica da publicação também está disponível na página da Secretaria Especial de Direitos Humanos na internet (www.sedh.gov.br).

http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/08/29/materia.2007-08-29.1683814503/view


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