quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Cepal vê América Latina pronta para enfrentar crises

O aumento dos gastos públicos e o baixo nível dos investimentos nos países da América Latina são preocupantes, mas a região, especialmente o Brasil, nunca esteve tão bem preparada para enfrentar uma crise como a que vem abalando os mercados financeiros. A avaliação foi transmitida nesta terça-feira (21) pelo diretor da Divisão de Desenvolvimento da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), Osvaldo Kacef, em palestra para investidores de paises asiáticos e da América Latina, promovida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).


Kacef informou que nos cenários da Cepal não se imagina maior desdobramento da crise iniciada no mercado imobiliário dos Estados Unidos, e que, acredita o economista, deverá ficar confinada aos mercados financeiros. As fortes quedas nas bolsas de valores não deverão afetar sensivelmente o crescimento na região porque as empresas latino-americanas ainda usam pouco esses mercados como fonte de financiamento, em comparação aos empréstimos e emissão de outros papéis financeiros.


A queda nas cotações das commodities (mercadorias padronizadas, com cotações em bolsas internacionais) pode afetar alguns países e criar, em prazo mais longo, problemas para financiar os orçamentos dos governos, que, em lugares como Venezuela e Bolívia, vêm aumentando gastos baseados, principalmente no crescimento da arrecadação provocado pelo bom desempenho das exportações de suas estatais.


Em países como a Argentina, embora as exportações sejam principalmente do setor privado, a arrecadação também tem crescido devido as exportações, e se ressentiria se houvesse um arrefecimento do comércio internacional.


"O crescimento da América Latina vai apenas se reduzir um pouco no próximo ano", previu Kacef, para quem os exportadores de metais, petróleo e gás "se beneficiaram muito nos últimos anos" . Segundo a Cepal, a melhoria dos termos de intercâmbio (a comparação entre os preços dos produtos exportados e os dos importados) chegou a 85% para exportadores de metais como o Peru e Chile, e a 112,9% para os exportadores de petróleo e gás (Colômbia, Bolívia, Equador e Venezuela), em comparação com a média dos preços nos anos 90. Para os países do Mercosul, essa melhoria foi de apenas 9,8%, em média.


Proteção maior

A diversificação dos mercados de exportação na América do Sul também protege mais essas economias de uma desaceleração econômica nos Estados Unidos, que representa, em média, 20% do mercado para as exportações desses países. Situação contrária à do México e países da América Central, muito dependentes do mercado americano. A redução dos ganhos com as exportações não chega a ser um problema de curto prazo, mas "é um sinal de alarme" , por indicar dificuldades orçamentárias adiante, avisa o economista.


Nunca na história da região houve coincidência, como hoje, entre taxas razoáveis de crescimento sustentado e superávits em conta corrente (transações com o exterior) nos países da América latina, notou Osvaldo Kacef. Desde 2002 há crescimento e superávits nas contas correntes - estes últimos devidos principalmente às exportações e a remessas de imigrantes aos países natais.


"Não esperamos crise na região. Se ocorrer, nossa região está mais bem preparada que nunca para enfrentar uma crise desse tipo" , comentou o economista, listando as razões para otimismo: redução da dívida, superávit nas contas externas, aumento de reservas internacionais, e diversificação de mercados de exportação. "A economia mundial tem vários motores, hoje, além dos Estados Unidos" , afirmou.


Alguns fatores, porém, causam preocupação, na avaliação da Cepal. Além do aumento de gastos sustentados por receitas conjunturais e do baixo nível de investimentos (cerca de 20% do Produto Interno Bruto, ou quase quatro pontos percentuais abaixo do desejável, segundo a Cepal), as pressões inflacionárias em alguns países, a maior volatilidade dos mercados e a valorização das moedas locais em relação ao dólar são fatores que podem comprometer a trajetória de crescimento, segundo apontou o chefe da divisão de Desenvolvimento da Cepal. (
Fonte: Valor Econômico)

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