Artur Ribeiro
Matosinhos Hoje – 15 Agosto 2007 / Timor Online, Domingo, Agosto 19, 2007
Depois, naturalmente, da Revolução dos Cravos, não me recordo de nenhuma outra causa que tivesse envolvido tanto os Portugueses como a libertação de Timor, que conduziu à sua independência. Timor tem atravessado períodos muito difíceis. Tem petróleo, para má sorte sua, e é muito pretendida pelas potências da zona, nomeadamente a Austrália, que tudo tem feito para se apoderar das suas riquezas.
A Fretilin é o maior partido de Timor. Foi aquele que mais resistiu à invasão e posterior ocupação pela Indonésia, e aquele que mais contribuiu para fundar as bases de um Estado democrático e de direito. Acontece, porém, que, lá como cá, há muita gente disponível para se render e vender aos interesses dos poderosos. Ramos-Horta e Xanana, por exemplo, que várias vezes afirmaram que não pretendiam lugares e desejavam agora descansar e escrever as suas memórias, ocupam os dois principais lugares da hierarquia.
É hoje absolutamente claro que o que eles sempre pretenderam foi marginalizar a Fretilin, como único grande partido que se opõe ao novo colonialismo que a Austrália pretende impôr ao Povo Timorense. Ramos-Horta conquistou a presidência e não se põe em causa a sua legitimidade, o que seguramente se deve pôr em causa é o afastamento da Fretilin do governo, uma vez que foi o partido que recolheu mais votos (quase 30%), nas últimas eleições legislativas.
Apesar de todo o apoio que Xanana teve por parte dos inimigos do Povo Timorense, não conseguiu impedir a vitória da Fretilin. Porém, como era preciso afastá-la do poder, eis que Ramos-Horta, contrariando tudo para que aponta a Constituição do país, decide chamar Xanana, que entretanto, após as eleições criou a designada Aliança para a Maioria Parlamentar e confere-lhe posse como primeiro ministro. Onde está o respeito pela vontade popular? E depois surpreendem-se que tenham surgido grandes manifestações de repúdio, nas quais o povo apelidava Xanana de traidor. De facto, como se vê, os senhores do mundo, americanos, asiáticos ou europeus, gostam muito da democracia, mas apenas quando as escolhas feitas vão no sentido que lhes convém. Se através da escolha feita, o povo põe em causa os seus próprios interesses, então entorna-se o caldo. Há muitos exemplos destes e o golpe de Timor é apenas mais um.
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