Fretilin e CNRT apontados como os previsíveis vencedores… juntamente com a Austrália, Indonésia e China
Timor-Leste vai amanhã a eleições legislativas. Embora seja difícil falar de democracia quando o povo tem a barriga vazia, é verdade que ao todo concorrem 10 partidos e duas coligações que tudo procuraram fazer para trazer até eles os timorenses indecisos e aqueles que embora com uma certa tendência ainda não estavam totalmente cativados. Se são 12 as organizações políticas concorrentes, a generalidade dos comentadores políticos pensam que o poder será dirimido entre duas. A histórica Fretilin de Mari Alkatiri e "Lu Olo" Guterres e o "novo" CNRT do ex-presidente da República Xanana Gusmão.
Por Eugénio Costa Almeida / Noticias Lusofonas / 29 Junho 2007
De um lado a Fretilin, a ainda detentora do poder, liderada por Mari Alkatiri e por Francisco “Lu Olo” Guterres, o candidato derrotado na segunda volta das presidenciais, e o “renascido” CNRT – era o Conselho Nacional da Resistência Timorense que abusivamente, ou não, foi transformado em Congresso Nacional da Reconstrução de Timor-Leste – liderado pelo antigo presidente José “Xanana” Gusmão.
Poderá ser que o poder se dispute entre estes dois colossos da nova Timor-Leste. Mas não se devem esquecer a coligação Aliança Democrática, de Manuel Tilman, reitor da Universidade privada D. Martinho Lopes, nem da UDT de João Carrascalão, para quem ainda não há “eleições livres e democráticas em Timor-Leste”, ou do Partido Democrático, do surpreendente Fernando “Lasama” de Araújo, ou a ASDT, de Francisco Xavier do Amaral, ou, ainda, o PSD, de Lúcia Lobato, para já não se referir a Avelido Coelho, do PST, que, ainda recentemente, denunciou como farsa a existência do português como idioma oficial de Timor-Leste.
Relembremos que na primeira volta das presidenciais os candidatos do PSD, ASDT e PD obtiveram um total de 40% do eleitorado, o que não deixa de ser um facto a ter em conta nestas eleições.
Mas também não devemos deixar de referir Avelido Coelho, do PST, que, ainda recentemente, denunciou como farsa a existência do português como idioma oficial de Timor-Leste. Talvez se relembrasse que o recém-empossado José Ramos-Horta falou em sessões oficiais, e não por uma vez, não em português ou tétum, mas em bahasa, o idioma oficial da Indonésia.
E, depois, há aqueles que votaram Ramos-Horta, que indirectamente apoia a CNRT, e que já terão afirmado que não irão votar Xanana para prrimeiro-ministro.
Mas se, normalmente, a política e as legislativas são – ou deveriam ser – feitas com base nos partidos e associações cívico-partidárias, em Timor-Leste quatro entidades não partidárias estiveram sempre presentes.
Desde logo o major Alfredo Reinado, que ainda não se apresentou às autoridades e nem foi detido e para quem se fala a possibilidade de uma amnistia o que, provavelmente, não será do muito agrado dos australianos – a segunda entidade – que parece desejarem, caso não o consigam “liquidar”, que ele perdure por muitos anos afastado de Dili e manter, isso sim, o petróleo sob a sua alçada.
Como terceira entidade com interesses nas legislativas, temos os indonésios que, como já referimos, viram deslumbrados o novo presidente falar em actos oficiais em bahasa o que, desde logo, lhes alcandora bons auspícios, se não forem em termos de primazia, pelo menos em termos de cooperação.
E, por fim, a mais discreta das presenças. A China.
Limitaram-se a dizer que estavam presentes através da oferta de arroz aos mais necessitados. Ora, os africanos sabem que a China não oferece nada sem esperar retorno.
Se a Austrália quer, e julga-se poder sê-lo, a potência regional da Oceânia, a China é, claramente, a potência regional e quase a nova superpotência.
E esta não vai permitir que a Austrália esbanje um dos produtos que mais necessita e Timor-leste parece ter para dar e vender: o petróleo.
Um importante factor que os novos dirigentes do país saídos das legislativas vão ter com que conviver.
Senão, a estabilidade que todos desejam para Timor-Leste e para a região será algo efémero e etéreo.