Brasil/Berzoini propõe união dos partidos e agenda programática este ano
6 abril 2015, Vermelho http://www.vermelho.org.br
(Brasil)
Ricardo Berzoini, ministro das Comunicações, fez uma
lúcida análise sobre o cenário político e os desafios do país, como uma
internet de qualidade e a preços acessíveis, em entrevista à Rede Brasil Atual publicada neste domingo (5).
O ministro alerta que é preciso enfrentar questões delicadas,
como a CPI da Petrobras e a Operação Lava Jato, com transparência, e também que
é hora de reposicionar o governo. Sobre a regulação da mídia, voltou a reforçar
que o governo não deve apresentar uma proposta antes de um amplo debate com a
sociedade, para buscar um entendimento sobre o assunto.
Governo
e Congresso
"Sou otimista, mas não sou ingênuo", respondeu,
com clareza e visão aguçada, ao questionamento sobre a relação conflituosa
entre o governo e o Congresso. "Qual é a característica da base do
governo? É muito heterogênea. Essa base de 2015 é mais pulverizada e
diferenciada do que a de 2014, ou de 2011. Tem que se fazer um esforço
redobrado, tem mais partidos na Câmara, tem mais pulverização. A maior bancada,
que é a do PT, é menor que a anterior. A segunda maior bancada, do PMDB, também
é menor. No Senado, não houve muita mudança, mas na Câmara houve."
Para Berzoini, é preciso identificar pontos de convergência que possam ser
usados para estruturar uma agenda programática para este ano, um ano difícil
devido às restrições orçamentárias. O diálogo e a consulta, frisou, são
essenciais. "Nós temos que saber trabalhar nesse cenário. Não dá para
jogar bem só em gramado bom. Tem que saber jogar bem em qualquer gramado. O
desafio é esse, reposicionar o governo. Recompor significa chamar todos os
partidos, para construir uma agenda mínima para atravessar esse período",
declarou o ministro.
A necessidade de enfrentar a CPI da Petrobras e a Operação Lava Jato de uma
forma que faça a população entender que não há interesse em jogar a
responsabilidade para outros ou esconder fatos também foi destacada pelo
ministro. "Queremos tudo passado a limpo".
Quando questionado sobre o que seria necessário para o PT recuperar o
protagonismo político, respondeu: "A resposta para essa pergunta passa por
Ortega y Gasset e Caetano Veloso. 'Eu sou eu e minhas circunstâncias' e 'Cada
um sabe a dor e a delícia de ser o que é'. Não se lida, na política, com o
abstrato. A política é o mundo da realidade. Quando se está em um sindicato que
tem cinco movimentos políticos na diretoria, se trabalha naquele cenário, às
vezes, com contradições de concepção política. Quando se está em um partido que
tem muitos grupos internos, muitas correntes políticas de opinião, ou até
grupos de interesse, você também faz política, da mesma maneira. É a mesma
coisa na política nacional. (...) nós temos que saber que o PT não precisa
ficar limitado – como partido e como movimento social – pelas contradições e
condições de governo. Ele pode se expressar. (...)"
Berzoini chamou atenção para o espaço conferido pela população brasileira nas
últimas eleições, de representação no Congresso Nacional. "O povo não deu
300 deputados para o PT. Deu 70. A decisão da população é essa, de um governo
que tem a base partidária fragmentada e com posições políticas
diferenciadas."
Acesso
à internet de qualidade e com preços acessíveis
A missão estabelecida durante a campanha eleitoral é
viabilizar acesso à internet com qualidade e preços acessíveis, para a maior
parcela possível da população brasileira, salientou o ministro. Para isso, é
preciso implantar fibra ótica no país e ter a maior rede possível. O lançamento
de um satélite em 2016 deve permitir o acesso a regiões de difícil acesso para
a fibra ótica, comentou.
Há ainda o desafio de assegurar que o acesso à internet por telefonia celular
seja de qualidade e com custo acessível, ampliar a cobertura do 3G e do 4G.
"Para se ter uma ideia, o acesso à internet por 3G e 4G cresceu quase 700%
no governo Dilma. Cresceu mais nas regiões Nordeste e Norte", disse
Berzoini à Rede Brasil Atual.
"Há uma avaliação mundial de que o futuro da internet é móvel. A internet
fixa vai ter um papel importante, ainda, especialmente para o transporte de
dados. Mas o acesso tende a ser, cada vez mais, via smartphones, tabletes e
notebooks, com mobilidade. Estamos desenhando estratégias para que isso seja
viável, do ponto de vista de termos operadoras fortes, com capacidade de
responder a esse desafio, que é o investimento em infraestrutura, investimentos
de muitos bilhões de reais, para manter essa infraestrutura atualizada e
ampliar a cobertura, e, simultaneamente, ter preços que o povo possa
pagar", assegurou o ministro.
A banda larga deve se tornar tão essencial quanto a água e a energia elétrica,
adiantou o ministro. "Ela é uma política para ser adquirida",
ressaltou, frisando depois que a velocidade de internet de 1 mega não deve mais
ser considerada como banda larga.
Regulação
da mídia
Berzoini voltou a destacar que o governo não deve
apresentar um modelo pronto de regulação da mídia, e que deve investir antes em
um debate com a sociedade. "O governo entende que a melhor maneira de
contribuir para fomentar esse debate é não apresentar uma proposta agora. Não
sair com uma formulação do governo. Tem muitas visões diferentes, na
sociedade".
O tema "artificialmente sectarizado" e "artificialmente
antagonizado", definiu o ministro, exige uma busca pelo interesse nacional
e pelo diálogo construtivo com pessoas de diferentes posições, para construir
um projeto viável de ser aprovado.
"O ministério vai fomentar esse debate, organizar alguns espaços e
estimular que entidades da sociedade civil, movimentos sociais, entidades
empresariais e entidades do setor também organizem os seus debates, para que a
gente possa, em um prazo razoável, que não quero fixar, ter um afunilamento das
contradições e divergências, para poder buscar um entendimento sobre essa
matéria", disse.
Berzoini apontou ainda para a especificidade da regulação da mídia implantada
em outros países, criada a partir de discussões voltadas para as necessidades
de cada um deles. "Os Estados Unidos têm uma regulação, com viés
americano. O Canadá tem, com viés canadense. A Inglaterra tem, com viés de Sua
Majestade, a rainha, e do governo. Aliás, o processo na Inglaterra foi
interessante porque todos os grandes partidos abriram mão das suas disputas
para construir uma legislação que fosse a expressão da vontade do país, naquele
momento, da crise que ocorreu por conta daquele tabloide (News of the World)."
O setor de comunicação quer total liberdade, só que a Constituição deixa claro,
no artigo 220, que a liberdade de expressão é cláusula pétrea combinada com
outras cláusulas pétreas, completou. "Tem que respeitar os direitos humanos,
a imagem das pessoas, a intimidade." Daí, arrematou, vem a histórica
questão do jornalismo, até onde se é invasivo e se vai além do que se pode
fazer, citando o exemplo do jornalista que invadiu o condomínio de um parente
do ex-presidente Lula para fazer uma reportagem.
Fonte:
Jornal do Brasil e Rede Brasil Atual
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