11 agosto
2016, ODiario.info http://www.odiario.info (Portugal)
Neste artigo, o
coronel Carlos de Matos Gomes (reformado) que combateu como oficial dos
Comandos na guerra colonial em Angola, na Guiné Bissau e em Moçambique arranca
a mascara aos media e à televisão portuguesa.
Para que servem as primeiras páginas dos jornais e os grandes casos dos
noticiários das TV?
Se pensarmos no que as primeiras páginas e as aberturas dos telejornais
nos disseram enquanto decorriam as traficâncias que iriam dar origem aos casos
do BPN, do BPP, dos submarinos, das PPP, dos SWAPs, da dívida, e agora do
Espírito Santo, é fácil concluir
que servem para nos tourear.
Desde 2008 que as primeiras páginas dos Correios das Manhas, os
telejornais das Moura Guedes, os comentários dos Medinas Carreiras, dos Gomes
Ferreiras, dos Camilos Lourenços, dos assessores do Presidente da República,
dos assessores e boys dos gabinetes dos ministros, dos jornalistas de
investigação, nos andam a falar de tudo e mais alguma coisa, excepto das
grandes vigarices, aquelas que, de facto, colocam em causa o governo das nossas
vidas, da nossa sociedade, os nossos empregos, os nossos salários, as nossas
pensões, o futuro dos nossos filhos, dos nossos netos. Que me lembre falaram do
caso Freeport, do caso do exame de inglês de Sócrates, da casa da mãe do
Sócrates, do tio do Sócrates, do primo do Sócrates que foi treinar artes
marciais para a China, enfim que o Sócrates se estava a abotoar com umas massas
que davam para passar um ano em Paris, mas nem uma página sobre os Espírito
Santo! É claro que é importante saber se um primeiro ministro é merecedor de
confiança, mas também é, julgo, importante saber se os Donos Disto Tudo o são.
E, quanto a estes, nem uma palavra. O máximo que sei é que alguns passam férias
na Comporta a brincar aos pobrezinhos. Eu, que sei tudo do Freeport, não sei
nada da Rioforte! E esta minha informação, num caso, e falta dela, noutro, não
pode ser fruto do acaso. Os directores de informação são responsáveis pela
decisão de saber uma e desconhecer outra.
Os jornais, os jornalistas, andaram a tourear o público que compra
jornais e que vê telejornais.
Em vez de directores de informação e jornalistas, temos novilheiros, bandarilheiros, apoderados, moços de estoques, em vez de notícias temos chicuelinas.
Em vez de directores de informação e jornalistas, temos novilheiros, bandarilheiros, apoderados, moços de estoques, em vez de notícias temos chicuelinas.
Não tenho nenhuma confiança no espírito de auto critica dos jornalistas que dirigem e condicionam o meu acesso à informação: todos eles aparecerão com uma cara à José Alberto de Carvalho, à Rodrigues dos Santos, à Guedes de Carvalho, à Judite de Sousa (entre tantos outros) a dar as mesmas notícias sobre os gravíssimos casos da sucata, dos apelos ao consenso do venerando chefe de Estado, do desempenho das exportações, dos engarrafamentos do IC 19, das notas a matemática, do roubo das máquinas multibanco, da vinda de um rebenta canelas uzebeque para o ataque do Paiolense de Cima, dos enjoos de uma apresentadeira de TV, das tiradas filosóficas da Teresa Guilherme. Todos continuarão a acenar-me com um pano diante dos olhos para eu não ver o que se passa onde se decide tudo o que me diz respeito.
Tenho a máxima confiança no profissionalismo dos directores de
informação, que eles continuarão a fazer o que melhor sabem: tourear-nos.
Abanar-nos diante dos olhos uma falsa ameaça para nos fazerem investir contra
ela enquanto alguém nos espeta umas farpas no cachaço e os empresários
arrecadam o dinheiro do respeitável público.
Não temos comunicação social: temos quadrilhas de toureiros, uns a pé,
outros a cavalo.
Uma primeira página de um jornal é, hoje em dia e após o silêncio sobre os Espírito Santo, um passe de peito.
Uma primeira página de um jornal é, hoje em dia e após o silêncio sobre os Espírito Santo, um passe de peito.
Uma segunda página será uma sorte de bandarilhas.
Um editor é um embolador, um tipo que enfia umas peúgas de couro nos
cornos do touro para a marrada não doer.
Um director de informação é um “inteligente” que dirige uma corrida.
Quando uma estação de televisão convida um Camilo Lourenço, um Proença
de Carvalho, um Gomes Ferreira, um João Duque, um Judice, um Marcelo, um Miguel
Sousa Tavares, um Ângelo Correia, devia anunciá-los como um grupo de forcados:
Os Amadores do Espírito Santo, por exemplo. Eles pegam-nos sempre e
imobilizam-nos. Caem-nos literalmente em cima.
As primeiras páginas do Correio da Manhã podiam começar por uma
introdução diária: Para não falarmos de toiros mansos, os nossos queridos
espectadores, nem de toureios manhosos, os nossos queridos comentadores, temos
as habituais notícias de José Sócrates, do memorando da troika, da imperiosa
necessidade de pagar as nossas dividas.
Todos os programas de comentário político nas TV deviam começar com a
música de um passo doble. Ou com a premonitória “Tourada” do Ary dos Santos,
cantada pelo Fernando Tordo.
O silêncio que os “negócios “ da família “Dona Disto Tudo” mereceu da
comunicação social, tão exigente noutros casos, é um atestado de cumplicidade:
uns, os jornalistas venderam-se, outros queriam ser como os Espirito Santo. Em
qualquer caso, as redacções dos jornais e das TV estão cheias de Espiritos
Santos. Em termos tauromáticos, na melhor das hipóteses não temos jornalistas,
mas moços de estoques. Na pior, temos as redacções cheias de vacas a que se
chamam na gíria as “chocas”.
O que o silêncio cúmplice, deliberadamente cúmplice, feito sobre o caso
Espirito Santo, o que a técnica do desvio de atenções, já usada por Goebels, o
ministro da propaganda de Hitler, revelam é que temos uma comunicação social
avacalhada, que não merece nenhuma confiança.
Quando um jornal, uma TV deu uma notícia na primeira página sobre
Sócrates ( e falo dele porque a comunicação social montou sobre ele um operação
de barragem pelo fogo, que na altura justificou com o direito a sabermos o que
se passava com quem nos governava e se esqueceu de nos informar sobre quem se
governava) ficamos agora a saber que esteve a fazer como o toureiro, a
abanar-nos um trapo diante dos olhos para nos enganar com ele e a esconder as
suas verdadeiras intenções: dar-nos uma estocada fatal!
Porque será que comentadores e seus patrões, tão lestos a opinar sobre
pensões de reforma, TSU, competitividade, despedimentos, aumentos de impostos,
gente tão distinta como Miguel Júdice, Proença de Carvalho, Ângelo Correia,
Soares dos Santos, Ulrich, Maria João Avilez e esposo Vanzeller, não aparecem
agora a dar a cara pelos amigos Espirito Santo?
Porque será que os jornais e as televisões não os chamam, agora que
acabou o campeonato da bola?
Um grande Olé aos que estão agachados nas trincheiras, atrás dos
burladeros!
*Carlos de Matos
Gomes: Nascido em 24/07/1946, em V. N. da Barquinha. Coronel do Exército
(reforma). Cumpriu três comissões na guerra colonial em Angola, Moçambique e
Guiné, nas tropas especiais «comandos».
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