28 agosto 2016, Brasil 247 http://www.brasil247.com
(Brasil)
Presidente afastada enfrenta nesta segunda-feira (29) o
seu segundo interrogatório em defesa da democracia brasileira; corte de exceção
da vez é o Senado da República, cujos integrantes seguem fielmente o roteiro já
determinado do golpe, em um impeachment sem crime; é impossível não associar a
inquirição atual àquela de novembro de 1970, no Rio de Janeiro, onde a jovem
Dilma, com 22 anos, após 22 dias de tortura nos cárceres da ditadura, era
interpelada por uma junta de covardes uniformizados, com as mãos sobre os
rostos para esconder suas
identidades.
247 - A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) encara nesta
segunda-feira (29) o seu segundo interrogatório em defesa da democracia
brasileira. O tribunal da vez é o Senado da República, que deveria ser o
bastião de liberdade, mas que sombriamente tornou-se nos últimos dias uma praça
de exceção, dentro de um roteiro já determinado do golpe contra a presidente e
ao menos 54,5 milhões de brasileiros que a nela depositaram seus votos nas
últimas eleições.
É impossível não associar o
interrogatório desta segunda-feira àquele de novembro de 1970, no Rio de
Janeiro, onde a jovem Dilma, com 22 anos, após 22 dias de tortura incessante
nos cárceres da ditadura, era interrogada por uma junta de covardes
uniformizados, com as mãos sobre os rostos na tentativa de esconder suas
vergonhas. Aquele interrogatório, como este, será inscrito nos livros como dois
dos episódios mais repugnantes da história brasileira.
O que diferencia os dois
tribunais é a evolução do cinismo daqueles que, hoje no Senado, assemelham-se
aos personagens de 1964. Saíram das sombras e hoje mostram as faces sem rubor,
seguidos de uma horda de traidores que dançam conforme a música do golpe tocada
no Palácio do Jaburu, quartel general do arbítrio contemporâneo.
Dilma hoje representa a
figura da decência em um mar de iniquidade. Reflete o Brasil que é visto com
alegria e potencial de transformações sociais no mundo. Sua deposição, ao
contrário, constrange os golpistas e macula o nação aos olhos internacionais. O
golpe é descrito com precisão nos jornais francês L’Humanité como o golpe do
colarinho branco e mesmo no norte-americano The New York Times como um ataque
de ratos contra uma Dilma acuada.
Dilma, ao enfrentar seus
algozes pela segunda vez, novamente de peito aberto, refaz a jornada da heroína
em um roteiro capaz de esculpir um mito de resistência democrática. Assim será
ela descrita na história.
Há o risco, porém, de que a
sessão do Senado se transforme novamente em um circo, uma tentativa de turvar a
lente da história. Reunidos, os golpistas falam em recepção respeitosa e em
liturgia; tentam atribuir a baderna que se tornou o Senado aos defensores da
presidente afastada. Não admitirão sequer a menção da palavra golpe, por
ninguém. Estão dando a senha de que a sessão será propositalmente
tumultuada.
O mas histriônico
dentre os golpistas, Ronaldo Caiado (DEM-GO), já ensaia sua ode de provocação.
Revelou, em tom de basófia, que pretende cantar “Amanha vai ser outro dia...”,
de Chico Buarque, um hino contra a ditadura. Chico estará na galeria, com Lula,
entre os convidados da presidente.
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