31 julho
2016, Jornal Domingo jornaldomingo.co.mz (Moçambique)
A equipa
económica do governo mostrou a sua disponibilidade em manter a interacção com o
sector privado para remover as barreiras que minam o desenvolvimento das
empresas nacionais. Mas, deixou claro que “não confunde sector privado
produtivo com intermediários”, isto porque persiste uma pressão muito forte
sobre o mercado cambial para a importação de bens de consumo no lugar de se
investir na produção.
A XIV
Conferência Anual do Sector Privado (CASP) foi o primeiro que foi realizado sob
a direcção do presidente Filipe Jacinto Nyusi e que aconteceu
numa altura em
que o país precisa se unir em torno da produção, porque está claro que viver de
importações só complica as contas e balanços macroeconómicos.
O sector
privado já tinha apresentado parte das suas posições, inclusive ao nosso
jornal, na edição da semana passada, e o governo optou por faze-lo ao vivo e a
cores explicando a todos os presentes que o país precisa equilibrar a balança
das exportações e importações cujo peso maior se situa nas importações, o que é
de todo mau para a economia nacional.
Coube ao ministro
da Economia e Finanças, Adriano Maleiane o papel de explicar com números que em
momentos de crise, gerada por factores internos e externos, muitos deles de
carácter monetário, as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) devem começar a
produzir porque importar se torna mais caro.
“Não
olhem para a depreciação como um mal. Temos é que trabalhar para termos uma
taxa de equilíbrio. Não podemos lamentar. Se alguém quer lamentar não pode ser
um membro da Confederação das Associações Económicas (CTA) porque se entende
que se está associado é porque está a produzir e não a importar apenas”,
frisou
Numa
autêntica aula de economia que, pelo que testemunhamos, muitos estavam a
precisar, Maleiane fez saber que o país escolheu colocar no cimo das suas metas
o Emprego, Produção e Competitividade. “Para combatermos a pobreza é preciso
que cada um tenha um rendimento e esse pode vir da aposta na agricultura”,
disse.
Para que
ficasse clara a razão da escolha daqueles três alvos, o ministro da Economia e
Finanças recorreu a alguns números. Disse que em 2015, a população mundial era
de 7,5 biliões, dos quais três biliões é que trabalhavam e apenas 1,5 bilião é
que tinham emprego fixo. Deste universo da população, dois biliões são mulheres
que não trabalham e nem estão a procura de emprego.
Mas, para
que todos percebessem o alcance, Maleiane ampliou o foco e versou sobre os
números da África Subsaariana onde 35 por cento da população está na
agricultura e 50 por cento no sector informal. Aqui no nosso país, 300 mil
jovens são colocados no mercado do emprego todos os anos. “Temos a terra,
que é o capital, a mão-de-obra em excesso e só falta a tecnologia” disse.
Um outro
assunto que preocupa o sector privado é a cotação do dólar que se torna a cada
dia mais forte. Maleiane explicou que a depreciação não deve ser vista como um
mal, mas sim como uma dinâmica. “O dólar é uma mercadoria e, assim sendo,
quando não há no mercado se torna cara e se há em excesso se torna barata, como
mandam as leis da procura e da oferta”.
Assim sendo,
convidou o sector privado a evitar dolarizar a economia porque a fixação de
preços de bens e serviços em dólares, no território nacional, não ajuda a
compensar a política monetária e de competitividade das empresas.
“De nada
nos serve o facto de a nossa economia depender de importações. Por mim, 100 por
cento do que se usa para a produção deviam ser matérias-primas nacionais”,
sublinhou.
Reduzir
desigualdades
Antes do
debate dos temas, o Chefe de Estado, Filipe Nyusi fez um discurso que elucidou
aos presentes sobre o rumo que o país deve seguir na perspectiva social,
económica e política. “O desafio hoje é o de crescer mais do que fomos
capazes de fazê-lo ontem, mantendo a estabilidade macroeconómica conquistada,
criar mais empregos, respeitando o meio ambiente e trabalhando para reduzir as
gritantes desigualdades sociais”, disse.
Para o
Presidente da República, pretende-se que o sector privado continue a apostar no
desenvolvimento do capital humano, ampliando a empregabilidade dos cidadãos
moçambicanos para que, através da formação técnico-profissional, possam ter as
competências susceptíveis de serem absorvidas pelo sector produtivo.
Frisou que o
modelo de desenvolvimento económico que o país almeja ainda está dentro de uma
floresta densa e não desbravada, portanto, não se assemelha em nada com o que
já foi feito até aqui. “Temos que com vontade e entrega, encontrar saída
airosa para a economia moçambicana”, sublinhou.
Mais adiante
disse que “enquanto houver fome, miséria, desemprego e notórias
desigualdades sociais, o nosso “Contrato Social” com o povo não estará ainda
realizado e os conflitos entre os moçambicanos continuarão”.
Para
confortar o empresariado, o presidente Nyusi disse que o facto de a economia
não estar com um bom desempenho, não pode induzir a que estes cruzem os braços
e se afoguem no mar de desespero. “Façamos o contrário. Lembrem-se que uma
das principais características de um empreendedor é justamente saber
identificar bons negócios, em qualquer momento, e sobretudo em situações
adversas e difíceis”.
Transformação
local
O
Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, que encerrou o evento, apelou
aos empresários nacionais para que mudem o actual paradigma e apostem na
transformação local das matérias-primas para acrescentar valor aos produtos de
exportação.
Disse que “é
essencial que continuem a primar pela melhoria dos padrões de qualidade no
cumprimento dos contratos e na observação rigorosa dos prazos, para além de
apostar no aumento da produção de bens de exportação para tirar vantagem da
actual depreciação cambial que está a afectar a moeda nacional, o metical, em
relação ao dólar americano”.
Porque a CTA
entendia que pouco ou nada avançou no que se refere ao diálogo público-privado,
Carlos Agostinho do Rosário recordou que foi no quadro deste novo modelo que
foram desenvolvidas diversas acções com destaque para a revisão da Pauta
Aduaneira, que vai incentivar, após a sua aprovação, pela Assembleia da
República, o desenvolvimento da actividade agrícola e industrial no território
nacional.
Lembrou
ainda que foi aprovada a Política e Estratégia Industrial que visa estimular o
aumento da produção, produtividade e emprego, com enfoque nas zonas rurais. Foi
revisto o Regulamento de Contratação de Empreitadas de Obras Pública,
Fornecimento de Bens e prestação de Serviços ao Estados para assegurar que as
Pequenas e Médias Empresas tenham acesso aos concursos públicos.
Prometeu
que, com vista a melhorar o ambiente de negócios e impulsionar o crescimento
sustentável do sector privado o governo vai implementar um conjunto de acções,
com destaque para a melhoria de liquidação das facturas referentes a
Contratação de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao
Estado pelos agentes económicos.
Ainda neste
quadro, deverá se apostar na promoção e incentivo de Parcerias Público-Privadas
de forma a garantir a implementação de projectos estruturantes para o
desenvolvimento da economia moçambicana. “A par destas acções, iniciamos a
discussão da proposta de Lei do conteúdo nacional, actividade que sem o impulso
do Sector privado não teria nem terá o impacto desejável”, disse.
O
Primeiro-ministro defende que o alcance dessas acções vai depender, sobretudo
do capital humano, dai que o governo vai continuar a apostar no ensino
técnico-profissional para conferir aos jovens competências técnicas requeridas
no mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo.
Assim, o
governo se comprometeu que vai assegurar o acompanhamento da empregabilidade de
cidadãos nacionais nos grandes projectos, bem como a transferência de
conhecimentos e tecnologias de cidadãos estrangeiros para nacionais.
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