22 agosto 2016, Brasil 247 http://www.brasil247.com
(Brasil)
Em entrevista ao jornalista
Roberto Cabrini, a presidente eleita Dilma Rousseff afirmou que jamais jogará a
toalha e explicou por que o atual processo de impeachment é um golpe contra a
democracia brasileira; “Sou vítima de um julgamento fraudulento, que tem
como objetivo fazer uma eleição indireta”, disse ela; na entrevista, Dilma
voltou a qualificar Michel Temer como traidor, não apenas por tê-la traído, mas
também o programa vitorioso nas urnas; Dilma disse ainda que jamais renunciaria
e
falou sobre eventual prisão do ex-presidente Lula, o que seria, segundo ela,
"uma temeridade".
247 – Em entrevista concedida ao jornalista Roberto
Cabrini e exibida nesta madrugada, a presidente Dilma Rousseff falou do
processo de impeachment, da traição do interino Michel Temer e da perseguição
judicial ao ex-presidente Lula, entre outros temas.
“Não tenho a menor intenção de renunciar. Não dou esse
presente a eles”, disse Dilma, ao ser questionada sobre a hipótese de renúncia.
Ela também lembrou que “jamais vai jogar a toalha”.
Em relação ao processo de impeachment, ela afirmou que
ocorre porque muitos, como disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR), querem
estancar a sangria da Lava Jato porque “temem alguma delação”.
Ela também explicou por que o processo atual não passa
de um golpe de estado. “Sou vítima de um julgamento fraudulento, que tem
como objetivo fazer uma eleição indireta”, afirmou, lembrando que seus
antecessores também cometeram as chamadas pedaladas fiscais. “Ou é crime
para todo mundo ou não é para ninguém”, afirmou.
Dilma também disse que Temer traiu não apenas a ela,
mas também os eleitores. “Temer não foi eleito para fazer o que está
fazendo. Foi eleito com o meu programa de governo”.
Em relação aos escândalos de corrupção, ela disse não
ter qualquer responsabilidade. “Não tenho responsabilidade nenhuma se um
funcionário da Petrobras resolveu ser corrupto”. Mesmo em relação a acusações
de caixa dois para o marqueteiro João Santana, ela disse não ter qualquer
envolvimento. “Eu não reconheço, eu não paguei. Não vou assumir responsabilidade
sobre o que eu não controlo. É público e notório que não participei.”
Ela também defendeu o presidente Lula, dizendo que uma
eventual prisão do ex-presidente seria “uma temeridade”.
----------
GOLPE FARÁ O BRASIL VOLTAR A SER QUINTAL DOS ESTADOS UNIDOS
22 agosto 2016, Brasil 247 http://www.brasil247.com
(Brasil)
"O Brasil entrou
no centro da disputa geopolítica mundial. Tem riquezas naturais, mercado
interno, posição estratégica", diz a jornalista Eleonora de Lucena, que
foi editora-executiva da Folha; segundo ela, "os Estados Unidos, acostumados
a nadar de braçada no continente, começaram a ver o avanço chinês no que
consideram seu quintal" e decidiram reagir; ela avalia que esse projeto de
recolonização é o real propósito do golpe por trás da chegada de Michel Temer
ao poder, mas faz um alerta: "o Senado vai enfrentar o julgamento da
história"
247 – O golpe de 2016 faz parte de um projeto de
recolonização do Brasil e fará com que o País volta a ser, como no passado, um
quintal dos Estados Unidos.
A avaliação é da jornalista Eleonora de Lucena, que
foi editora-executiva da Folha de S. Paulo, em artigo publicado nesta
segunda-feira.
Leia abaixo:
TRUCULÊNCIA
Eleonora de Lucena
O Brasil entrou no centro da disputa geopolítica
mundial. Tem riquezas naturais, mercado interno, posição estratégica. Construiu
economia diversificada e complexa, terreno para grandes empresas nacionais e
ambiente potencial para desenvolvimento de tecnologias de ponta.
Os Estados Unidos, acostumados a nadar de braçada no
continente, começaram a ver o avanço chinês no que consideram seu quintal.
Investimentos, comércio, parcerias com os orientais cresceram de forma
exponencial.
Não parece ser coincidência a intenção norte-americana
de voltar a ter bases militares na América do Sul (na sempre sensível tríplice
fronteira e na Patagônia, que vigia o estreito de Magalhães, curva entre dois
mundos). Nem parece ser ao acaso a escolha dos alvos do momento: a Petrobras,
as grandes empresas e até o programa nuclear.
Nos últimos anos, o país mostrou zelar por sua
autonomia e buscou alianças fora da influência dos EUA. Com China, Rússia,
Índia e África do Sul, o Brasil ergueu os Brics e um banco de desenvolvimento
inovador.
Aqui, reforçou o Mercosul – alvo imediato de ataque
feroz do interino, afoito em mostrar serviço para o Norte e ressuscitar
relações subalternas.
Esse contexto maior escapa da verborragia
conservadora, ansiosa em reduzir a crise atual a um confronto raso entre
supostos corruptos e hipotéticos éticos. Bastaram poucas semanas para deixar
evidente a trama hipócrita e podre do bando que tenta abocanhar o poder.
O que está em jogo é muito mais do que uma simples
troca de governo. É a própria ideia de país.
Falar de luta de classes e de projeto nacional deixou
alguns leitores ouriçados. Mas, apesar da operação de marketing em curso, os
objetivos do atropelo à Constituição são claros: concentrar riqueza, liberar
mercados, desnacionalizar a economia, desmantelar o Estado.
O discurso dos sem-voto que se aboletaram no Planalto
tenta editar um macarthismo tosco, elegendo um inimigo interno. Agridem os de
vermelho (sempre eles!), citados como os culpados de todo o mal, numa manobra
conhecida dos movimentos fascistas desde o início do século 20.
Quem se atreve a discordar do rolo compressor elitista
é logo tachado de "maluco" pelos replicantes da direita raivosa. Dizem
que os que apontam as contradições atuais são saudosos do século 19.
Viúvos do século 19 são os que querem agora surrupiar
direitos e restabelecer condições de exploração do trabalho daqueles tempos.
Com a retórica de uma suposta modernidade, atacam conquistas sociais e pregam o
desmonte da corajosa Constituição de 1988.
Alegam que a matemática não permite que o Estado
cumpra suas funções perante os cidadãos. Para eles, a matemática deve servir
apenas aos mais ricos e a seus juros maravilhosos. Num giro chinfrim, mandam às
favas o tal controle do deficit público: gastam tudo para atender corporações,
amigos e ganhar votos.
Com uma cortina de fumaça, arriscam confundir esquerda
com autoritarismo. Projetam, assim, no adversário, os seus desejos ocultos. Afinal,
o programa dos não eleitos só poderá ser implantado integralmente num regime de
força, que censure e elimine a voz dos mais fracos.
As exibições de truculência absurda nos estádios da
Olimpíada, proibindo manifestações de "Fora, Temer!" e rasgando os
direitos constitucionais de livre manifestação e opinião, parecem ser uma
terrível amostra de tempos sombrios pela frente.
O Senado vai enfrentar o julgamento da história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário