3 agosto 2014, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)
Tyler Durden, ZeroHedge –
http://goo.gl/d1g1YZ
“Uma coalização antidólar será o primeiro passo para criar-se uma
coalizão antiguerra capaz de deter a agressão norte-americana.”
Já faz algum tempo que tanto a Ucrânia como a resposta russa às
sanções (que puseram em movimento o grande eixo eurasiano, aproximando China e
Rússia e acelerando o negócio “Santo Graal” de gás entre os dois países)
deixaram as manchetes. Mas ainda não se entendeu por que a imprensa-empresa
ucraniana largou a cobertura da Ucrânia como se fosse batata quente, sobretudo
porque a guerra civil prossegue no Donbass ucraniano e continua a fazer dúzias
de mortos dos dois lados.
O mais provável é que o público tenha-se cansado de ouvir metáforas
sobre jogos de xadrez ou de damas entre Putin e Obama, e tenha sido despachado
para ler a propaganda que cerca as metáforas ‘analíticas’ e os eventos mortais
da 3ª guerra do Iraque, como há tantas décadas.
Mas é provável que ‘sair do foco’ seja exatamente o que mais deseja
a elite política russa. De fato – como noticia Valentin Mândrăşescu, editor de
Voice of Russia –, enquanto a grande máquina norte-americana de distrair a
atenção popular foca-se em outros temas, a Rússia já se prepara para os passos
seguintes.
Assim se chega a um conselheiro de Putin, Sergey Glazyev – o homem
que, no início de março, foi o primeiro a sugerir que a Rússia se livrasse dos
títulos dos EUA e abandonasse
o sistema do dólar, como retaliação contra as
sanções – estratégia que funcionou naquele momento, porque, apesar de o Kremlin
ter conservado integralmente o controle sobre a Crimeia, as sanções ocidentais
pararam como por passe de mágica. (E não só isso como, também, como acaba de
informar o banco centra da Rússia, o superávit do país em conta corrente de
2014 pode alcançar $35 bilhões, bem superior aos $33 bilhões de 2013, e
distantíssimo dos inventados “mais de $200 bilhões” de capitais que fugiriam da
Rússia e sobre os quais muito falava recentemente Mario Draghi).
Glazyev foi também quem empurrou o Kremlin a aproximar-se da China
e forçou que os russos assinassem o acordo de gás com Pequim (mesmo que não
tenha sido assinado nos termos que mais interessariam à Rússia naquele
momento).
É esse o Glazyev que publicou artigo na revista russa Argumenty
Nedeli,[1] no qual delineou um plano para “minar a força econômica dos EUA” e,
assim, forçar os EUA a pôr fim à guerra civil na Ucrânia. Glazyev entende que o
único meio para impedir que os EUA iniciem uma nova guerra fria é pôr abaixo o
sistema do dólar.
Como Voice of Russia resume o artigo publicado em Argumenty
Nedeli,[2] o conselheiro econômico de Putin e homem que concebeu a União
Econômica Eurasiana argumenta que Washington está tentando provocar uma
intervenção militar da Rússia na Ucrânia, usando a Junta de Kiev como isca. Se
desse certo, o plano daria a Washington várias importantes vantagens.
Primeiro, permitiria que os EUA introduzissem novas sanções contra
a Rússia, riscando as posições russas em papéis do Tesouro dos EUA. Mais
importante: uma nova onda de sanções criará uma situação na qual empresas
russas não terão como honrar os juros de suas dívidas com bancos europeus.
Nas palavras de Glazyev, a chamada “terceira fase” de sanções
contra a Rússia terá custo tremendo para a União Europeia. O total da perda
estimada será superior a 1 trilhão de euros. Essas perdas ferirão gravemente a
economia europeia, convertendo os EUA em único “paraíso seguro” do planeta.
Sanções fortes contra a Rússia também deslocarão dos mercados europeus de
energia a empresa russa Gazprom, o que deixará aqueles mercados abertos à
entrada do gás natural liquefeito – muito mais caro – que os EUA têm para
vender.
Co-optar os países europeus para uma nova corrida armamentista e de
operação militar contra a Rússia fará aumentar também a influência política dos
EUA na Europa, e ajudará os EUA a forçar a União Europeia a engolir a versão
norte-americana do Tratado TTIP [Transatlantic Trade and Investment Partnership]
– acordo comercial que, basicamente, converterá a União Europeia em grande
colônia econômica dos EUA.
Glazyev entende que iniciar uma nova guerra na Europa trará só
benefícios para os EUA e só problemas para a União Europeia. Em inúmeras vezes,
Washington já usou guerras globais e regionais como ferramentas para favorecer
a economia norte-americana; agora, a Casa Branca tenta usar a guerra civil na
Ucrânia como pretexto para repetir o velho truque.
Glazyev: “Só nos resta atacar a máquina de imprimir dinheiro do
FED”.
O conjunto de contramedidas que Glazyev propõe toma por alvo,
especificamente, o coração que bombeia ‘energia’ para a máquina de guerra dos
EUA: as impressoras que imprimem dinheiro no FED.
O conselheiro de Putin propõe que se crie uma “ampla aliança
antidólar” de países que desejem e possam extrair o dólar de seu comércio
internacional. Membros da aliança também têm de abandonar instrumentos de
reservas denominados em dólares.
Glazyev aconselha tratar os instrumentos denominados em dólares
como papeis-lixo [3] e que os reguladores devem exigir colateralização total
desses papeis. Uma coalização antidólar será o primeiro passo para a criação de
uma coalizão antiguerra capaz de deter a agressão norte-americana.
Não surpreendentemente, Sergey Glazyev entende que o papel
principal para que se crie essa coalizão política deve caber à comunidade
empresarial e de negócios da Europa, porque as tentativas dos EUA para iniciar
grande guerra na Europa e guerra fria contra a Rússia ameaçam, em primeiro
lugar, o big business europeu.
A julgar pelos recentes esforços para deter as sanções contra a
Rússia empreendidos por líderes empresariais alemães, franceses, italianos e
austríacos, o conselheiro de Putin está correto em sua avaliação. Washington
não parece ter previsto que a guerra pela Ucrânia pode, em pouco tempo,
converter-se em guerra pela independência da Europa – que pode interessar-se
por livrar-se do domínimo pelos EUA – e guerra contra o dólar.
[1] http://argumenti.ru/toptheme/n441/344574?fb_action_ids=767921596586455&fb_action_types=og.recommends
[2] http://voiceofrussia.com/2014_06_18/Putins-aide-proposes-anti-dollar-alliance-to-force-US-to-end-Ukraines-civil-war-8030/
[3] Orig. Junk Bond – Expressão coloquial que designa
papeis de alto risco ou não recomendados para investimento. São instrumentos de
renda fixa que recebem grau “BB” ou inferior da agência de avaliação de risco
Standard & Poor's, ou “Ba”, da Moody's. Junk bonds são chamados assim por
causa do mais alto grau de risco de não serem pagos em relação aos papeis com
boa avaliação para investimento [dehttp://www.investopedia.com/terms/j/junkbond.asp].
----------------------
BRICS, БРИКС: Brasil, Rússia, Índia, China, South
Africa, Бразилия, Россия, Индия, Китай, Южная Африка
s-lixo
Nenhum comentário:
Postar um comentário