quinta-feira, 21 de agosto de 2014

INTERDEPENDÊNCIA DAS ECONOMIAS AFRICANAS

18 agosto 2014, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)

 

Roger Godwin

Para fazer frente aos importantes desafios que se avizinham no futuro próximo o continente africano, cada vez mais, precisa de se interligar de modo a que possa suprir as dificuldades financeiras que cada Estado, periodicamente, enfrenta no caminho rumo ao desenvolvimento.

Velhos líderes africanos, como Robert Mugabe, não se cansam de clamar por uma maior conexão económica entre os países do continente como forma de, por um lado, resistirem à crise internacional que se prolonga há vários anos e, por outro, como modo de evitar a interferência de parceiros ocidentais que, invariavelmente, fazem dos negócios uma crescente forma de pressão política.

Um crescimento desigual entre
países africanos tem sido o grande responsável para o adiamento de uma maior união que tenha reflexos directos nas trocas comerciais e no estabelecimento de parcerias económicas.

Porém, independentemente da livre abertura de mercados para a livre circulação de mercadorias e bens, existem outros sectores que poderiam ser explorados e que potencializariam um maior equilíbrio entre as diferentes economias regionais.

Na verdade a criação de incentivos oficiais de modo a que as exportações de determinados países africanos para outros pudessem ser feitas com o apoio de instituições financeiras poderia ser um passo importante no sentido de, sem as amarras de acordos gerais como existem no seio da União Europeia, projectar uma maior cooperação inter-regional.

Mesmo que para muitos isso possa parecer uma mentira, a verdade é que cada vez mais se acentua a interdependência das economias africanas, primeiro a nível de blocos regionais e, depois, de forma mais ampla, com reflexo em toda a extensão do continente. Aquilo que alguns países já estão a fazer é lutar para incentivar a criação de um logotipo nacional que potencialize as suas capacidades produtivas e possa competir com aquilo que é produzido noutros continentes.

Os países que assim actuam estão a dar os primeiros passos para se impor no mercado de exportação, com o objectivo primário de entrar em mercados internacionais mais globais e que não fiquem circunscritos no continente africano.

A Nigéria, Angola e a África do Sul, por exemplo, estão a desenvolver grandes esforços no sentido de penetrar em mercados como o asiático e o europeu, mas têm encontrado as oposições que seriam expectáveis face à actual conjuntura internacional de uma crise que está quase generalizada.

É para vencer essas dificuldades que está a surgir uma nova geração de empresários que aposta na estratégia de explorar o mercado africano, passando assim por cima dos aspectos políticos que, por vezes, condicionam o estabelecimento de negócios e parcerias importantes para o próprio desenvolvimento e crescimento do continente.

Países como o Zimbabwe, marcado por confrangedoras sanções económicas impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos, que condicionam toda a sua produção interna, estão a tentar encontrar no interior do continente parceiros que possam responder às suas aspirações em torno do estabelecimento de metas e políticas de exportação.

Com a sua indústria praticamente paralisada – devido às dificuldades de importar matéria-prima e face à escassez de mercado internacional para onde exportar o pouco que produz – o Zimbabwe tem todo o interesse em criar um mercado africano que possa satisfazer as suas aspirações económicas. Neste momento a África do Sul tem sido o “parceiro e amigo” com quem se relaciona, mas existe da sua parte todo o interesse em abrir novos horizontes, sobretudo agora que as descobertas diamantíferas começaram a resultar na entrada de dinheiro fresco que pode ser usado para revitalizar a sua indústria desde que existam, obviamente, mercados para onde exportar a sua produção.

Os diferentes blocos regionais que existem no continente deveriam ser as plataformas ideais para que este assunto fosse discutido de modo a que começassem a surgir alguns consensos sobre a forma de enquadrar politicamente esses eventuais acordos ou entendimentos.

Na 34ª cimeira da SADC que está a decorrer em Victoria Falls e na qual o Zimbabwe assumirá a presidência da organização, embora ainda não exista um consenso sobre a livre circulação de mercadorias e bens, já se verificou a intensificação do interesse em relação a este assunto e, mais importante, a forma atenta como ele foi seguido por países que não fazem parte deste bloco regional.

Importantes representações oficiais da Argélia, Palestina e Japão, entre outras, fizeram questão de marcar presença no evento e mostrarem, desse modo, o seu interesse em dialogar e participar nos assuntos que preocupam, em primeiro lugar, aos países que compõem a SADC e, em segundo, terão um impacto directo no futuro de todo o continente africano.

Cada vez mais é importante que os países africanos tenham a clarividência de separar aquilo que são os interesses económicos dos políticos, de modo a que possam desenvolver e crescer sem as amarras de estratégias muitas das vezes impostas de fora para dentro, que apenas servem para ditar a sua dependência de interesses que não são os seus e que resultam no adiar do seu inevitável avanço em direcção ao futuro.


Um parceiro económico ou comercial, do ponto de vista politico, oferece muito menos riscos de que aquele que se mostra sempre disponível mas que atrás de si arrasta exigências e estratégias que raramente são claramente definidas.

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