10 agosto 2013, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
O então tenente-coronel Fidencio González Peraza (no
centro), junto ao capitão Fernando Fuentes Rivero (à esquerda) e ao major
Diógenes Bell Sessé pouco depois de finalizado o combate.
Lembranças
do Herói da República de Cuba, Fidencio González Peraza, chefe das tropas
cubano-angolanas nessa pequena aldeia africana
Dilbert
Reyes Rodríguez/Granma
“De
Cangamba nunca é possível dizer tudo”, confessa o Herói da República de Cuba,
coronel (r) Fidencio González Peraza.
Lembranças
demais se amontoam na memória do chefe militar 30 anos após a épica batalha,
porque intensos demais também foram os acontecimentos naquela porção agreste de
solo angolano, na qual durante oito dias ― embora o assédio artilheiro tinha
começado vários meses antes ―, mais de 80 cubanos e um grupo maior de
combatentes nacionais venceram , a força de coragem e resistência sobre-humana,
a poderosa ofensiva inimiga.
De
Cangamba, Peraza prefere sempre o legado, o símbolo, que recorrer à história
cronológica do fato acontecido entre 2 e 10 de agosto de 1983. De todas formas,
revive isso na remembrança de cada companheiro tombado, de cada amanhecer sob
metralha, das provas mais cruentas, da sede e da fome...
“Mas
tínhamos a convicção irrevocável de resistir a todo custo, conforme os
ensinamentos do comandante-em-chefe Fidel. Nunca foi uma opção render-nos.
Tínhamos aprendido isso de nossas melhores tradições patrióticas.
“Por isso
nos minutos mais difíceis, plantados nas fronteiras, as lembranças mais
alentadoras foram as de Maceo no combate, as do comandante Almeida em Alegría
de Pío. Por muito minguadas que estivessem as forças, sempre alcançaram para
gritar ao inimigo várias vezes cada noite: Aqui não se rende ninguém!” e mais
alguns palavrões.
Em
Cangamba, o espírito de irrevocável persistência superou os limites do
humanamente possível; pois além de vencer o tempo prolongado que durou a
batalha, da posição crítica dentro dum cerco apenas a 20 metros do contrário,
da angústia irracional de sobreviver sem água nem alimentos, as histórias
pessoais revelam capítulos dolorosos que no exemplo do coronel Peraza convocam
ao respeito e à lágrima.
“A guerra
é forte e difícil, isso é sabido; mas para mim, que estive em Angola 29 meses,
em Cangamba nos apresentaram as provas de resistência de muitas maneiras
trágicas, além da dinâmica do combate.
“Por
exemplo, tomar a decisão de ultrapassar a trincheira, apoiado no corpo mutilado
de um amigo; aceitar o terrível acaso do míssil que acertou a entrar pela estreita
ventilação dum túnel e arrancou a vida do médico e de outros valiosos homens;
ou suportar um repentino bombardeio fechado sozinho no refúgio destinado aos
cadáveres de meus jovens companheiros, enquanto em minha consciência martelava
a ideia: Puxa, são meus mortos!, e não era por temor à morte, senão porque
aqueles eram meus soldados”.
Para
Peraza a coragem coletiva ultrapassou as trincheiras defensivas de Cangamba:
“se a vitória final foi possível, também foi devido ao apoio imprescindível dos
pilotos de combate, às tropas de Destino Especial que enfraqueceram o cerco, à
direção militar do comandante-em-chefe de Havana e ao alto comando em Angola, à
inestimável carta de Fidel a nós, pedindo resistência a todas custas e
confiança nas tropas encarregadas do resgate”.
“Com
tantos esforços por nós, podíamos perder tudo, até a vida, mas a dignidade
jamais. Nem a possibilidade real da morte quebrantou nunca a decisão de
resistir, e no fim vencemos”.
Após 30
anos, Cangamba já não é para Peraza o nome do povoado africano, nem sequer da
batalha mesma que o surpreendeu ali quando já tinha completado sua missão e
entregado o comando:
“Cangamba
é o reflexo do espírito de resistência. Esse foi nosso espírito, como foi
sempre o espírito dos cubanos na defesa das causas justas”.
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