segunda-feira, 19 de agosto de 2013

“O MUNDO DEVE MANTER O FOCO SOBRE OS BRICS” --- Marcos Troyjo



Diretor do BricLab da Universidade Columbia comenta o injustificado descrédito que se criou sobre o grupo dos emergentes

16 agosto 2013, Diário da Rússia http://www.diariodarussia.com.br (Rússia)

Em entrevista ao jornalista Arnaldo Risemberg, para o programa Voz da Rússia, o Professor Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade Columbia, de Nova York, professor do Ibmec e membro do Conselho Consultivo do Fórum Econômico Mundial, de Davos, na Suíça, fala sobre a onda de descrédito levantada contra os BRICS e afirma que o mundo deve continuar a focar seu interesse nesses países emergentes.

A seguir, os pontos de maior destaque da entrevista.

Em entrevista ao jornalista Arnaldo Risemberg, para o programa Voz da Rússia, o Professor Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade Columbia, de Nova York, professor do Ibmec e membro do Conselho Consultivo do Fórum Econômico Mundial, de Davos, na Suíça, fala sobre a onda de descrédito levantada contra os BRICS e afirma que o mundo deve continuar a focar seu interesse nesses países emergentes.

(FOTO: Marcos Troyjo: “Há progressivamente uma fatia maior ocupada pelos BRICS na política e na economia mundial”)

A seguir, os pontos de maior destaque da entrevista.

Arnaldo Risemberg – Recentemente, em suas corridas pelo mundo, o senhor fez em Londres uma apresentação para investidores britânicos e europeus em geral, sobre o tema dos mercados emergentes e a maneira pela qual se criou uma espécie de pessimismo em relação aos BRICS. Onde foi feita essa palestra?

Marcos Troyjo – Foi feita no âmbito de um programa chamado “Inova BRICS”, que é uma iniciativa de diferentes escritórios de consultoria, advocacia e aconselhamento quanto a investimentos estrangeiros diretos, para uma plateia de diversos segmentos profissionais. É curioso que recentemente – eu diria nos últimos três, quatro meses – esse pessimismo foi reforçado num certo sentido por uma matéria da revista “The Economist”, a revista mais influente do mundo. Uma onda de pessimismo se abateu sobre os mercados emergentes em geral e sobre os BRICS. Muita gente achando que não faz mais sentido falar sobre esses quatro países, e, ainda, se quiser agregar também, a África do Sul, no âmbito daquele grupo que congrega uma vez por ano chefes de Estado e ministros da Fazenda.

AR – Eu tive a mesma percepção, de que, de certa forma, o grupo BRICS teve certo descrédito.

MT – Eu acho, e foi isso que tentei mostrar um pouco para aquele pessoal em Londres. Que, se você concorda que, apesar do recente esfriamento, não só das economias emergentes mas também das economias mais avançadas, quer queira, quer não, parece ser inexorável o movimento de maior equilíbrio mundial, no sentido de que cada vez mais os países emergentes vão ocupar fatias maiores no produto interno bruto mundial, então, sem dúvida alguma, faz todo sentido continuar a falar em potências emergentes. E, se faz sentido continuar a falar sobre potências emergentes, as quatro maiores são justamente China, Brasil, Rússia e Índia. São as únicas potências emergentes que têm nos seus produtos internos brutos um valor superior a um trilhão de dólares. A China é medida pelo dólar nominal, hoje, em 8,5 trilhões; o Brasil, 2,5; a Rússia se aproximando dos 2 trilhões, e a Índia também. Faz todo sentido, para não mencionar as outras características – grande território, grande população, grande peso regional, potencial grande para gerar tanto conflito quanto cooperação. Por todas as óticas possíveis, faz sentido continuar a dar um foco especial a esses quatro países. Sobretudo em termos de políticas comparativas, o que estão fazendo ou não, qual sua estratégia de desenvolvimento, qual sua estratégia de atração de investimentos, qual representa ambientes mais amistosos para a realização de negócios – faz todo sentido continuar a falar sobre isso.

AR – A orientação da sua palestra foi exatamente essa? Através da exposição desses números mostrar que esses países merecem crédito e não descrédito?

MT – Isso pela ótica do tamanho de cada um deles. Aí vem o tema do grupo BRICS, que também inclui a África do Sul. Nesse sentido, parece se estar caminhando para uma maior vertebração, maior articulação do próprio conceito dos cinco países. No ano que vem, em março, na reunião anual dos BRICS que vai acontecer em Fortaleza, espero que esteja bastante avançada a conversa para instalação de um banco de desenvolvimento entre esses cinco países, o qual nasce, já se anunciou, com uma capital inicial de 50 bilhões de dólares. É claro que com a reemergência dos Estados Unidos, a retomada da economia americana, que não é tão rápida quanto se supunha, vai haver, como já está ocorrendo, uma mudança no panorama internacional de liquidez, e isso vai diminuir a atratividade relativa, sobretudo como destino de investimento financeiro no mercado de cada um desses países. E é por conta dessa decepção quanto à performance, seja dos retornos financeiros, seja da economia como  um todo, que eu acho que se gerou aí essa espiral de pessimismo em relação aos BRICS. Mas eu acho também que se imaginar os BRICS como uma espécie de galinha dos ovos de ouro, para investimentos financeiros, de ações, é um pouco de ingenuidade.

AR – É preciso ser extremamente pragmático na hora de aplicar recursos...

MT – A verdade é a seguinte: os BRICS tiveram a sua ascensão nos últimos 10, 15 anos num cenário global que não existe mais. Então, ou eles se adaptam a esse novo cenário, competitivamente, ou vão começar a comer poeira, ficar para trás. Não apenas em relação às economias mais maduras, porque, por exemplo, a Europa continua com muitas dificuldades, mesmo a Alemanha. Os Estados Unidos parece que vão melhor, o Japão também começa a ter um novo despontar, mas em relação às outras economias emergentes. Por exemplo, hoje nos Estados Unidos há muito mais entusiasmo em relação à economia mexicana do que quanto à economia brasileira. Fala-se muita dessa Aliança do Pacífico – Peru, Chile, Colômbia, México –, esses outros atores estão entrando mais na tela de radar do que os países BRICS. Esses são movimentos conjunturais, e a gente não pode perder a dimensão mais ampla de que, quer queira, quer não, há progressivamente uma fatia maior ocupada pelos BRICS na política e na economia mundial, e por isso faz todo o sentido continuar com o foco neles.
 

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