Diretor do BricLab da Universidade Columbia comenta o injustificado descrédito que se criou sobre o grupo dos emergentes
16
agosto 2013, Diário da Rússia http://www.diariodarussia.com.br (Rússia)
Em entrevista ao jornalista Arnaldo
Risemberg, para o programa Voz da Rússia, o Professor Marcos Troyjo, diretor do
BricLab da Universidade Columbia, de Nova York, professor do Ibmec e membro do
Conselho Consultivo do Fórum Econômico Mundial, de Davos, na Suíça, fala sobre
a onda de descrédito levantada contra os BRICS e afirma que o mundo deve
continuar a focar seu interesse nesses países emergentes.
A seguir, os pontos de maior
destaque da entrevista.
Em
entrevista ao jornalista Arnaldo Risemberg, para o programa Voz da Rússia, o
Professor Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade Columbia, de Nova
York, professor do Ibmec e membro do Conselho Consultivo do Fórum Econômico
Mundial, de Davos, na Suíça, fala sobre a onda de descrédito levantada contra
os BRICS e afirma que o mundo deve continuar a focar seu interesse nesses
países emergentes.
(FOTO: Marcos Troyjo: “Há progressivamente uma
fatia maior ocupada pelos BRICS na política e na economia mundial”)
A seguir,
os pontos de maior destaque da entrevista.
Arnaldo
Risemberg – Recentemente,
em suas corridas pelo mundo, o senhor fez em Londres uma apresentação para
investidores britânicos e europeus em geral, sobre o tema dos mercados
emergentes e a maneira pela qual se criou uma espécie de pessimismo em relação
aos BRICS. Onde foi feita essa palestra?
Marcos
Troyjo – Foi feita
no âmbito de um programa chamado “Inova BRICS”, que é uma iniciativa de
diferentes escritórios de consultoria, advocacia e aconselhamento quanto a
investimentos estrangeiros diretos, para uma plateia de diversos segmentos
profissionais. É curioso que recentemente – eu diria nos últimos três, quatro
meses – esse pessimismo foi reforçado num certo sentido por uma matéria da
revista “The Economist”, a revista mais influente do mundo. Uma onda de
pessimismo se abateu sobre os mercados emergentes em geral e sobre os BRICS.
Muita gente achando que não faz mais sentido falar sobre esses quatro países,
e, ainda, se quiser agregar também, a África do Sul, no âmbito daquele grupo
que congrega uma vez por ano chefes de Estado e ministros da Fazenda.
AR – Eu tive a mesma percepção, de
que, de certa forma, o grupo BRICS teve certo descrédito.
MT – Eu acho, e foi isso que tentei
mostrar um pouco para aquele pessoal em Londres. Que, se você concorda que,
apesar do recente esfriamento, não só das economias emergentes mas também das
economias mais avançadas, quer queira, quer não, parece ser inexorável o
movimento de maior equilíbrio mundial, no sentido de que cada vez mais os
países emergentes vão ocupar fatias maiores no produto interno bruto mundial,
então, sem dúvida alguma, faz todo sentido continuar a falar em potências
emergentes. E, se faz sentido continuar a falar sobre potências emergentes, as
quatro maiores são justamente China, Brasil, Rússia e Índia. São as únicas
potências emergentes que têm nos seus produtos internos brutos um valor superior
a um trilhão de dólares. A China é medida pelo dólar nominal, hoje, em 8,5
trilhões; o Brasil, 2,5; a Rússia se aproximando dos 2 trilhões, e a Índia
também. Faz todo sentido, para não mencionar as outras características – grande
território, grande população, grande peso regional, potencial grande para gerar
tanto conflito quanto cooperação. Por todas as óticas possíveis, faz sentido
continuar a dar um foco especial a esses quatro países. Sobretudo em termos de
políticas comparativas, o que estão fazendo ou não, qual sua estratégia de
desenvolvimento, qual sua estratégia de atração de investimentos, qual
representa ambientes mais amistosos para a realização de negócios – faz todo
sentido continuar a falar sobre isso.
AR – A orientação da sua palestra foi
exatamente essa? Através da exposição desses números mostrar que esses países
merecem crédito e não descrédito?
MT – Isso pela ótica do tamanho de
cada um deles. Aí vem o tema do grupo BRICS, que também inclui a África do Sul.
Nesse sentido, parece se estar caminhando para uma maior vertebração, maior
articulação do próprio conceito dos cinco países. No ano que vem, em março, na
reunião anual dos BRICS que vai acontecer em Fortaleza, espero que esteja
bastante avançada a conversa para instalação de um banco de desenvolvimento
entre esses cinco países, o qual nasce, já se anunciou, com uma capital inicial
de 50 bilhões de dólares. É claro que com a reemergência dos Estados Unidos, a
retomada da economia americana, que não é tão rápida quanto se supunha, vai
haver, como já está ocorrendo, uma mudança no panorama internacional de
liquidez, e isso vai diminuir a atratividade relativa, sobretudo como destino
de investimento financeiro no mercado de cada um desses países. E é por conta
dessa decepção quanto à performance, seja dos retornos financeiros, seja da
economia como um todo, que eu acho que se gerou aí essa espiral de
pessimismo em relação aos BRICS. Mas eu acho também que se imaginar os BRICS
como uma espécie de galinha dos ovos de ouro, para investimentos financeiros,
de ações, é um pouco de ingenuidade.
AR – É preciso ser extremamente
pragmático na hora de aplicar recursos...
MT – A verdade é a seguinte: os BRICS
tiveram a sua ascensão nos últimos 10, 15 anos num cenário global que não
existe mais. Então, ou eles se adaptam a esse novo cenário, competitivamente,
ou vão começar a comer poeira, ficar para trás. Não apenas em relação às
economias mais maduras, porque, por exemplo, a Europa continua com muitas
dificuldades, mesmo a Alemanha. Os Estados Unidos parece que vão melhor, o
Japão também começa a ter um novo despontar, mas em relação às outras economias
emergentes. Por exemplo, hoje nos Estados Unidos há muito mais entusiasmo em
relação à economia mexicana do que quanto à economia brasileira. Fala-se muita
dessa Aliança do Pacífico – Peru, Chile, Colômbia, México –, esses outros
atores estão entrando mais na tela de radar do que os países BRICS. Esses são
movimentos conjunturais, e a gente não pode perder a dimensão mais ampla de
que, quer queira, quer não, há progressivamente uma fatia maior ocupada pelos
BRICS na política e na economia mundial, e por isso faz todo o sentido
continuar com o foco neles.
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