segunda-feira, 23 de julho de 2007

Argentina/10 mil apoiam lançamento do furacão Cristina Kirchner

Vermelho / 22 Julho2007
Evita Perón não pôde ser a candidata a vice-presidente da Argentina de seu marido, Juan Domingo Perón, em 1952 devido a pressões de seu partido e dos militares. Mas Cristina Fernández, a mulher do atual chefe de Estado, Néstor Kirchner - ambos peronistas que renegam a estética peronista -, iniciou nesta sexta (21) sua corrida para a presidência da Argentina, a ser decidida nas eleições de outubro próximo.

Com seu tom impetuoso, Cristina Fernández de Kirchner pediu um "diálogo social" entre trabalhadores e empresários para continuar com o "modelo de acumulação e inclusão social" que seu marido iniciou há quatro anos, quando a Argentina começava a sair de sua última crise política, social e econômica.

Fernández de Kirchner começou sua campanha em La Plata - a 60 km ao sul de Buenos Aires -, cidade onde nasceu há 54 anos e onde conheceu Kirchner quando eram estudantes universitários. Ela dedicou ao marido, à beira das lágrimas, o final de seu discurso. Ele, sentado no palco junto com seus ministros, escutava com a mão direita na boca.

Diante dos que julgam nepotismo que o presidente indique sua mulher como candidata a sucedê-lo, ela reivindicou o gesto de seu marido não tentar a reeleição. "Não é comum que alguém com mais de 70% de opinião pública positiva e com mais de 50% de intenções de voto decida não continuar. Essa é a mudança mais importante: a das próprias condutas. Você tem autoridade não por ser bravo, mas pelo que fez e faz. Também não pense que é algum herói, mas também não é um homem comum. Os argentinos não vão esquecê-lo e espero, em um exercício de egoísmo pessoal, que não sintam muita saudade sua", ela disse, enquanto os 2 mil peronistas que enchiam o moderno Teatro Argentino aplaudiam de pé.

Senadora e primeira-dama
A senadora e primeira-dama, vestida com um terno marfim e saltos altos, falou de um palco montado, sobre o qual caíam pequenos papéis azuis e brancos, as cores da bandeira argentina.

Horas antes do ato, na estrada de Buenos Aires a La Plata, acumulavam-se os ônibus que levavam pessoas dos bairros pobres para o comício. Mas os 10 mil militantes com bandeiras argentinas, imagens de Evita e o clássico tambor peronista permaneceram fora do teatro. Seguidores de diversos candidatos a prefeitos de municípios da província de Buenos Aires se enfrentaram com paus e pedras para ocupar os primeiros espaços na mobilização. Cerca de 350 policiais os vigiavam e barreiras impediam o acesso ao teatro, alugado pelo partido peronista.

No interior, sentaram-se os funcionários públicos, dirigentes políticos, sociais, avós e mães da Praça de Mayo e jornalistas, que precisaram se credenciar na Secretaria de Comunicação e retirar seus passes na Casa de Governo da província. Antes de subir ao palco, Fernández de Kirchner foi apresentada como "senadora e futura presidente dos argentinos".

Nunca uma mulher foi eleita presidente deste país da América do Sul, região onde já governa Michelle Bachelet no Chile. Só uma mulher ocupou a presidência argentina e foi uma experiência traumática: a terceira esposa de Perón, Isabelita, que foi eleita vice-presidente em 1973 e que, depois de enviuvar, governou entre 1974 e 1976.

Mulheres e economia
Cristina, como chamam a candidata, salientou o papel de outras mulheres na história argentina: "Não é por acaso que durante a ditadura foram as mulheres que puseram panos brancos nas cabeças para buscar os desaparecidos políticos". Em seu discurso a candidata disse que vinha falar das três "construções" em que se baseou o governo de Néstor Kirchner e sobre as quais ela se apoiaria: "A reconstrução do Estado democrático constitucional; a construção do modelo econômico e social; e a construção cultural para recuperar a auto-estima perdida".
Quanto ao Estado democrático e constitucional, a senadora destacou que os três poderes recuperaram seus papéis. Lembrou que antes o Poder Legislativo votava leis por pressão do Fundo Monetário Internacional, dos subornos -como quando foi votada a flexibilização trabalhista - ou dos militares nas ruas - como quando foram votadas as leis de perdão para os que cometeram violações de direitos humanos na última ditadura militar (1976-1983).

Também apontou contra a Suprema Corte por "aprovar a depredação do Estado", referindo-se às reformas econômicas neoliberais da década passada. Lembrou que nos últimos anos foram derrubadas as leis do perdão e os indultos à cúpula da ditadura.

Quanto à política econômica e social, disse que seu "modelo de acumulação e inclusão social é a outra face do modelo de transferência neoliberal dos anos 90". Perguntou-se qual é a razão pela qual o governo de seu marido reduziu o desemprego e a dívida, aumentou os salários e se "livrou" do FMI, ao cancelar o passivo com esse organismo. Ela mesma respondeu que foi pelo modelo de "claro perfil industrial" com que a agricultura conseguiu colheitas históricas e se iniciou um "processo de reindustrialização". Mas não esqueceu que ainda persiste a pobreza, que atinge 27% dos argentinos. (Fonte: El País)


Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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