domingo, 15 de julho de 2007

Colômbia/Saramago questiona identidade ibero-americana e cita índios

Cartagena das Índias, 12 Julho 2007 - O Prêmio Nobel da Literatura José Saramago colocou em dúvida a existência de uma identidade ibero-americana e protestou contra o esquecimento dos índios, durante um encontro em Cartagena das Índias.

"Não sei o que é a identidade ibero-americana, ou melhor, ninguém o sabe", disse o escritor português na conferência de abertura do 1º Encontro Internacional de dirigentes e bolsistas ibero-americanos, convocado pela Fundação Carolina de Espanha.

Segundo Saramago, para que haja identidade, tem de haver igualdade entre os componentes de uma comunidade e não é isso que se vê entre Espanha, Portugal e os países americanos.

"Na suposição de que exista uma identidade ibero-americana, teríamos que chegar à conclusão de que, pelo menos desde 1492, existe uma igualdade entre o que se passa na Península Ibérica e o que se passa neste continente", disse o escritor luso.

Saramago afirmou que a Ibero-América é um conceito aplicado a milhões de pessoas que não têm nada a ver entre si e citou o caso dos índios, que eram os donos da terra quando os europeus chegaram ao Novo Mundo e hoje estão marginalizados política, social e economicamente.

"Se dizemos que somos ibero-americanos, há que se explicar em que consiste isso", disse o escritor português afirmando que na comunidade ibero-americana "está a faltar o índio".

Quando se fala da identidade e integração ibero-americana isso é feito na ótica dos que escreveram a história da América, afirmou Saramago, ressaltando que a idéia que existe da conquista da América seria outra se os cronistas tivessem sido os índios.

Mais entusiasta com a identidade ibero-americana, o ex-presidente colombiano Belisario Betancur, destacou a importância de, "no começo do século 21, haver dezenas de países dos dois lados do Atlântico que partilharam muitos desafios e esperanças".

Na sessão de abertura foi feito um minuto de silêncio em memória do ex-presidente colombiano Alfonso Lopez Michelsen (1974-1978), que morreu nesta quarta-feira em Bogotá, aos 94 anos.
(Lusa)

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