31 julho 2008
A ministra da Justiça da Guiné-Bissau, Carmelita Pires, afirmou hoje que tem sido ameaçada de morte, através de chamadas anónimas de telemóvel, que lhe "recomendam" a afastar-se das investigações ao tráfico de droga no país.
"Esta madrugada, já passava da uma da manhã, quando recebi uma chamada no meu telemóvel. A pessoa, uma voz masculina, que não se identificou, proferiu as seguintes palavras: «Tira a boca. Estás a falar demais. Já chega. Toma atenção». A pessoa desligou de imediato", afirmou Carmelita Pires, em conferência de imprensa.
Carmelita Pires disse que, passada cerca de uma hora após a primeira chamada anónima, uma outra voz masculina ameaçou-a nestes termos: «Pensas que estamos a brincar? Mete a mão no fogo e depois verás! Estás a cavar a tua cova (sepultura)! Para que não venham a dizer que não te avisamos".
A ministra da Justiça guineense convocou a imprensa para denunciar uma série de ameaças à sua integridade física, na sequência das investigações e revelações que tem feito nos últimos dias relacionadas com a apreensão de duas aeronaves suspeitas de tráfico de droga na Guiné-Bissau, tal como tem acontecido com o Procurador-Geral da República, Luís Manuel Cabral.
Perante elementos das Nações Unidas, nomeadamente o representante do secretário-geral na Guiné-Bissau, Shola Omoregie, a ministra da Justiça guineense afirmou que a ameaça de que foi alvo faz parte de um conjunto de situações que têm ocorrido desde que foram iniciadas as investigações sobre a presença das duas aeronaves suspeitas de transporte de droga para o país.
"Tenho receios. Quem não os teria nestas circunstancias? Não podia ficar calada devido à vulnerabilidade das pessoas que estão a combater o narcotráfico. Entregamos as nossas cabeças nas mãos de todos os guineenses que sabem que a droga é um crime contra o nosso Estado", disse Carmelita Pires, com voz visivelmente embargada.
"A comunidade internacional deve posicionar-se, porque foi esse o apelo que o governo (de Bissau) levou à conferência realizada em Lisboa ("Tolerância Zero ao Narcotráfico", que decorreu em Dezembro de 2007)", acrescentou a ministra guineense.
Carmelita Pires reafirmou que a Guiné-Bissau "corre sérios riscos" de se transformar num narco-Estado, pelo que, sublinhou, as Nações Unidas deviam ter um posicionamento "firme" no assunto.
Em resposta aos apelos da ministra da Justiça, o representante do secretário-geral da ONU na Guiné-Bissau, o nigeriano Shola Omoregie, avisou que a comunidade internacional "não deixará impunes os que estão envolvidos no tráfico de droga".
Por outro lado, Omoregie afirmou que a comunidade internacional "está preocupada com a segurança dos agentes que estão a combater o narcotráfico".
Por seu turno, o Procurador-Geral da República (PGR), Luís Manuel Cabral, que também assistiu à conferência de imprensa da ministra, disse sentir-se também "ameaçado" na sua acção contra suspeitos do narcotráfico.
"Sinto-me ameaçado, mas não tenciono arredar o pé nessa luta", sublinhou Luís Manuel Cabral, lembrando o episódio de que foi alvo segunda-feira, quando a polícia tentou retirar-lhe uma arma de fogo que tem na sua posse, por inerência de funções, para sua defesa pessoal. (Notícias Lusófonas)
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