Lisboa, 7 jul (Lusa) - Os líderes indígenas de Roraima encerraram nesta segunda-feira, em Lisboa, na Fundação Mário Soares, uma viagem de três semanas pela Europa em que pediram apoio na defesa das suas reservas.
"Levamos daqui mais força, mais esperança e mais fé", disse à Agência Lusa a líder indígena Pierlangela Wapichana, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, após uma reunião com o ex-presidente português Mário Soares.
Durante a tarde, reuniram-se com o presidente da agência humanitária Caritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, e depois com D. Carlos Azevedo, da Conferência Episcopal Portuguesa.
"Transmitimos qual é a nossa situação e solicitamos apoio que puderem dar. Cada instituição vai dar o seu apoio conforme a sua disponibilidade, é uma decisão deles. Estamos satisfeitos. Levamos fé e esperança para o nosso povo, que há mais de 35 anos está nessa luta", disse a líder indígena brasileira.
De Mário Soares, os líderes indígenas levaram a promessa de que o ex-presidente vai escrever ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em apoio à causa.
Na base da reclamação dos indígenas está a atribuição, pelas autoridades locais, de licenças de produção de arroz dentro das suas reservas.
Apoios
O último dia da viagem iniciada em 16 de junho termina com um encontro com associações humanitárias e organizações não-governamentais, no centro de Lisboa.
Em Portugal, os líderes indígenas foram recebidos também pela Comissão de Relações Exteriores do Parlamento, a quem pediram iniciativa semelhante à ação anunciada por Mário Soares.
O padre Elísio Assunção, promotor da visita a Portugal, disse à Lusa que o pedido foi bem recebido pelo Partido Comunista e pelo Partido Socialista, mas que a iniciativa depende de um consenso entre as diversas forças partidárias.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) declarou seu apoio à causa dos indígenas de Roraima, contra uma reversão da decisão de atribuir as terras sob ocupação.
"Fator que nunca deve ser desconsiderado é o aproveitamento dos pobres por quem detém um poderio econômico e pretende aumentar as suas vantagens. Só um desenvolvimento que equacione os direitos de todos pode ser permitido", diz a declaração divulgada por D. Jorge Ortiga.
Viagem
A viagem pela Espanha, Inglaterra, Bélgica, França, Itália e Portugal acontece poucas semanas antes de o Supremo Tribunal Federal julgar 34 ações que contestam a atribuição das terras - homologada em 2005 por Lula, na seqüência de uma demarcação pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O ponto alto da visita à Europa foi uma audiência com o papa Bento 16, em 2 de julho, em que os representantes indígenas apresentaram as suas reivindicações e receberam "o compromisso de ajudar na proteção" das suas reservas.
"Nossa terra está homologada e registrada. Foi um processo longo. Sofremos muito tempo as invasões de fazendeiros, garimpeiros e agora dos grandes empresários de arroz. Mas Raposa Serra do Sol é terra indígena e qualquer outra ocupação não descrita no decreto de homologação é uma invasão que deve ser combatida", afirmou, nesta segunda-feira, o Conselho Indígena de Roraima.
Os indígenas afirmam ainda ser "fundamental que se apurem todos os casos de violência contra a vida e patrimônio dos povos indígenas, bem como os crimes cometidos durante a resistência" aos supostos invasores.
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