Morillo Carvalho, enviado especial
26 julho 2008/Agência Brasil http://www.agenciabrasil.gov.br
Alto Paraíso de Goiás (GO) - O fim da primeira semana do 8º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que ocorre até o dia 2 de agosto, foi marcado pelo encerramento de uma de suas atrações, a 2ª Aldeia Multiétnica.
O evento terminou ontem (25) e reuniu cerca de 130 índios de todo o país, para celebrar sua cultura e enumerar as demandas dos povos indígenas. Uma das resoluções da Aldeia Multiétnica foi a elaboração de uma carta que pede a demarcação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.
“No documento, escrito a muitas mãos pelos índios, é feita uma moção de repúdio à decisão do Supremo Tribunal Federal [STF], que interditou a desobstrução da Raposa”, explica o curador do evento, Sandoval Amparo. Entre os 17 povos que participaram da Aldeia, estiveram presentes os Wapixana e os Ingaricó, que vivem na Raposa Serra do Sol.
A segunda edição da Aldeia foi realizada num local que reproduz a vida nas tribos, distante cerca de 12 km do povoado de São Jorge (sede do encontro). O objetivo do evento é promover a integração dos povos indígenas e, mesmo não sendo uma audiência pública, os curadores trouxeram a proposta de discutir a questão dos territórios indígenas e, assim, escutar as demandas dos participantes.
“Procuramos colocar essa questão dos territórios para além da questão fundiária. Tratamos de outros territórios não palpáveis, que são os territórios da identidade, da comunicação e, para isso, estabelecemos três linhas de discussão: territórios clássicos, a questão dos índios urbanos e a questão dos índios e as culturas populares. Nesta última, procuramos mostrar as áreas em que as culturas populares receberam influência da indígena”, relata Sandoval.
A integração no promovida pelo 8º Enconteo de Culturas Tradicionais tem sido uma realidade já no próprio povoado de São Jorge – distrito afastado cerca de 40 km do município de Alto Paraíso de Goiás (GO). Tanto que é fácil confundir brancos e índios, já que muitos dos cerca de 5 mil turistas foram tatuados com tinturas indígenas.
“É importante conhecer os nossos parentes. É bom encontrar com eles. A língua não é igual, cada um tem uma língua diferente e, aí, sempre falamos em português com eles, porque não entendemos a língua. Escutamos palestras e falamos bastante sobre como é preciso cada vez mais preservar nossa cultura”, conta o prefeito da Aldeia, que é o líder máximo do encontro, Osmar Kukon Krahô.
Essa interação entre os participantes da Aldeia foi, para o principal idealizador curador do evento, Fernando Schiavini, o principal resultado desta segunda edição.
“A Aldeia veio desmistificar a idéia de que a convivência dos índios com os outros povos é difícil ou é impossível. Aqui, ficou provado que todos são pessoas, que têm suas culturas diferentes e que podem perfeitamente interagir. Todos, índios e não-índios conseguiram isso e, inclusive etnias que eram inimigas no passado, que não conseguiam se relacionar, aqui se relacionam”, observa Schiavini.
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