5 agosto 2013,
Pátria Latina
http://www.patrialatina.com.br (Brasil)
Por Paul
Craig Roberts*
A decadência da
falida cidade de Detroit. O tempo está a esgotar-se para a economia e o povo
americano. A imprensa financeira e os comentadores económicos, com poucas
exceções, fazem um bom trabalho ao esconder este facto do público.
Considere por
exemplo à conversa fiada sobre a "estimativa antecipada" da taxa de
crescimento real do PIB para o segundo trimestre anunciada em 31 de Julho. A
taxa anual de crescimento de 1,7% do PIB real para o segundo trimestre de 2013
foi apresentada de modo optimista como uma aceleração do PIB real em relação à
taxa de crescimento de 1,1% do primeiro trimestre. Contudo, a razão para a
"aceleração" no crescimento é que a estimativa do primeiro trimestre
foi revista baixando de 1,8% para 1,1%. A taxa de crescimento do PIB real do
segundo trimestre também é sujeita a estimativas revistas. Mais provavelmente,
o número final será inferior.
Considere também
que a razão porque o PIB real é positivo é que o PIB nominal está deflacionado
com uma medida atenuada da inflação. A medida da inflação foi manipulada a fim
de recusar aos que recebem da Segurança Social os ajustamentos pela alta do
custo de vida. O estatístico John Williams (shadowstats.com) informa que se
deflacionado pela metodologia oficial anterior, o crescimento do PIB tem sido
negativo desde a retração em 2007. Por outras palavras, a
"recuperação" é apenas mais uma patranha do governo.
Outra falha da
imprensa financeira e dos comentaristas económicos é a interpretação da
política da Facilidade Quantitativa (Quantitative Easing, QE) do Federal
Reserve. Diz-se que o Fed está a manter baixas das taxas de juro a fim de
estimular o investimento nos negócios e o mercado habitacional. Esta explicação
não é senão o encobrimento do objetivo real da QE, que é fazer subir e manter
alta a dívida relacionada com derivativos nas contabilidades dos bancos
demasiado grandes para falirem. Taxas de juro baixas empurram para cima os
preços de todos os instrumentos de dívida, e os preços mais altos elevam os
valores nos balanços dos bancos, fazendo-os parecer mais solventes ou menos
insolventes.
O Fed tem
prosseguido a QE durante anos, apesar do fracasso da política de reviver a
economia, a fim de manter à distância o colapso dos bancos na esperança de que
estes teriam êxito em aumentar suficientemente os seus ganhos para livrarem-se
da perturbação.
A política da QE
do Fed tem sido custosa para áreas importantes da economia. Aos aposentados foi
recusado o rendimento do juro. Este reduziu despesas do consumir e, dessa
forma, o crescimento do PIB – e isto forçou aposentados a irem retirando suas
poupanças a fim de pagar as suas contas.
A política da QE
do Fed também põe em risco o US dólar devido às várias vezes de aumento no
número de dólares ao longo dos últimos anos. A fim de apoiar preços de títulos,
o Fed criou um bilhão de novos dólares por ano durante os últimos anos. A
oferta de dólares cresceu além da procura por dólares, colocando o valor
cambial do dólar sob pressão. Para proteger o dólar da QE, o Fed e seus bancos
dependentes do ouro empenharam-se em implacável minimização do ouro a fim de
suprimir o seu preço. A ascensão rápida do preço do ouro indicava queda de
confiança no dólar e o Fed temia que esta falta de confiança se propagasse aos
mercados da divisa.
Ao imprimir dólares
para suportar os bancos, o Fed criou uma bolha do mercado de títulos, uma bolha
do mercado de ações e uma bolha do dólar. Se o Fed parar de imprimir dinheiro,
não só os balanços dos bancos levam uma pancada como também os mercados de
títulos, de ações e imobiliários. A riqueza seria liquidada. Já ninguém mais
poderia pretender que há uma recuperação económica.
O impacto sobre
o dólar é menos claro. Por um lado, a redução do aumento rápido da oferta de
dólares ajudaria a divisa. Por outro lado, a queda nos valores de ativos
denominados em dólar, tais como ações, títulos e imobiliário provocaria
diminuição da procura por dólares. Estrangeiros por exemplo que vendam ativos
baseados no dólar também pode converter seu dinheiro em dólar para as suas divisas
internas.
As falhas da
imprensa financeira requerem à explicação que tenho apresentado da QE, a
economia da bolha, e da mensuração manipulada do PIB real, da inflação e do
desemprego. Contudo, embora estas explicações sejam necessárias, elas próprias
constituem um desvio de atenção.
A razão real
porque a economia dos EUA não pode recuperar é que foi movida para o exterior.
Milhões de empregos estado-unidenses em manufatura e serviços profissionais
comerciáveis, tais como engenharia de software, foram transferidos para a
China, a Índia e outros países onde os salários são uma fracção daqueles nos
EUA. Utilizando o "livre comércio" como cobertura, as corporações
transformaram custos do trabalho em centros de lucro. A queda nos custos do trabalho
eleva lucros, os quais são então distribuídos para executivos como "bónus
de desempenho" e a acionistas como ganhos de capital. O impacto sobre o
emprego nos EUA pode ser visto a partir dos dados de emprego em folha de
pagamento mensal da BLS e do declínio da taxa de participação da força de
trabalho estado-unidense. A taxa de participação está a cair não porque os
rendimentos do consumidor estejam a aumentar e menor número de membros da
família sejam necessários na força de trabalho. A taxa está a cair porque os
trabalhadores desencorajados cessaram de procurar emprego e abandonaram a força
de trabalho.
A utilização do
trabalho estrangeiro dentro dos EUA é benéfica para executivos e acionistas no
curto prazo, mas é prejudicial a prazo mais longo. O efeito a longo prazo é
destruir o mercado consumidor dos EUA.
Quando a
exportação de empregos travou a ascensão do rendimento do consumidor
estado-unidense, a fim de manter a economia em andamento o Federal Reserve
substituiu um crescimento da dívida do consumidor pela falta de crescimento no
rendimento do consumidor. Exemplo: a bolha habitacional criada pelo governador
do Federal Reserve Alan Greenspan permitiu a proprietários de casas gastarem a
situação líquida inflacionada das suas casas através do refinanciamento das
suas hipotecas. A substituição de dívida do consumidor pelo crescimento em
falta nos salários reais é limitada pelo fardo da dívida sobre as famílias. Ao
contrário do governo, os cidadãos americanos não podem imprimir o dinheiro com
que pagam as suas contas. Uma vez que os consumidores já não podiam arcar com
mais dívida, a economia do consumidor cessou de se expandir.
O governo pode
imprimir dinheiro para pagar suas contas, mas se a história for um guia,
governos não podem imprimir dinheiro para sempre sem graves consequências. A
crise económica real será atingida quando a bolha da economia já não puder ser
suportada pela máquina de impressão.
Deveria ser
óbvio para economistas, mas aparentemente não é, que empregos tipo Walmart da
"Nova economia" não pagam suficientemente para aguentar uma economia
dependente do consumidor. Como o programa de Obama é gradual, o poder de compra
do consumidor sofrerá mais um golpe. Mesmo os prémios subsidiados são caros e o
custo de utilizar as apólices em termos de deduções e comparticipações será
proibitivo para a maior parte. Quando os benefícios proporcionados pelo
empregador e o Medicare são reduzidos, a crise nos cuidados de saúde piorará em
meio a uma crise económica.
A parte
assustadora da crise económica iminente ocorre quando o défice do orçamento
federal se ampliar, a economia se contrair e o próprio Fed se encontrar numa
situação em que não pode imprimir ainda mais dólares sem provocar uma perda de
confiança no dólar e nos títulos do Tesouro dos EUA. O que faz um governo
desesperado numa tal situação? Confisca o que resta de pensões privadas,
acumula impostos e conduz o povo e a economia mais profundamente para o chão.
Este é o caminho
em que está à política económica dos EUA. Qual é a solução?
Podia ser
permitido ao capitalismo que funcionasse e os bancos falirem. É mais barato
salvar depositantes do que salvar os bancos.
Corporações
podiam ser tributadas com base na localização geográfica em que acrescentam
valor ao seu produto. Se corporações criam bens no exterior que comercializam
para americanos, elas teriam uma elevada taxa fiscal. Se criassem valor
internamente com trabalho americano, teriam uma taxa fiscal mais baixa. A
diferença fiscal podia ser utilizada para compensar a vantagem do custo do
trabalho da produção deslocalizada.
Levaria tempo,
mas empregos retornariam para os EUA. Cidades, estados e o governo federal
vagarosamente veriam suas bases fiscais reconstruídas. Rendimentos do
consumidor ascenderiam outra vez com a produtividade e a economia poderia ser
reposta de pé.
Quanto ao défice
federal, ele poderia ser reduzido significativamente acabando com as guerras de
Washington. Como vários peritos estabeleceram, estas guerras são extremamente
caras, acrescentando triliões de dólares às necessidades de financiamento do
governo dos EUA. Como outros peritos têm mostrado, as guerras não beneficiam
ninguém exceto um pequeno clique de indústrias militares/de segurança.
Obviamente, não é democrático destruir o futuro de um povo em proveito de interesses
especiais.
Podem estar
soluções ser implementadas ou estão os interesses especiais arraigados
demasiado forte e com visão demasiado curta?
Não há
possibilidade de descobrir quando a imprensa financeira e os comentaristas
económicos estão imunes à realidade. Até que a situação real seja entendida,
nada pode ser feito. É difícil vender uma solução quando o problema não é
reconhecido e entendido. Eis porque concentro-me em explicar os problemas.
*Ex-secretário
assistente do Tesouro dos EUA e editor associado do Wall Street
Journal. Seu livro mais recente é The Failure of Laissez-Faire
Capitalism . Está agora disponível em formato electrónico o seu livro How the
Economy Was Lost.
O original encontra-se em
www.counterpunch.org/2013/08/02/hiding-economic-depression-with-spin/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info
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