Diário de Notícias (Portugal) 13 junho 2008
Está aparentemente melhor. Já não há violência, existe estabilidade institucional, há um Parlamento que funciona, há um Governo em funções - mas que não reconhecemos, que não tem legitimidade para governar, mas não será a Fretilin a fazer uso da violência como outros fizeram contra nós.
DN: Não tendo o Governo legitimidade, qual a proposta da Fretilin para normalizar a situação?
Entendemos que 2008 deve ser de estabilização, política e económica. E que deve haver eleições em 2009.
DN: Como é que a Fretilin vê os ataques a Ramos-Horta e Xanana?
Achamos que devia haver uma comissão internacional credível a investigar o sucedido. Se se começa a levantar mais suspeitas, está comprometida a liderança do país.
DN: Quais as condições para superar esse clima?
O diálogo. Que se elucidem todas as dúvidas e suspeitas. Eu digo que houve uma conspiração, o Xanana diz que não. Então, vamos comparar dados e ver quem tem razão.
DN: Houve uma conspiração?
Às vezes, só se prova décadas depois. Mas os factos devem ser analisados e ver a quem aproveitam.
DN: Quais as prioridades da Fretilin para um próximo Governo?
Desenvolver Timor-Leste, investir na educação, na saúde, em cursos profissionais, investir nas infra-estruturas para criar emprego. E investir na agricultura para passar do nível de subsistência para o nível da exploração familiar rentável. Apostamos numa política de inclusão e no fortalecimento de mecanismos de participação da sociedade civil e da Igreja para formar consensos nas questões essenciais.
DN: Qual deve ser, em sua opinião, a atitude da justiça timorense para com os envolvidos na crise de 2006 a 2008?
A questão fundamental é se há ou não crimes de sangue. Se há, a justiça deve funcionar; se não há e os factos foram praticados numa certa conjuntura política, deve haver uma certa sensibilidade...
DN: Tolerância?
Não. O Ramos-Horta é que acha que se deve pôr uma pedra sobre o assunto. Ora, isso não deixa de ter os seus riscos...
DN: A Fretilin cometeu alguns erros que abriram a porta à crise?
É bom não esquecer que a minha casa foi queimada em 2002, estava a governar há poucos meses. A partir daí, sempre houve tentativas de desestabilização. Em 2005, há manifestações da Igreja. Os factos de 2006 não aparecem isoladamente.
DN: O objectivo era impedir a governação?
Sim. Quando em finais de 2005 fiz o discurso de balanço e indiquei claramente a política de desenvolvimento como prioridade e qual o rumo a seguir, sabiam se me deixassem governar mais um ano, com as receitas do petróleo, voltaria a ter maioria absoluta. É preciso não esquecer que foi Xanana, usando de sarcasmo numa mensagem de Estado, é que vem trazer para primeiro plano a questão das divisões entre os do leste e do oeste, dizendo que estes eram todos filhos de milícias. Logo após esta mensagem começam os conflitos e os assassinatos, logo depois.
DN: Considera Xanana um dos responsáveis pela campanha contra a Fretilin?
Disso não tenha dúvidas. O que ele fez, o que escreveu e disse não deixam dúvidas.
DN: Reinado foi um instrumento dessa campanha?
Ele disse isso na última mensagem, que actuou a mando de Xanana...
DN: A morte de Reinado foi providencial?
Se ele dizia que tinha provas, mas foi morto, agora já não pode provar nada...
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