Selvino Heck *
[ADITAL] Agência de Informação Frei Tito para a América Latina http://www.adital.com.br
6 junho 2008
Adital - Em Diários de Motocicleta, filme sobre a viagem de Ernesto Guevara de la Serna, futuro Che, e seu amigo Alberto Granada da Argentina à Venezuela em 1952, freiras, médicos e funcionários de um leprosário comemoram o aniversário de Ernesto do lado de cá do rio. Na hora do discurso, ele, emocionado, faz um brinde à unidade latino-americana. E aí, num gesto bem do seu feitio e generosidade, atravessa o rio a nado e na outra margem vai celebrar com os leprosos, que estavam excluídos da festa.
O presidente Lula lembrou da idéia de criar uma União Sul-Americana de Nações em dezembro de 2004, na cidade de Cuzco, Peru: "Parecia uma coisa impossível, porque aqui na América do Sul nós fomos preparados, doutrinados para acreditar que não daríamos certo em nada, que somos pobres, brigamos muito, e temos que depender dos Estados Unidos e da União Européia. Agora, o que aconteceu de fato é que mudou a geopolítica da América do Sul, e mudou muito. Mudou em todos os países, e mudou a compreensão de que juntos poderemos ser muito mais fortes e muito mais soberanos. Uma América do Sul unida mexerá com o tabuleiro de poder no mundo."
O presidente Hugo Chávez, da Venezuela, ressaltou que "devemos ser capazes de reconhecer o sinal de mudanças dos novos tempos. O que ocorre na América do Sul é monumental, histórico."
A UNASUL, cujo Tratado de criação foi assinado pelos 12 países da América do Sul, visa aprofundar a integração da região. Como processos semelhantes, este também tem grandes desafios, a serem enfrentados e superados paulatinamente. Um deles é o fato de os países serem desiguais. O Brasil, por exemplo, tem 180 milhões de habitantes e o Uruguai, três. O PIB brasileiro é o oitavo mundo e o da Bolívia, US$ 10 bilhões, um décimo do valor da Petrobrás. Há questões bilaterais e trilaterais a serem resolvidas, como as disputas territoriais entre Chile e Peru, a Bolívia reivindica do Chile uma saída para o mar. Há diferenças tecnológicas expressivas. Os povos e populações pouco se conhecem, a não ser pelo futebol.
Segundo editorial de um grande jornal de São Paulo, com o título ‘O Fiasco da UNASUL’, "a região carece dos elementos de poder necessários para as posições no tal ‘tabuleiro’. Não tem poder militar ou econômico e o fato é que a América do Sul não é unida e acontecimentos recentes mostram que as brechas entre alguns países estão se alargando, e não se estreitando".
Mas disse o presidente Lula no Café com o Presidente: "Era impossível cinco anos atrás a gente pensar que a situação da América do Sul estivesse do jeito que está, com muitos presidentes eleitos democraticamente, comprometidos com a maioria do povo, com a inclusão social , com as instituições se fortalecendo. Esse é um fato extraordinariamente importante.Nossa região torna-se um interlocutor cada vez mais indispensável, à medida em que o mundo se vê diante de necessidades de compatibilizar segurança alimentar, suprimento energético adequado e preservação do meio ambiente. O forte compromisso com a repartição dos frutos da economia para todos, sobretudo para os mais pobres, é um traço essencialmente novo no Brasil e em nossos países, neste mundo que se desenha". Por isso, diz Lula, para dar conseqüência e viabilidade a esta nova realidade, "estamos criando o Banco da América do Sul. Vamos caminhar, para, no futuro, termos um banco central único, para ter moeda única. Agora, isso é um processo, não é uma coisa rápida."
Há um longo caminho, todos sabem a história da União Européia, até chegar a uma moeda única, que pode chamar-se América. Segundo analistas, poder-se-ia, por exemplo, iniciar uma integração de projetos e interesses comuns, tipo o do Airbus europeu, onde vários países participaram da fabricação, ou a construção de navios. É preciso estimular formas de unificar a moeda, para que as transações no continente não necessitem do dólar como unidade de compra, integrando as operações dos Bancos Centrais dos vários países. E estimular uma fusão das operações da Bolsa Mercantil e de Futuros, com acerto de posições entre as diversas moedas do continente. Há, pois, um conjunto de iniciativas antes da moeda única. O caminho definitivo, do ponto de vista econômico, seria a moeda única, algo que estimularia não apenas a economia, mas o sentimento de solidariedade da região.
E há muitas outras iniciativas fundamentais a serem encaminhadas, no campo social e cultural. Governos populares podem e devem trocar experiências e conhecimento mútuo de iniciativas sobre como estão resolvendo a questão da fome, a miséria e a exclusão social, de como democraticamente relacionam-se com a sociedade, os movimentos sociais e populares. Na área cultural, para além do futebol e sua conhecida rivalidade, há histórias dos povos originários a serem conhecidas e difundidas mutuamente, suas lutas de resistência, seus saberes, sua riqueza cultural.
Este é o futuro a ser construído, para que, como disse Rafael Correa, presidente do Equador, esta não seja uma época de mudança e sim uma mudança de época, para o bem do povo sul e latino-americano, como sonhava o Che.
Como disse presidente Lula na posse em 2003 e repetiu agora: "Nós vamos começar fazendo o necessário, depois a gente vai fazer o possível e, quando menos imaginar, estaremos fazendo o impossível."
* Assessor Especial do Presidente
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