sábado, 7 de junho de 2008

Angola precisa de 'mudança radical' na política, diz OCDE

Lisboa, 6 junho 2008 (Lusa) - A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirmou que Angola precisa de uma "mudança radical" na estratégia política e apostar na diversificação das atividades, além da extração do petróleo, para melhorar o combate à pobreza."
Angola precisa de uma mudança radical da política para iniciar, continuar e aumentar os projetos com vista à melhoria da vida nos campos e nas cidades regionais", disse em entrevista à Agência Lusa o porta-voz do centro de Desenvolvimento da OCDE, Colm Foy, em Lisboa.
O representante da OCDE disse que 68% da população angolana vive na pobreza, incluindo 94,3% nas zonas rurais e 57% nas áreas urbanas, e defendeu que não é aceitável um dos países mais ricos de África ter simultaneamente uma das populações mais pobres.
Colm Foy criticou a economia angolana por depender "totalmente do setor do petróleo" e estar concentrada apenas nos minerais e na indústria extrativa.
Em 2006, a contribuição do petróleo para o PIB foi de 60%, contra 40% dos demais setores, como o agrícola (8%), comércio por atacado e varejo (15%), construção (5%), indústria manufatureira (5%), outros serviços (8%) e diamantes (2%).
"Angola não cria emprego, nem infra-estruturas, e no campo não há desenvolvimento da agricultura, ou seja, não há diversificação na economia", disse o porta-voz.
Crescimento Apesar do forte crescimento de Angola verificado nos últimos anos - só em 2007 foi de 19,8% - Colm Foy ressaltou que a qualidade de vida das pessoas "melhorou pouco", justificando a necessidade da diversificação da economia.
"Este é o momento para investir na educação, em infra-estruturas, que abasteçam as cidades e as populações regionais. Angola tem um enorme potencial para desenvolver todos os setores, como a agricultura, pode produzir tudo, mas não é fácil por falta de vontade política e porque é um país muito rico e muito grande", acrescentou.
Segundo Colm Foy, "a luta que se deve travar é a luta contra a pobreza, contra o enfraquecimento e contra as desigualdades entre os ricos na cidade, ligados ao petróleo e à política, e o resto da população".
Questionado sobre as previsões da OCDE e do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que antecipam para 2009 uma desaceleração da economia angolana para metade do previsto este ano, o porta-voz disse que está é uma "visão realista e não pessimista".
"A produção da OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] vai cair nos próximos anos, devido a uma redução da produção em muitos países como a República do Congo e Gabão, onde os recursos estão se esgotando", afirmou.
Moçambique
"Em Moçambique, constatamos o mesmo problema de ausência de diversificação, mas atacado de maneira diferente. É um país mais pequeno, mais agrícola, tem investimento exterior e contribuições da Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD)", disse Foy.
Ainda de acordo com o porta-voz, Moçambique "está concentrado em megaprojetos, como a área da transformação de metais, alumínio para exportar para a África do Sul, e geração de eletricidade, em Cahora Bassa, que beneficiam o governo e não a população".
Segundo Colm Foy, a distribuição de riqueza é muito desequilibrada em Moçambique, incluindo desemprego, falta de diversificação da economia e diferenças acentuadas ente as zonas rurais e urbanas. Além disso, ressaltou que os impostos afetam mais as pequenas indústrias do que os megaprojetos.
"As pequenas empresas contribuem muito mais que as dos megaprojetos. O governo não recebe grandes receitas. Mas em Moçambique há bom ambiente político, uma melhoria na educação e muitas possibilidades de aumentar a produção, como dos bens alimentares", disse.
Em 2006, Moçambique teve um crescimento de 8%, contra 7,2% em 2007. A previsão para este ano é de 7% e de 6,9% em 2009.

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