quinta-feira, 5 de junho de 2008

Fórum Macau será a verdadeira CPLP, diz pesquisador luso

Lisboa, 5 junho 2008 (Lusa) - O pesquisador português Moisés Fernandes defendeu quarta-feira em Lisboa que o Fórum Macau, uma iniciativa do governo chinês, se vai tornar a verdadeira Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), garantindo a “efetiva ligação entre todos os espaços lusófonos”.

“Estou cada vez mais convencido que esta vai ser a verdadeira CPLP”, disse Moisés Fernandes numa conferência que proferiu quarta-feira ao fim da tarde no Ministério luso das Relações Exteriores.

A conferência, subordinada ao tema “Macau como plataforma da China para a Lusofonia”, resultou de uma parceria conjunta da Associação dos Amigos do Arquivo Histórico-Diplomático, do Ministério, e do Instituto Confúcio, da Universidade de Lisboa.

Moisés Fernandes, que é diretor do Instituto Confúcio, salientou que enquanto a CPLP “é muito política, diplomática e protocolar”, o Fórum Macau “vai mais além”, contemplando as relações econômicas e comerciais.

O Fórum Macau surgiu em 2003, numa iniciativa do governo chinês, com a organização do executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), para intensificar a cooperação econômica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa.

A pujança do Fórum Macau e o seu sucesso são demonstrados pelo crescimento superior a 700% das trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa entre 2002 e 2007, em que passou de US$ 6,52 bilhões para US$ 46,35 bilhões.

Todavia, reconheceu, quando se considera unicamente o ano de 2007, verifica-se que, entre os oito Estados que fazem parte da CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste) 99% das trocas comerciais são reservadas a três países: Brasil (64%), Angola (30%) e Portugal (5%).

Os restantes países da CPLP, à exceção de São Tomé e Príncipe, totalizam apenas 1% do total das trocas comerciais com a China.

São Tomé e Príncipe tem apenas estatuto de observador no Fórum Macau por manter relações diplomáticas com Taiwan, com o qual a China mantém uma diferença de soberania.

Moisés Fernandes acredita que em breve tanto Moçambique, a Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe - “neste caso quando começar a exploração de petróleo”, considerou - “virão a ser muito importantes para a China”.

“Outro país que vai ser muito importante é Timor Leste, porque tem gás e petróleo, recursos naturais que a China precisa cada vez mais para manter os seus níveis de crescimento e desenvolvimento”, sustentou.

Moisés Fernandes é de opinião que no caso do Timor Leste “existem duas complicações: a instabilidade interna e a preponderância da Austrália”.

“Aqui pode haver, nos próximos anos, uma grande convergência entre a China e Portugal para se diluir a hegemonia australiana no Timor Leste”, considerou.

O pesquisador acrescentou que outros países do Sudeste Asiático, como a Indonésia e a Malásia, poderão convergir com Pequim e Lisboa para contrariar a influência de Camberra.

“Isto abre as portas a Portugal”, acentuou.

Nesta estratégia chinesa, em que as “elevadas taxas de crescimento econômico têm contribuído para uma crescente dependência de recursos naturais estrangeiros”, o papel de Macau é “fundamental” e “compensa o fato de não ser uma praça financeira como é Hong Kong”, salientou Moisés Fernandes.

“Enquanto se mantiverem os elevados índices de crescimento econômico da China, o interesse pelos países de língua portuguesa vai permanecer”, destacou, frisando que “por razões históricas e geoculturais, Macau é de fato uma plataforma privilegiada para a canalização dos interesses chineses nos países de língua portuguesa, e o contrário também”.

A este respeito, Moisés Fernandes deu o exemplo da grande procura que existe na China para a aprendizagem da língua portuguesa, em que, diante da falta de capacidade de resposta das sete universidades públicas chinesas, Macau surge como a solução, “como o mais importante centro de aprendizagem da língua portuguesa”.

“Anualmente, mais de oito mil chineses de Macau e da China continental têm vindo a inscrever-se nos cursos de língua portuguesa na Região Administrativa Especial de Macau”, concluiu.

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