ENTREVISTA
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Reportagem: Raquel Casiraghi | duração: 8'50" | tamanho: 1557 Kb
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Não é a toa que o Papa Bento XVI iniciou suas viagens pela América Latina, especialmente no Brasil. Para o padre João Pedro Baresi, integrante de pastorais sociais em São Paulo, a vinda do Papa ao país mostra que a América Latina desponta como a salvação da Igreja Católica em reafirmar os seus dogmas e recuperar os fiéis perdidos para as igrejas neo-pentecostais. Apesar da fuga de fiéis, a América Latina ainda aparece como o continente mais católico do mundo, concentrando mais de 500 milhões de católicos.
Adepto da Teologia da Libertação, Baresi critica a falda de humildade da Igreja, que se coloca, em muitas vezes, como a única verdade. Na entrevista a seguir, o padre também questiona o poder que a instituição envolve e que a separa do povo.
João Pedro, o que significa a vinda do Papa ao Brasil?
Todo mundo sabe que a vinda do Papa e do Vaticano ao Brasil significa se agarrar ao continente da esperança. E aí vale a reflexão: é um dos continentes ou é o único continente. Quer dizer que na Europa, já perderam a esperança, na África e na Ásia não estão falando. E na mesma pergunta, esperança para quem, para o povo, para o Brasil ou para a Igreja Católica. O sentido é evidente: o Papa está apostando todas as fichas na América Latina e no Brasil principalmente. Ele vem para reforçar a Igreja Católica, para deter a sangria dos fiéis que vão para as crentes e para que essa Igreja caminhe nas diretrizes que vem de lá [Vaticano].
O senhor concorda com as declarações do Papa, de que a Teologia da Libertação afugentou muitos fiéis da Igreja Católica?
O Rio de Janeiro foi o Estado que mais perdeu católicos e lá a Teologia da Libertação nunca teve abrigo. Agora, que possa, por certo aspectos, ter afugentado pessoas que não compreenderam o Espírito Cristão para as mudanças, que não entenderam amor. Que entenderam o amor somente no nível sentimental, assistencial e não no nível de ir até as raízes dos males, acho que isso teve um sentido de purificação. Dizem que o Papa está decidido neste sentido: que sejam poucos, mas fiéis. Agora, o problema é ser fiel a quem? Isso poderíamos aplicar muito bem, que sejamos poucos, mas dedicados aos pobres. O que está em discussão é a missão da Igreja: pra que a Igreja, ela é para se salvar ou para salvar. Sabe o que é milenarismo? Ao longo da históra da Igreja, as pessoas ficavam esperandoa vinda do Reino de Cristo no ano Mil, que tudo se salvaria. Olha, há muitos anos que limito na Linha da Libertação e nunca acreditei nisso. Luto por água, por casa ou por comida, coisas que o Papa que já tem, então não para esperar milagre, é para esperar milaghre. Agora, se há alguém pregando que, depois de alguns anos, Cristo vem aqui, esse eu não encontrei. A ilusão de Cristo que vem e muda tudo. Gustavo Guterrez repete com freqüência 'não me importa a teologia, me importa a libertação. Se a teolojgia ajuda a libertação, é bem vinda. Ninguém morre pela teologia e sim pela libertação.
Qual é a importância da Teologia da Libertação nos dias de hoje?
A mesma que sempre teve. A Teologia da Libertação nasceu como uma reflexão da fé sobre uma situação de injustiça em que a maioria do povo latinoamericano sofre. O povo é pobre porque mecanismos nacionais e internacionais o empobreceram. Não é uma coisa casual, não é que ficaram pobres porque eles são um a desgraçada do céu. Está tudo planejado, é resultado da ineqüidade do sistema. Em uma entrevista me pediram para comentar a frase do bispo de São Paulo, Dom Odilio Scherer, que passou o tempo da Teologia da Libertação. E o meu comentário foi 'que me explique em que sentido passou. E se passou, que me diga onde vamos procurar uma reflexão de fé para sustentar a ação dos católicos e dos cristãos em defesa dos pobres. Se a Teologia da Libertação passou e, agora, qual é a outra que vai nos ajudar. Aquela tal de ideologia, que acusam que a Teologia da Libertação têm, parece que estão do lado de quem quer que ela tenha acabado. Mas ninguém se iluda que nós teremos um aposição hegemônica. Seremos cada vez mais postos de lado, cada vez mais difamados, condenados, mas temos que conservar a nossa semente para os tempos em que a Igreja entenda a importância dela.
Que Igreja é essa que o senhor tanto defende?
A Igreja deve estar pronta a morrer pelo próximo. Jesus, quando disse, 'vou a Jerusalém, me prenderão, me matarão, o primeiro Papa disse 'nada disso!', porque se morre Jesus, acabou tudo. E Jesus chamou ele de Satanás. A Igreja deve estar pronta para morrer e não para ter mais poder. Porque se todas as coisas que o Papa, os Bispos, falam, fossem faladas com humildade, entre o povo, com menos personalidades ao redor, tendo aí o prefeito de São Paulo que o recebe ao mesmo tempo em que persegue o povo da rua, se fosse com mais humildade. Às vezes dá para duvidar se a Igreja acredita no Espírito Santo, no sentido de que há muito controle, é muito poder. O Papa falou, em uma das primeiras perguntas, 'não é o poder que salva, é o amor'. Mas aí fica a pergunta, quanto poder precisa para amar.
A visita do Papa ao Brasil ressaltou ainda mais as discussões sobre o aborto e a eutanásia. Como o senhor vê que a Igreja deveria tratar estas questões?
Como teria sido bonito se o Papa ontem tivesse cumprimentado os pobres quando chegou. Como seria bonito se quando ele tivesse chegado pegasse o Evangelho, Lucas 4: "O Espírito do Senhor me mandou entre vocês para trazer uma boa notícia aos pobres". Mas não, começou com o aborto, com a eutanásia. Então, significa que essa é a maior preocupação, essas são realmente as bandeiras, talvez as últimas que ficaram na mão, que seguram a presença da Igreja no mundo. Não digo que a Igreja seja proibida de fazer isso, mas que faça com humildade e, sobretudo, com respeito. O problema é como tratar as pessoas que chegam matando porque não vêem saída. Uma coisa é o aborto do rico e outra coisa é o aborto do pobre. É uma visão da sociedade em que fica difícil definir a Igreja. Nós falamos que Deus é um só, três pessoas com uma natureza só. Parece que com o Papa acontece o contrário, é uma pessoa com três naturezas. De certo ponto, quando ele ofende os muçulmanos, ele é o professor; quando ele vai no Chile, benzer a capela de Pinochet, ele é chefe de Estado; quando ele vai na Conferência de Bispos, ele é o pastor universal. Isso cria um pouco de confusão.
+++ Conversamos com o Padre João Pedro Baresi, integrante de pastorais sociais em São Paulo e integrante da Confederação dos Religiosos do Brasil (CRB). Baresi também é adepto da Teologia da Libertação.
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