Ângelo Alves
Avante – 17.Maio.2007
Ramos Horta ganhou as eleições presidenciais em Timor-Leste. Desfecho pouco surpreendente no quadro de uma instabilidade alimentada por razões e interesses alheios ao povo timorense que visava essencialmente enfraquecer a Fretilin e tentar isolá-la interna e externamente.
O anti-comunismo mais primário e o «papão» do isolamento internacional foram algumas das pedras de toque desta campanha. E o «entusiasmo» de alguns foi tal que facilmente perderam o discernimento e o sentido da responsabilidade. Como Ramos Horta quando, ainda na qualidade de candidato, perdeu a «tramontana» numa entrevista a um diário português: desde acusações de anacronismo político até caricaturas anti-comunistas, tudo serviu para vender a ideia de que a Fretilin sofre do complexo da perseguição e que isso da Austrália, da Indonésia e dos EUA serem contra a Fretilin não passa de uma grande inventona. Concluía o então candidato que «quem ouve os discursos dos «camaradas» da Fretilin, até parece que a Fretilin só tem amigos em Moçambique e em Portugal, e mesmo em Portugal só do lado do PCP». Ora, é necessário lembrar Ramos Horta que foi ele quem, no anúncio da sua candidatura, referiu ter recebido «encorajamento» de vários «países amigos» e enumerou-os: Indonésia, Austrália, Alemanha e EUA. É portanto fácil de perceber que os governos destes países, numa descarada manobra de ingerência aceite e propagandeada pelo próprio, apoiaram um candidato... contra outro, obviamente.
Quanto ao facto de a Fretilin ter amigos em Moçambique e em Portugal, é verdade. Desde longa data. Ramos Horta pode já não querer recordar-se mas a Fretilin foi de facto a grande força obreira da libertação de Timor. Pode não dar jeito lembrar mas Moçambique foi um dos países que mais apoiou a Resistência timorense, e o próprio Ramos Horta. Pode querer escamoteá-lo mas se não lhe falhar a memória reconhecerá que ele próprio recebeu a intensa solidariedade do povo português e do PCP, enquanto elemento da Resistência e da Fretilin, uma e a mesma coisa para o povo português. Quanto à referência específica ao PCP resta-nos agradecer o reconhecimento público e notório da nossa solidariedade para com o povo de Timor. Contudo, a verdade obriga-nos a informar Ramos Horta que não são apenas os comunistas portugueses que se mantêm solidários com Timor, o seu povo e as forças que de forma corajosa prosseguem a luta pela real independência e soberania de Timor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário