O secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Luís Fonseca, apelou hoje (6) para uma maior cooperação tripartida na intervenção de Portugal e da China nos países lusófonos.
Discursando, em Lisboa, na conferência "Portugal-China: Para Uma Parceria Estratégica", organizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa e pelo Centro Português de Negócios na Ásia, o diplomata cabo-verdiano considerou de interesse particular a colaboração entre as três partes nos sectores da construção, tecnologia e finanças, entre outros.
"Portugal pode desempenhar um papel significativo no aprofundamento das relações entre a China e os PALOP", dadas, nomeadamente, as "vantagens óbvias de conhecimento" da realidade dos países, as "relações privilegiadas" com as personalidades e instituições e a intervenção em "nichos importantes".
Antes, já Duarte de Jesus, antigo embaixador de Portugal na China, atacou o "receio e desorientação" dos que, com "falta de perspectiva histórica e desconhecimento da China", vêem na potência emergente um rival à Europa no continente africano.
"A China é uma potência não branca, não ocidental, não colonial, não exige contrapartidas políticas ou ideológicas (como a democracia ou os direitos humanos), está a penetrar [em África], a comprar petróleo e a deixar obra feita", afirmou.
"África pode beneficiar grandemente com esta política e a Europa deve rever a sua estratégia e tornar-se num grande parceiro para o continente africano, com vantagem para todos. Portugal está em vésperas de assumir a presidência do Conselho Europeu, tem obrigação de dar um impulso", defendeu o diplomata.
Em representação do embaixador chinês, Gao Kexiang, o conselheiro político da representação em Lisboa manifestou confiança de que as relações de cooperação entre a União Europeia e a China vão conhecer "novos desenvolvimentos" com a presidência portuguesa, que começa em Julho.
Mais céptico em relação à questão particular da cooperação "triangular" entre China e Portugal nos PALOP, o economista e ex-ministro Augusto Mateus defendeu intervenção conjunta em áreas "específicas e focalizadas".
A curto prazo, defendeu, Portugal "não pode ser útil à China", mas pode tornar-se um parceiro "a longo prazo", estabelecendo desde já "aquilo que pode servir à China depois de 2050, na fase seguinte à economia do carbono" na potência asiática.
Uma cooperação tripartida particularmente benéfica para Portugal, defendeu, seria a que tivesse eixo na Alemanha, que é actualmente o principal parceiro comercial da China na União Europeia e um dos maiores de Portugal.
Mateus defendeu uma maior "focalização", não só para a China como para toda a postura económica e comercial do país, que deve procurar dentro das suas áreas naturais de interesse sectores e oportunidades específicas de actuação, evitando a dispersão "pluricontinental".
Portugal, "que poderia ser o [país] mais à-vontade com a globalização", dado o seu papel histórico e a sua ligação intercontinental, é talvez o que está mais atrapalhado" e "decide ficar em casa quando [o fenómeno] acelera", afirmou Augusto Mateus. (Noticias Lusófonas / 6 Junho 2007)
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