27 abril 2013, ODiário.info
http://www.odiario.info (Portugal)
Onde quer que entre a “ajuda” da troika FMI/BCE/UE
o resultado é o desastre económico e social. Um exemplo menos divulgado é o da
Letónia, mas merece ser muito mais conhecido.
Muito se
falou em Portugal sobre a situação da Grécia, que se confronta hoje com um
desemprego de mais de 27%, com um desemprego jovem de quase 60%, e onde os
hotéis que foram à falência servem hoje de abrigo a cidadãos que antes dos
chamados «ajustamentos» tinham trabalho, casa, dignidade.
Porém,
pouco ou nada se disse sobre a Letónia, uma história que vale a pena conhecer,
porque, como diz o ditado, nos dos outros vemos as nossas.
Quando em
2007 começou a crise, a Letónia tinha um crescimento do PIB de quase 10%, uma
dívida soberana inferior a 8% e um desemprego de cerca de 5%.
A
exposição dos bancos letões (o filme repete-se em todos os países) levou a
Letónia a pedir ajuda à UE e ao FMI, que impuseram as suas habituais «medidas
de austeridade».
A
drástica austeridade imposta, muito ao género da portuguesa, levou na Letónia
ao encerramento de hospitais, à redução de salários e reformas entre 25% a 30%,
a uma tributação fiscal de 25% (taxa universal), à redução do estado social,
etc.
Consequência:
o desemprego disparou de 5% para 20%, o PIB contraiu 20% (situação de que não
há memória em nenhum país), a dívida soberana passou de 8% para mais de 40%.
Na
população, 5% emigrou e mais de 40% caiu na mais absoluta pobreza sem qualquer
esperança de dela sair.
Conclusão
da sra Christine Lagarde, directora do FMI, que muito «dignamente» se passeia
com carteiras da Hermès (que chegam a atingir os 35 000 dólares americanos) e
com sapatos Louboutin (que custam mais de 1000 euros): «A Letónia ensinou à
Europa o caminho do euro».
Que «economia» é essa que mata, destrói e exclui quase metade dos cidadãos de um país?
É preciso
adoptar outros modelos de economia que sirvam as pessoas, e não sacrificar as
pessoas ao serviço de modelos económicos.
A
situação dos países intervencionados e os supostos motivos para os pactos de
agressão são muito diferentes de país para país, mas a troika tem aplicado em
todos a mesma «bíblia» – extorquir a quem trabalha.
Na
Irlanda, onde querem cortar três mil milhões de euros no «estado socia|» (menos
do que em Portugal, note-se, quer em termos absolutos quer relativos), os
sindicatos (TODOS) entraram em ruptura com o Governo.
É exemplo
a ter em conta.
*Este
artigo foi publicado no “Avante!” nº 2056, 24.4.2013
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