17 abril 2013, O Tempo http://www.otempo.com.br (Brasil)
O
horror vivido pelos que não mandam em Portugal
Quando
o avião pousa no aeroporto de Lisboa ou mesmo estando no trem, indo para a
cidade do Porto, aparentemente tudo continua na mesma, neste país do qual tanto
gosto.
A diferença em relação ao Portugal que conheci nos anos 70 ainda me espanta: naquela época, tratava-se de um dos mais atrasados países da Europa, com indústria incipiente, tudo girando em torno de atividades agrárias e turismo pequeno. Estradas sem acostamento e esburacadas que não se comparavam, é claro, às das suas vizinhas ricas, como França, Itália e Inglaterra. Com a Suíça, nem se fala!
Voltei depois do ingresso de Portugal na União Europeia, como membro de uma Comissão da Câmara dos Deputados para tentar negociar o problema dos cirurgiões-dentistas brasileiros que lá se haviam instalado e que, na época, sofriam as consequências da derrogação de antigo acordo bilateral com o Brasil, reconhecendo-lhes o direito de exercício da profissão como se nacionais fossem. Segundo se cobrava de Portugal, os brasileiros haviam perdido essa condição porque ela lhes era mais favorável que a dos demais profissionais da área, oriundos dos países da UE.
Caí o queixo com o que vi. O país se transformara de tal maneira que não podia mais ser reconhecido. Turistas de toda a Europa lotavam hotéis, enchiam restaurantes e visitavam com indiscutível curiosidade marcos da história da construção do Estado moderno com o ciclo das grandes navegações. Autoestradas maravilhosas cortavam o país de alto a baixo, levando-me, satisfeita demais, até Coimbra, ao Porto, a Óbidos, Évora, Alcobaça em um único dia. Cheguei mesmo a visitar a minúscula aldeia onde havia nascido a avó de meu marido.
Aparentemente, volto a afirmar, nada mudou. Mas, se você prestar um pouco mais de atenção, vai ver que os olhos dos portugueses nas ruas andam mais tristes que os olhos tristes cantados nos fados. Por todo lado, lojas fechadas, cartazes de "vende-se", "aluga-se" e índices assustadores de desemprego: só perdem para a Grécia e a Espanha. Nada mais nada menos que 17,5% dos portugueses, em condições de integrar o mercado de trabalho, estão no desemprego. Nos estabelecimentos comerciais, hotéis, nos táxis, faz dó ver a avidez com que recolhem gorjetas mínimas, servis em relação a quem pode pagá-las.
Nem todos, é claro. Os banqueiros e as elites econômica e política continuam soberbos e absolutamente confiantes em suas receitas fiscalistas e de contenção de despesas, ordenados por autoridades do FMI e do Banco Central Europeu.
Na Páscoa, a revista de grande circulação, pertencente ao mesmo grupo editorial do "Diário de Notícias" e do "Jornal de Notícias", publicou matéria de capa intitulada "A via-sacra dos portugueses", com as 14 estações sofridas por Cristo adaptadas ao cotidiano da maioria da população.
Confesso estar lendo em lágrimas o que fizeram com nossos irmãos. E fico recordando antiga música do eterno Chico Buarque: "Como foi bonita a festa, pá...".
Quem vai pagar por tudo isso?
A diferença em relação ao Portugal que conheci nos anos 70 ainda me espanta: naquela época, tratava-se de um dos mais atrasados países da Europa, com indústria incipiente, tudo girando em torno de atividades agrárias e turismo pequeno. Estradas sem acostamento e esburacadas que não se comparavam, é claro, às das suas vizinhas ricas, como França, Itália e Inglaterra. Com a Suíça, nem se fala!
Voltei depois do ingresso de Portugal na União Europeia, como membro de uma Comissão da Câmara dos Deputados para tentar negociar o problema dos cirurgiões-dentistas brasileiros que lá se haviam instalado e que, na época, sofriam as consequências da derrogação de antigo acordo bilateral com o Brasil, reconhecendo-lhes o direito de exercício da profissão como se nacionais fossem. Segundo se cobrava de Portugal, os brasileiros haviam perdido essa condição porque ela lhes era mais favorável que a dos demais profissionais da área, oriundos dos países da UE.
Caí o queixo com o que vi. O país se transformara de tal maneira que não podia mais ser reconhecido. Turistas de toda a Europa lotavam hotéis, enchiam restaurantes e visitavam com indiscutível curiosidade marcos da história da construção do Estado moderno com o ciclo das grandes navegações. Autoestradas maravilhosas cortavam o país de alto a baixo, levando-me, satisfeita demais, até Coimbra, ao Porto, a Óbidos, Évora, Alcobaça em um único dia. Cheguei mesmo a visitar a minúscula aldeia onde havia nascido a avó de meu marido.
Aparentemente, volto a afirmar, nada mudou. Mas, se você prestar um pouco mais de atenção, vai ver que os olhos dos portugueses nas ruas andam mais tristes que os olhos tristes cantados nos fados. Por todo lado, lojas fechadas, cartazes de "vende-se", "aluga-se" e índices assustadores de desemprego: só perdem para a Grécia e a Espanha. Nada mais nada menos que 17,5% dos portugueses, em condições de integrar o mercado de trabalho, estão no desemprego. Nos estabelecimentos comerciais, hotéis, nos táxis, faz dó ver a avidez com que recolhem gorjetas mínimas, servis em relação a quem pode pagá-las.
Nem todos, é claro. Os banqueiros e as elites econômica e política continuam soberbos e absolutamente confiantes em suas receitas fiscalistas e de contenção de despesas, ordenados por autoridades do FMI e do Banco Central Europeu.
Na Páscoa, a revista de grande circulação, pertencente ao mesmo grupo editorial do "Diário de Notícias" e do "Jornal de Notícias", publicou matéria de capa intitulada "A via-sacra dos portugueses", com as 14 estações sofridas por Cristo adaptadas ao cotidiano da maioria da população.
Confesso estar lendo em lágrimas o que fizeram com nossos irmãos. E fico recordando antiga música do eterno Chico Buarque: "Como foi bonita a festa, pá...".
Quem vai pagar por tudo isso?
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