6 julho
2016, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)
Pepe Escobar, Russia Insider
http://russia-insider.com/en/politics/three-harpies-are-back/ri15335
“ali, onde as tétricas harpias fazem ninho”
(Divina
Comédia, “Inferno”, canto XIII)
“… E a Hárpia n. 3 é a secretária de Estado Victoria Nuland – valorosa
baluarte dos neoconservadores –, que imortalizou o “Foda-se a União Europeia”
muito antes do Brexit.”
Era uma vez, quando a Líbia (“Viemos, vimos, ele morreu”) oferecia ao mundo espetáculo imperialista humanitário sangrento estrelado pelas Três Hárpias Norte-americanas: Hillary Clinton, Samantha Power e Susan Rice, de fato quatro, se se incluía a mentora e alma mater de Hillary, Madeleine Albright.
Pops cínicos sentiram-se tentados, àquela época, a chamar de Brunhilde e as Valquírias, aquelas amazonas no desvio. Ou pelo menos, a chamar Hillary, a da gargalhada-careta-grudada-ao-rosto, de Átila, a Franga Huna [orig. Attila The Hen].
Acabemos logo com o
suspense. Com certeza haverá
pelo menos uma sequela previsível. E até já
apareceu, sob a forma de uma resenha cheia de empáfia intitulada Expanding American Power [Expandindo o Poder
Norte-americano], publicada pelo think-tank Center for a New American
Security (CNAS). O CNAS tem, como cofundadora e presidenta – a
ex-subsecretária de Defesa Michele Flournoy, que trabalhou no
governo Obama, sob as ordens de Leon Panetta.
Também
previsivelmente, o CNAS e seu artigo de combate são uma espécie de
grande PNAC remixado – e com algumas das velhas caras
neoconservadoras/neoliberais: Elliot Abrams, Robert Zoellick, Martin Indyk,
Dennis Ross e, claro, a própria Flournoy, tida como a próxima comandante do
Pentágono, numa presidência Hillary.
Nesse contexto, o
Excepcionalistão reina sob todas as suas formas – da sumarenta
lista de fornecedores da Defesa e doadores de campanha, até a ênfase na
OTAN comercial, via as duas ‘parcerias’, Trans-Atlântico (Transatlantic
Trade and Investment Partnership, TTIP) e Trans-Pacífico (Trans-pacific
Partnership, (TPP)]. Depois do eventoBrexit contudo, implementar a TTIP
será empreitada difícil – o que é dizer bem pouco.
Circulou recentemente que Flournoy, ladyPentágono
presuntiva, está muito mais disposta “a mandar mais soldados norte-americanos
para combate contra o ISIS e o regime de Assad, que o governo Obama está
disposto a reconhecer”.
Não, não é bem assim.
Ela realmente corresponde ao que diz o artigo, argumentando que é a favor de
“aumentar o apoio militar norte-americano aos grupos moderados da oposição
síria que combatem contra o ISIS e o regime Assad, como o grupo Frente Sul, sem
requerer que as tropas norte-americanos combatam em vez deles.”
Ela também argumenta
que os EUA devem “sob determinadas circunstâncias considerar o emprego de
coerção militar limitada – ataques iniciais, usando primariamentestandoff weapons – para retaliar
contra alvos militares sírios.” Assim, acrescenta ela, “NÃO advogo que se
ponham tropas de combate norte-americanas em solo para tomar território contra
forças de Assad ou remover Assad do poder.”
OK. Nada de mudança
de regime, então. Só “coerção militar limitada”. E sem esquecer a criação de
uma “zona livre de bombas”, tipo “se você bombardear os caras que nós apoiamos,
retaliaremos usando meiosstandoff para destruir forças [russas] alheias,
ou, nesse caso, quadros sírios”. Como se o Exército Árabe Sírio (EAS) – e a
Força Aérea Russa – fossem permanecer sentados em roda, jogando pôquer,
esperando pelas bombas dos EUA.
Vocês lembrarão que
tudo isso é inacreditavelmente igual à própria “política” de Hillary na Síria
– que, semanticamente, se reduzia a uma “zona aérea de exclusão”. No contexto
do teatro de guerra sírio, “zona aérea de exclusão” significa, realmente,
“mudança de regime”. Não há dúvida de que Hillary Clinton leu atentamente o
ensaio A Política e a Língua Inglesa, de George Orwell.
Deem duro neles
Assim, se Flournoy é
nossa Hárpia n. 2 no mesmo seriado de guerra Síria Remix, ela está obviamente
em sintonia com Hárpia n. 1 Hilária. O currículo hárpico de Hillary, embora
sumarizado, é bem conhecido de todos: a favor de bombardear até destruir o
Iraque; promoção e claque a favor sobretudo da Guerra Global ao Terror (GgaT)
[ing.GWOT, Global War on Terror); claque a favor da avançada (“surge“)
no Afeganistão; a “zona aérea de exclusão” na Síria e mais, como meios para
fazer a mudança de regime; a mais pervertida “contenção” do Irã, mesmo depois
de assinado o acordo nuclear em Viena, ano passado; Putin é o novo “Hitler”; e
o show continua.
Tudo isso, claro,
abrigada em segurança por todas essas nações espertalhonas –a maioria da gangue
do petrodólar – e companhias que doaram fortunas para a Fundação
Clinton, como prelúdio de saudável aumento nos negócios de armas, enquanto ela
lá estava como MadameSecretária de Estado.
E lá estão, Hárpias
n.1 e n.2 tomando praticamente o mundo inteiro como “ameaça” (o Pentágono
identifica cinco: Rússia, China, Coreia do Norte, Irã e o terrorismo, nessa
ordem; as Hárpias devem tem mais algumas a acrescentar). Identificam um núcleo
duro de interesses norte-americanos que são ameaçados em tempo integral pelas
tais ameaças. São animadoras entusiásticas de torcida a favor do imperialismo
humanitário e/ou mudança de regime nua e crua. E querem criar o inferno contra
rivais estratégicos China e Rússia.
Não surpreende que o uber
neoconservador Robert Kagan adore esse show de ira vingancista, ele e toda uma
vasta galáxia neoconservadora/neoliberal espalhada pela Av. Beltway em
Washington. Da Líbia à Síria, para “ajudar” a Casa de Saud na destruição que
fazem desabar sobre o Iêmen… o que haveria aí de errado?!
O que nos leva até a
Hárpia n.3. Ela realmente trabalhou para a n.1 no Departamento de Estado – e
deve-se esperar a promoção de todas as palavras mais aterrorizantes da língua
inglesa, no caso de a Hárpia n.1 pousar no n. 1600 da Pennsylvania Avenue: a
secretária de Estado Victoria Nuland – valorosa baluarte dos neoconservadores
–, já imortalizou o “Foda-se a União Europeia”, antes mesmo doBrexit.
Ela deve requerer que lhe paguemroyalties, e exigir que sejam pagos em
dólar, não naquela libra esterlina deprimida.
A dominatrix
honorária do Kaganato do Nulandistão, como é bem sabido, já usufruiu de porta
giratória de fulgurância estelar: assessora para política externa do
vice-presidente Dick Cheney; foi levada para a Obamalândia por seu chefe e
protetor na Brookings, Strobe Talbott; foi porta-voz da Hárpia n.1 no
Departamento de Estado; e atualmente é Secretária de Estado Assistente para a
Europa, encarregada de demonizar tudo que seja ou pareça russo. Encaremos os
fatos. Ponham-se as três Hárpias na arena, e elas mandam prá lona e prô inferno
(body slam) qualquer daquelas
divas da luta livre feminina.
E aqueles 51 doidos por guerras adoram
Sobre Orlando,
Hillary Clinton mandou que “foi o mais mortal atentado a tiros contra massas de
toda a história dos EUA e nos faz lembrar mais uma vez que armas de guerra não
têm lugar em nossas ruas”. Mas, claro, tudo bem se as tais “armas de guerra”
forem manejadas ou “aconselhadas” por pessoal norte-americano, para matar civis
inocentes em toda a área que o Pentágono chama deMENA (Middle East, Northern
Africa)[Oriente Médio, Norte da África].
Pode-se dizer que não
resta dúvida alguma de que as Três Hárpias Remixed – Hillary, Flournoy e
Nuland – conseguirão a guerra “delas” contra a Síria, seja qual for a semântica
Orwelliana que adotem. Afinal, todos aqueles 51 “diplomatas” doidos por guerras já
aprovaram. E há muito tempo,WikiLeaks revelou, a Hárpia n.1 já
dissera que “o melhor meio para ajudar Israel a enfrentar a crescente
capacidade nuclear do Irã é ajudar o povo da Síria a derrubar o regime de
Bashar Assad.” Realpolitik pode até ter provado que o Irã, na verdade,
teve capacidade nuclear negativa, mas, e daí, ora essa? Que diabo? Mudança de
regime aí está, bem viva e chutando.
Outros, como o Dr.
Fantástico Stanley-Kubrickiano, quero dizer, o general Breedlove, ex-comandante
supremo da OTAN, também já está na luta, na batalha para conseguir um
emprego na Defesa, num putativo governo Clinton. Mas, coitado, não é páreo para
o dream team das Três Hárpias. É muito mais acolhedor, familiar, coisa
de pele, para o Estado Profundo, aplicar a Dominação de Pleno Espectro – aquela
doutrina da Liberdade Duradoura para Sempre [ing. for the Deep State to
deploy Full Spectrum Dominance – that Enduring Freedom Forever doctrine] –
quando conta com elenco só de estrelas. Elas foram, elas viram, elas
bombardearão.
Tradução: Vila Vudu
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