por Emir Sader, para Revista do Brasil
13/07/2016
Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Não haverá democracia se houver a proscrição do melhor presidente da
história, esperança de retomada de um modelo de participação social nas
decisões fundamentais do país
Lula em Juazeiro (11/7): 'Não podemos permitir que a democracia, conquistada
a sangue, seja usurpada por meia dúzia de pessoas'.
A direita conseguiu, de vez ou por um tempo, tirar o PT do governo, seu
objetivo maior desde 2003. Não conseguiu por meio das eleições. Perdeu sempre.
Logrou por meio de um golpe. Agora precisa consolidá-lo. Uma direita
oligárquica, com um programa para o 1% mais rico, foge do povo, da democracia e
das eleições como
o diabo da cruz. Bastou Dilma propor o plebiscito para causar
pânico, tanto em setores da imprensa, antes favoráveis, como nos políticos,
como Renan Calheiros, que já declarou que a PEC das eleições não passa porque
Lula é o favorito.
Uma bela lição de democracia. Se o povo quer o Lula, o jeito é não ter
eleições. Ou encontrar uma forma de tirá-lo da competição no tapetão. Não adiantaria
então dar o golpe e depois ver, agora ou em 2018, o Lula retornar à Presidência
e refazer tudo o que estão desfazendo e pretendem desfazer. Querem uma
democracia sem o Lula.
Logo o Lula, quem mais fez pela democracia brasileira. Recordemos que a
saída da ditadura não se fez por eleições diretas, o que já enfraqueceu o
retorno da democracia. O governo Sarney contribuiu mais ainda para desmoralizar
a transição democrática, abrindo caminho para que alguém como Collor vencesse
as eleições com um programa neoliberal, na contramão da Assembleia
Constituinte, que seu presidente, Ulysses Guimarães, havia chamado de
Constituinte Cidadã. O neoliberalismo veio para destruir os direitos e
enfraquecer a democracia. E o governo FHC (Fernando Henrique Cardoso) seguiu na
mesma direção, de debilitação da política, do Estado, da democracia, em favor
do mercado, das empresas, da subordinação internacional.
A democracia significava pouco para o povo. Ditadura, governos
desmoralizados, como os de Sarney e Collor, ou desmoralizadores do povo
brasileiro e do país, como o de FHC, não contribuíam em nada para recuperar a
imagem da democracia.
Ninguém fez tanto pelo resgate da democracia brasileira como Lula. Não
por discursos pomposos de caráter liberal, sem maior conteúdo social. Mas pelo
que ele fez, com as políticas sociais do seu governo, para resgatar o papel do
Estado, desmoralizado sucessivamente pelos governos anteriores. Pela sua fala,
dirigida ao povo, sobre seus direitos, sobre os preconceitos contra o povo, mas
principalmente pelas suas políticas sociais.
Em primeiro lugar, pelo êxito na criação de empregos com carteira
assinada e pelo aumento dos salários acima da inflação -- que continua a ser o
mecanismo mais eficiente de distribuição de renda. Em segundo, pelas políticas
sociais complementares, como Bolsa Família, microcrédito, Minha Casa, Minha
Vida, ProUni, entre tantas outras.
A massa trabalhadora e a mais pobre da população se sentiu contemplada,
considerada, incluída. O Estado deixava de chegar para as populações mais
pobres somente pela polícia. Com isso, a democracia brasileira ganhou um
conteúdo social, e nunca se fortaleceu tanto como com o governo de Lula.
E a direita, vendo fracassado seu governo golpista, quer tirar o Lula do
jogo político. Enquanto os políticos da direita são acusados, com provas, de
desvios milionários de recursos, e ainda assim continuam no governo, no
Congresso, trama-se para colocar o Lula na mesma vala de políticos corruptos,
sem nenhuma acusação com fundamento. Tentam criar em torno dele a imagem da
suspeição. Mas quando o Lula aparece e fala ao povo, seja em Fortaleza, na
Avenida Paulista, nos Arcos da Lapa, ou onde for, o povo se reencontra com o
seu líder, aquele com o qual se reconhece e reconhece nele o responsável pelo melhor
governo que o Brasil já teve. Daí que tentam tirá-lo da vida política; se
puderem, até prendê-lo, embora a primeira experiência tenha saído como um tiro
pela culatra.
Não haverá democracia no Brasil se houver a proscrição do Lula, porque
ele representa a esperança de retomada do modelo que deu certo no Brasil e que
fortaleceu a democracia. Porque ele expressa a participação do povo no governo
e nas decisões fundamentais do país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário