26 julho 2016,
Conselho Indigenista Missionário-CIMI* http://www.cimi.org.br (Brasil)
A Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão realizou no último final de semana seu primeiro encontro, na aldeia Geralda Toco Preto, do povo Krepym Katejê, município de Itaipava do Grajaú. A mensagem foi direta: "Esses projetos que conhecemos com os nomes de Programa Grande Carajás e Plano de Desenvolvimento Agropecuário do MATOPIBA integram o modelo de desenvolvimento capitalista”.
O encontro foi permeado pela construção de estratégias comuns entre os povos e comunidades tradicionais para o enfrentamento àquilo chamado de dor da Mãe Terra. "Por isso, estamos retomando nossos territórios, revitalizando a nossa cultura, nossos rituais, nossas próprias organizações com a transmissão da sabedoria dos anciãos e anciãs às novas gerações”, diz trecho na
Nossos Territórios, nossa Vida!
Nós, Povos Krepym Katejê, Krenyê, Pyhcop (Gavião), Tentehar/Guajajara, Gamela, Tremembé e Krikati e Comunidades Quilombolas, CIMI, Pastoral Indigenista, CPT, MOQUIBOM realizamos o I Encontro da Teia de Povos Indígenas, no Crêh (aldeia) Geralda Toco Preto do Povo Krepym Katejê, município Itaipava do Grajaú – MA, nos dias 22 a 24 de julho de 2016.
Somos parte da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão que reúne Povos Originários, Comunidades Quilombolas, Pescadores Artesanais, Ribeirinhos, Quebradeiras de Coco, Gerazeiros e Sertanejos para compartilhar as experiências de cuidados com os nossos territórios, nossos cantos, nossas danças, cores, sabores, saberes e nossa autonomia na construção do Bem Viver.
Nestes dias reafirmamos nossa decisão de continuar unidos para resistir e defender nosso Direito de Viver livres e com autonomia em nossos Territórios frente às ameaças do Estado e dos projetos de morte do capital.
O alinhamento de interesses do Estado brasileiro – Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – com o capital é responsável pela não demarcação e homologação de nossos territórios; pelas propostas de leis em tramitação no Congresso Nacional com o objetivo de desmontar os direitos garantidos na Constituição Federal e em Tratados Internacionais; o sucateamento da FUNAI e os constantes cortes orçamentários na política indigenista; os assassinatos, as ameaças, e a criminalização dos povos que se insurgem contra o genocídio.
Sentimos a dor da Mãe Terra agredida pelo monocultivo do eucalipto, da cana-de-açúcar e da soja, pela mineração, pela barragem dos rios, pela destruição das florestas, expansão da pecuária, construção de ferrovias, portos e linhas de transmissão de energia. Esses projetos que conhecemos com os nomes de Programa Grande Carajás e Plano de Desenvolvimento Agropecuário do MATOPIBA integram o modelo de desenvolvimento capitalista.
Apesar desses projetos de morte continuamos a resistência e a insurgência na defesa da Mãe Terra e dos nossos povos. Por isso, estamos retomando nossos territórios, revitalizando a nossa cultura, nossos rituais, nossas próprias organizações com a transmissão da sabedoria dos anciãos e anciãs às novas gerações.
Reafirmamos o compromisso de continuar tecendo a Teia com nossas cores, nossas pinturas, com o som dos nossos Maracás, com o ritmo dos nossos pés em dança, a agilidade das nossas mãos e o calor dos nossos abraços. Neste espaço, com fios de esperanças, somos tecedores e tecedoras de territórios livres.
Territórios Livres, Tecendo o Bem Viver!
24 de julho de 2016
Território Geralda Toco Preto – Povo Krepym Katejê
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*Conselho Indigenista
Missionário-CIMI Quem Somos: O Cimi é um organismo vinculado à CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil) que, em sua atuação missionária, conferiu um novo sentido
ao trabalho da igreja católica junto aos povos indígenas.
Criado em 1972, quando o Estado brasileiro assumia abertamente a
integração dos povos indígenas à sociedade majoritária como única perspectiva,
o Cimi procurou favorecer a articulação entre aldeias e povos, promovendo as
grandes assembléias indígenas, onde se desenharam os primeiros contornos da
luta pela garantia do direito à diversidade cultural.
O objetivo da atuação do Cimi foi assim definido pela Assembléia
Nacional de 1995:
“Impulsionados(as) por nossa fé no Evangelho da vida, justiça e
solidariedade e frente às agressões do modelo neoliberal, decidimos
intensificar a presença e apoio junto às comunidades, povos e organizações
indígenas e intervir na sociedade brasileira como aliados (as) dos povos
indígenas, fortalecendo o processo de autonomia desses povos na construção de
um projeto alternativos, pluriétnico, popular e democrático.”
Os princípios que fundamentam a ação do Cimi são:
-- o respeito a alteridade indígena em sua pluralidade étnico-cultural e
histórica e a valorização dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas;
-- o protagonismo dos povos indígenas sendo o Cimi um aliado nas lutas pela garantia dos direitos históricos;
-- a opção e o compromisso com a causa indígena dentro de uma perspectiva mais ampla de uma sociedade democrática, justa, solidária, pluriétnica e pluricultural.
E para esta nova sociedade, forjada na própria luta, o Cimi acredita que
os povos indígenas são fontes de inspiração para a revisão dos sentidos, da
história, das orientações e práticas sociais, políticas e econômicas
construídas até hoje.
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