3 julho 2016, Odiario.infohttp://www.odiario.info
(Portugal)
Se em Itália há preocupação com a submissão e as
declarações Matteo Renzi nas provocações da NATO à Rússia, em Portugal os media
encantam-se quando Marcelo Rebelo de Sousa, se põe em bicos de pés para
responder que a sua participação na encenação está prevista com uma visita aos
90 militares portugueses que acompanham os 4 aviões F-16: «Em princípio está
pensado, veremos quando»!
Marcelo Rebelo de Sousa terminou o curso de Direito em 1971, três anos antes de 25 de Abril. Ao contrário da quase totalidade dos jovens do seu tempo e na sua situação escolar continuou civil até ao dia, já em 2016, em que assentou praça como Comandante Supremo das Forças Armadas Portuguesas…
A viagem à Lituânia deve servir para ganhar a experiência militar que lhe falta e devia ter adquirido há mais de 40 anos.
Enquanto a atenção
político-mediática se concentra no Brexit e na possibilidade de outros países
prepararem a saída da União Europeia, a NATO continua a reforçar a sua
presença
e a sua influência na Europa. Ao aperceber-se que «o povo britânico decidiu
abandonar a União Europeia», o secretário-geral da aliança atlântica, Jens
Stoltenberg, assegura que «o Reino Unido continuará a desempenhar o seu papel
dirigente na NATO». Afirma ainda que, face à crescente instabilidade e incerteza,
«a NATO é mais importante que nunca como base de cooperação entre aliados
europeus e entre a Europa e a América do Norte».
No momento em que a
União Europeia se estilhaça e perde pedaços, devido à rebelião de largos
sectores populares afetados pelas políticas «comunitárias», e ainda sob o
efeito das suas próprias rivalidades internas, a NATO proclama, mais
explicitamente que nunca, ser a base da União entre os estados europeus. E
estes vêem-se assim cada vez mais subordinados e submetidos à canga dos EUA,
país que reforça a sua posição de líder deste bloco militar.
A cimeira de chefes de
Estado e de governo da NATO a realizar em Varsóvia dias 8 e 9 de Julho foi
preparada num encontro de ministros da Defesa – dias 13 e 14 de junho –
encontro que foi alargado à participação da Ucrânia, apesar deste último país
não ser membro da NATO. Os ministros da Defesa decidiram reforçar a «presença
avançada» no leste da Europa, às portas da Rússia, com a deslocação de 4
batalhões multinacionais báticos na Polónia.
Este deslocamente de
tropas pode ser rapidamente reforçado, como o demonstrou um exercício da «Força
Avançada» que incluiu a deslocação de um milhar de soldados e 400 veículos
militares de Espanha para a Polónia em 4 dias. Com o mesmo objetivo foi
decidido aumentar a presença naval da NATO no Mar Báltico e no Mar Negro, até
aos limites das águas territoriais russas. Ao mesmo tempo, a NATO enviará mais
forças militares, e aviões-radar AWACS para o Mediterrâneo, o Médio Oriente e
África.
Nessa mesma reunião, os
ministros de Defesa comprometeram-se a incrementar em mais de 3.000 milhões de
dólares os gastos militares da NATO em 2016 – gastos que, unicamente em
orçamentos militares, são mais de metade dos gastos militares registados a
nível mundial. É este o prelúdio da iminente cimeira de Varsóvia, que tem 3
objetivos fundamentais:
• «Fortalecer a dissuasão», ou seja, as forças nucleares da NATO na Europa;
• «Projetar a
estabilidade para além das fronteiras da Aliança», ou seja enviar forças
militares patra o Médio Oriente, África e Ásia e, inclusivemente, para lá do
Afeganistão;
• «Ampliar a cooperação
com a União Europeia», o que significa aprofundar a integração das forças
europeias na NATO dirigida e comandada pelos EUA.
A crise da União
Europeia abertamente declarada com o Brexit facilita o projeto de Washingto:
com o TTIP, elevar a NATO até um nível superior criando assim um bloco militar,
político e económico EUA-UE, contra a área euroasiática em ascensão, baseada na
aliança entre a Rússia e a China.
Neste quadro, a
afirmação do Primeiro-ministro italiano Matteo Renzi no forum de S. Petersburgo
que «a expressão “guerra-fria” está fora da história e da realidade, que a
EU e a Rússia voltam a ser excelentes vizinhos» é tragicamente grotesca. A
morte e funeral do gasoduto South Stream Rússia-Itália e as sanções à
Rússia, tudo por ordem de Washigton, já custaram à Itália milhares de milhões
de euros.
E os novos contratos
assinados em S. Petersburgo, a qualquer momento, podem voar em pedaços de papel
no meio do campo da escalada da NATO contra a Rússia. Escalada em que participa
o governo Matteo Renzi que, entretanto, já disse que a Guerra-Fria está fora da
realidade, mas colabora na colocação em solo italiano das novas bombas atómicas
estadounidenses para atacar a Rússia.
* Geógrafo e comentador de política internacional
Tradução de José Paulo Gascão
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