5 de julho
de 2016, O
Cafezinho http://www.ocafezinho.com (Brasil)
por Vanessa Oliveira,
do
Movimento Democrático 18 de Março (MD18)
Tribuna do Senado francês, no Palais du Luxembourg
(Foto:
Wice-Paris.org)
“Para mim, isso foi um golpe de Estado institucional. E eu considero que
o governo de Michel Temer não tem nenhuma legitimidade”, disse a senadora do
PCF de Val-de-Marne, Laurence Cohen, em entrevista ao Movimento Democrático 18
de Março (MD18). Ela, que preside o grupo França-Brasil no Senado francês,
organizou na última sexta feira, 1º de julho, a conferência "Golpe
de Estado no Brasil: que tipo de solidariedade com os povos da América
Latina?". A iniciativa contou com o apoio de vários movimentos de
brasileiros residentes na França e franceses ligados ao Brasil -- entre eles,
as associações France Amérique Latine e Autres Brésils, o Coletivo Solidarité
France-Brésil, os amigos do MST e o próprio MD18.
Além de Cohen, participaram da abertura do evento Marie-Christine
Blandin, senadora ecologista do Norte (Hauts- de- France) e o senador Antoine
Karam, representante do Partido Socialista na Guiana Francesa. Diversas
personalidades da política e da academia francesas compareceram para analisar a
crise política brasileira e pensar formas de estabelecer internacionalmente
ações de solidariedade entre partidos, movimentos sociais, acadêmicos e
sociedade civil, capazes de denunciar as atrocidades do golpe, do governo
interino e defender a democracia no Brasil, na região e no mundo.
“[O que está acontecendo no Brasil ] é desestabilizador para o Brasil,
para todos os países da América Latina e é grave, de uma maneira geral, para a
democracia no mundo e inclusive na França”, alertou Laurence Cohen, depois da
fala do dirigente nacional do MST e da Frente Brasil Popular, João Paulo
Rodrigues. Com uma enorme bandeira sem-terra estendida sobre a bancada,
Rodrigues falou da necessidade de mobilização popular e denunciou a vexatória
barganha de votos no Senado : "Romário quer a presidência de Furnas e
Cristóvam Buarque, o cargo de embaixador da Unesco", para votar contra o
golpe.
Em seguida, as historiadoras francesas Janette Habel (Instituto de Altos
Estudos da América Latina, Sorbonne Nouvelle Paris 3) e Maud Chirio (Université
Paris-Est Marne-La-Vallée) apresentaram a situação no Brasil como um inequívoco
"golpe parlamentar". Chirio destacou que a omissão de acadêmicos e
pesquisadores, diante de tamanho atentado contra a democracia, não pode ser
tolerada. E Habel mostrou como o caso brasileiro, assim como os golpes em
Honduras (2009) e Paraguai (2012) denotam uma clara mudança na estratégia de
controle regional por parte dos Estados Unidos.
Para ela, o imperialismo hoje se sofisticou e não há mais espaço para
operações à la Brother Sam, quando Washington deslocou parte de seu poderio
militar para as costas brasileiras para garantir o sucesso do golpe de 64. A
estratégia da vez é o que se convencionou chamar de soft power: uma maquinação
de bastidores que subtrai a soberania popular por meio do posicionamento de
títeres do império em cargos estratégicos, enquanto se mantém uma aparência de
normalidade institucional.
Apesar da estratégia autoritária do Itamaraty sob José Serra de cercear
a opinião pública internacional e tapar o golpe com a peneira, este tipo de
evento de alto nível mostra que será cada vez mais difícil convencer o mundo da
legitimidade do governo Temer.
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