29 abril
2016, RS-Urgente https://rsurgente.wordpress.com (Brasil)
Por Caco Schmitt*
“O controle político da
Suprema Corte é crucial para garantir impunidade dos crimes cometidos por
políticos hábeis. Ter amigos na Suprema Corte é ouro puro”.
A afirmação não é de
agora e nem de quem critica o STF por não prender o Cunha, por enrolar a posse
do Lula etc. Foi feita há cinco anos pela pessoa que hoje é a embaixadora dos
Estados Unidos no Brasil, Liliana Ayalde. A diplomata exercia o cargo de
embaixadora no Paraguai (de 2008 a 2011) quando se reportou ao governo
norte-americano, relatando a situação do país. Ela
deixou o cargo poucos meses
antes do golpe que destituiu o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, mas
deixou o caminho azeitado. Aqui no Brasil, no cargo desde outubro de 2013, esta
personagem é cercada de mistérios e sua vinda pra cá, logo após o golpe
parlamentar paraguaio, não foi gratuita.
Liliana Ayalde assumiu
seu posto no Brasil cinco meses antes da Operação Lava Jato começar a fase
quente. Chegou discretamente, sem entrevistas coletivas, em meio à crise
provocada pela denúncia do Wikleaks de que os norte-americanos espionavam a
presidenta Dilma, o governo brasileiro e a Petrobras. Segundo Edward Snowden,
“a comunidade de espionagem dos USA e a embaixada norte-americana têm espionado
o Brasil nos últimos anos como nenhum outro país na América Latina. Em 2013 o
Brasil foi o país mais espionado do mundo”, afirmou o ex-funcionário da CIA e
ex-contratista da NSA. A mídia brasileira, por óbvio, já preparando o golpe, de
modo totalmente impatriótico, não divulgou para o povo brasileiro. E esconderam
a grave denúncia de Snowden, que afirmou: “NSA e CIA mantiveram em Brasília
equipe para coleta de dados filtrados de satélite. Brasília fez parte da rede
de 16 bases dedicadas a programa de coleta de informações desde a presidente
Dilma, seus funcionários, a Petrobras até os mais comuns cidadãos, foram
controlados de perto pelos Estados Unidos”.
Liliana Ayalde veio ao
Brasil comandar a embaixada de um país que fortalecia o bloco chamado BRICS
(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), contrário aos interesses do
grande capital norte-americano; e de um país que exerce forte influência sobre
os países sul-americanos com governos populares, todos contrários aos
interesses militares dos Estados Unidos na América do Sul. A vinda da embaixadora
pode ser mera coincidência?
Não. Segundo
informações oficiais da própria Embaixada norte-americana, Ayalde chegou ao
Brasil com 30 anos de experiência no serviço diplomático. Trabalhou na
Guatemala, Nicarágua, Bolívia, Colômbia e, recentemente, como subsecretária de
Estado adjunta para Assuntos do Hemisfério Ocidental, com responsabilidade pela
supervisão das relações bilaterais dos Estados Unidos com Cuba, América Central
e Caribe. Anteriormente serviu como vice-administradora sênior adjunta da USAID
no Bureau para América Latina e Caribe. Entre 2008 e 2011 ela serviu como
embaixadora dos Estados Unidos no Paraguai”. Ou seja: sabe tudo de América
Latina…
As “pegadas” reveladas
Na internet encontramos
vários textos e análises feitas depois do golpe no Paraguai de 2012 que hoje
ficam mais claros e elucidam os fatos. Vejam o que escreveu o jornalista Alery
Corrêa , no Brasil em 5 Minutos: “O golpe de Estado contra Fernando Lugo,
presidente paraguaio, começou a ser orquestrado em 2008, mesmo ano de sua
eleição, a qual colocou fim ao reinado de 60 anos do partido Colorado, mesmo
partido do antigo ditador Alfredo Stroessner… A mesma Ayalde assumiu em agosto
de 2013, sem muito alarde, a embaixada brasileira. Segundo a Missão Diplomática
dos Estados Unidos no Brasil, ‘a embaixadora Liliana Ayalde vem ao Brasil com
30 anos de experiência no serviço diplomático’. Em um momento de intenso
acirramento político e disputa de poder. O impeachment entra em pauta. A
imprensa mais agressiva do que nunca. Não se tratasse de política, diríamos que
foi mero acaso. Mas sabemos que não existe falta de pretensão quando se trata
dos interesses norte-americanos. Na verdade, eles veem crescer a oportunidade
de colocar as mãos no pré-sal brasileiro e estão conscientes da chances reais
que possuem com e sem o PT em cena. E certamente, todas as possibilidades já
foram avaliadas pelo imperialismo norte-americano”.
Outro texto é da
jornalista Mariana Serafini, no Portal Vermelho. “Em um despacho ao
departamento de Estado do dia 25 de agosto de 2009 – um ano depois da posse de
Lugo – Ayalde afirmou que ‘a interferência política é a norma; a administração
da Justiça se tornou tão distorcida, que os cidadãos perderam a confiança na
instituição’. Ou seja, apesar da agilidade do processo de impeachment, a
embaixadora já monitorava a movimentação golpista três anos antes do julgamento
político. No mesmo despacho afirmou que o ‘controle político da Suprema Corte é
crucial para garantir impunidade dos crimes cometidos por políticos hábeis. Ter
amigos na Suprema Corte é ouro puro’. ‘A presidência e vice-presidência da
Corte são fundamentais para garantir o controle político, e os Colorados
(partido de oposição ao Lugo que atualmente ocupa a presidência) controlam
esses cargos desde 2004. Nos últimos cinco anos, também passaram a controlar a
Câmara Constitucional da Corte’, relatou a embaixadora dos USA no Paraguai”.
No Paraguai, a
embaixadora não ficou indiferente ao processo de impeachment, como ela mesma
disse no relatório confidencial: “Atores políticos de todos os espectros nos
procuram para ouvir conselhos. E a nossa influência aqui é muito maior do que
as nossas pegadas”.
E deixaram muitas
pegadas, segundo artigo de Edu Montesanti: “No Paraguai, os golpistas agiam em
torno da embaixadora. Em 21 de março de 2011, a embaixadora recebeu em sua
residência blogueiros paraguaios a fim de ‘conversar’ sobre paradigmas e
diretrizes para aqueles setores societários que já estavam desempenhando
importante papel na sociedade local. Em tese, para conhecer melhor o trabalho
deles, discutir a importância dos blogs na sociedade e a importância da
aproximação deles com os governos”.
Laboratório de golpes
Blogs, movimentos de
internet, Senado, Suprema Corte… qualquer semelhança entre o golpe em curso no
Brasil e o golpe paraguaio não é mera coincidência. O golpe no Paraguai é
considerado um dos mais rápidos da história, consumado em 48 horas. O
presidente Fernando Lugo foi derrotado no Senado por 39 votos favoráveis ao
impeachment e quatro contra. Caiu em 22 de junho de 2012. Uma queda rápida, mas
que teve uma longa preparação… Assim como no Brasil, cujo golpe começou a ser
gestado não no dia das eleições presidenciais de outubro de 2014, quando a
oposição questionou a seriedade das urnas e queria recontagem de votos, mas bem
antes. Quando? Depois que o modelo paraguaio de golpe deu certo, conseguindo
afastar pela via parlamentar um presidente democraticamente eleito pelo voto.
No seu artigo de junho
de 2015, o jornalista Frederico Larsen afirma: “a destituição de Lugo, em 2012,
foi o melhor ensaio realizado a respeito do que se conhece como golpe brando, o
golpe de luva branca. Trata-se de um método para desbaratar um governo sem a
intervenção direta das Forças Armadas ou o emprego clássico da violência. Para alcançar
isto, basta gerar um clima político instável, apresentar o governo em exercício
como o culpado pela crise e encontrar as formas de dobrar a lei para
derrubá-lo. Foi isto o que, três anos atrás, aconteceu no Paraguai”.
E José de Souza Castro,
em artigo no blog O Tempo, em 5 de fevereiro de 2015, profetizou: “Dilma pode
sentir na pele o golpe paraguaio”. E destacou o papel da embaixadora Liliana:
“No Paraguai, ela preparou, com grande competência, o golpe que derrubou o
presidente Fernando Lugo”.
É o que acontece agora
no Brasil: um golpe parlamentar, com apoio da mídia golpista. Um golpe
paraguaio.
O Paraguai foi um dos
países que mais sofreram com a ditadura militar patrocinada pelos Estados
Unidos, nos 35 anos do general Alfredo Stroessner (1954 – 1989). Foi a primeira
democracia latino-americana a cair. Depois caíram Brasil, Argentina Chile e
Uruguai. No Paraguai foi testado o modelo do combate à guerrilha a ser usado,
os métodos cruéis de tortura trazidos dos USA pelo sádico Dan Mitrioni e ali
nasceu a famosa Operação Condor, um nefasto acordo operacional entre as
ditaduras. A CIA transformou o Paraguai no laboratório que testou o modelo de
golpe militar a ser seguido e que derrubou governos populares e assassinou
milhares de pessoas. Agora, o Paraguai serviu novamente de laboratório de um
novo tipo de golpe está em curso no Brasil.
O que nos aguarda
Se o golpe se
concretizar, o Brasil “paraguaizado” terá um destino trágico. São raros os
estudos sobre o que mudou no país vizinho pós-golpe parlamentar e jurídico, mas
o artigo de um ano atrás de Frederico Larsen joga uma luz sobre as verdadeiras
intenções do golpe: “Suas primeiras medidas se basearam em outorgar poderes
especiais ao Executivo, especialmente em matéria de segurança. Deu vida à Lei
de Segurança Interna, que permite ao governo, sem aprovação do Parlamento, a
militarização e declaração de Estado de Sítio em regiões inteiras do país com a
desculpa da luta contra a insurgência do Exército do Povo Paraguaio (EPP). Os
movimentos camponeses denunciam que com esta lei, os militares efetuam despejos
e violações aos direitos humanos, favorecendo ainda mais a concentração da
terra. Conseguiu aprovar a lei de Aliança Público-Privada (APP), que permite a
intervenção de empresas nos serviços que são providos pelo Estado, como
infraestrutura, saúde e educação. Em especial, deu um estrondoso impulso à
produção transgênica no setor agrícola”.
A publicação Diálogo –
revista militar digital – Forum das Américas, de 14/05/2010, manchetou a
exigência da embaixadora Ayalde: ““Devem ser repudiados todos os fatos que
atentem contra a vida das pessoas e contra a propriedade privada”. Portanto, os
deputados golpistas representantes da oligarquia rural, senhores da terra, e da
UDR que pressionam o golpista Temer para que o Exército cuide dos conflitos de
terra já estão adotando o modelo paraguaio contra os movimentos sociais.
Se o golpe paraguaio
vingar no Brasil, retrocederemos em todas as áreas e, mais uma vez, gerações
terão seus sonhos abortados, projetos adiados e a parcela fascista,
preconceituosa e enfurecida da direita virtual sairá dos computadores e
ganhará, de fato, poder nas ruas…
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