19
maio 2016, ADITAL
Agência de Informação Frei Tito para América Latina http://site.adital.com.br
(Brasil)
em Teologia Moral
(Assunção - SP), Professor aposentado de Filosofia da UFG
"Devemos dizer não a uma economia da exclusão e
da
desigualdade social”. "Essa economia mata”."O sistema
social e
econômico é injusto em sua raiz”. "É um mal
embrenhado nas estruturas”.
(Papa Francisco. Alegria do Evangelho - EG, 53 e 59).
No dia 19 de abril passado, em reunião com a direção
do PT, Lula reconheceu os erros que cometeu na composição de alianças. Antes
tarde do que nunca! Pessoalmente, já sabia desses erros desde o primeiro dia do
primeiro mandato do Lula: 1º de janeiro de 2003.
Desde aquela época, o PT, vislumbrado pelo poder ou --
como diz Frei Betto -- "picado pela mosca azul”, abandonou o seu projeto
político popular e fez alianças com forças políticas que defendem -- a qualquer
custo e com qualquer meio -- o projeto do sistema capitalista neoliberal, que é
"um sistema econômico iníquo”
(Documento de Aparecida - DA, 385).
Mal comparando, o PT acreditou que "as galinhas
pudessem fazer aliança com a raposa”. Aqui está o erro que é a raiz de todos os
outros erros. No fundo, o PT não acreditou na força da organização do povo e no
slogan que ele mesmo sempre gritava aos quatro ventos em todas as
manifestações: "povo unido, jamais será vencido!”. Abandonou o princípio -
que até então para o PT era sagrado - de somente fazer alianças com forças
políticas situadas no campo democrático popular. Fazendo alianças com os
poderosos, o PT renegou sua história.
Por sua vez, os poderosos usaram a popularidade de
Lula e a força política do PT enquanto era do seu interesse, permitindo (como
prêmio de consolação) que os pobres tivessem algumas conquistas sociais e
alguns ganhos, mas sempre dentro do sistema e sem implementar nenhuma reforma
política que levasse a uma mudança do modelo econômico.
Essas conquistas e esses ganhos dos pobres não
impediram os lucros exorbitantes dos ricos. Pelo contrário! "Permitiram -
como afirma o sociólogo Boaventura de Sousa Santos -- que os ricos e as
oligarquias continuassem enriquecendo. Os bancos, por exemplo, nunca ganharam
tanto dinheiro no Brasil como nos tempos de Lula. Mas como (devido à conjuntura
favorável, o chamado boom das commodities). os preços (das matérias-primas)
eram altos, sobrava um excedente significativo para fazer uma redistribuição
sem precedentes. Por meio de mecanismos como Bolsa Família e outras políticas
sociais, foi possível que 45 milhões de pessoas saíssem da pobreza, o que é um
fato político muito importante” (http://www.ihu.unisinos.br/noticias/554872-boaventura-chegou-a-hora-de-uma-nova-esquerda. Cf. também: http://oglobo.globo.com/brasil/artigo-pt-podera-se-reinventar-por-frei-betto-19286616).
Não podemos esquecer, porém, a ambiguidade desses
programas sociais: de um lado, servem (pelo menos enquanto os programas
existem!) para melhorar a vida dos pobres (o que é muito positivo); de outro
lado, servem também para desmobilizar os Movimentos Populares, evitar o perigo
de revoltas e manter o povo submisso. Infelizmente, os governos do PT não
abriram nenhum caminho que levasse a uma mudança de estruturas. Deu no que deu!
Quando as forças políticas e econômicas poderosas, que
são forças "diabólicas”, perceberam que, devido a uma situação de crise
mundial e nacional, tinham a chance de retomar o poder e que não precisavam
mais do PT, do Lula e da Dilma - numa conspiração muito bem tramada por um
grupo de traidores, chefiado por Michel Temer, o traidor-mor -- o Senado, por
55 votos a 22, abriu o processo do impeachment, que é (como diz a presidenta
Dilma em sua Declaração) uma "farsa jurídica e política”, ou, em outras
palavras, uma farsa institucional, um verdadeiro golpe: um golpe baixo, sujo e
fraudulento, hipocritamente revestido de legalidade.
Presidenta Dilma -- mesmo na "dor da injustiça
sofrida” (como afirmou em sua Declaração) -- é tempo de autocrítica, é tempo de
buscar novos caminhos, é tempo de voltar às fontes, é tempo -- como diz Frei
Betto -- de reinventar o PT (e outras forças políticas populares), é tempo de
retomar o trabalho de base. Não adianta chorar o leite derramado! Bola para
frente!
Presidenta Dilma, aproveite o tempo do seu afastamento
provisório -- que é o tempo do "golpista interino” (e não do
"presidente interino”) para - em caráter de urgência -- fazer uma grande
convocação nacional com o lema: virada já! Sugiro três frentes de luta: frente
jurídica, frente popular e frente internacional.
Frente jurídica: presidenta Dilma, convoque para uma reunião a Rede
Nacional de Advogados Populares (Renap) e outras Organizações Populares de
Advogados, que atuam desinteressadamente em todas as regiões do país,
defendendo os direitos dos Trabalhadores/as. Com certeza, os advogados/as dessa
Rede e dessas Organizações terão o maior prazer de colaborar, de maneira
organizada, na sua defesa contra as injustas acusações, que levaram à abertura
do processo de impeachment.
Frente popular: presidenta Dilma, convoque para uma reunião as lideranças
dos Movimentos Populares e das Centrais de Movimentos Populares, as lideranças
dos Sindicatos de Trabalhadores/as e das Centrais Sindicais de
Trabalhadores/as, que (por não serem pelegos e pelegas, como - infelizmente -
alguns Sindicatos e algumas Centrais Sindicais) lutam por um projeto político
popular, para: colocar o Brasil inteiro em estado permanente de mobilização;
denunciar que o impeachment sem crime de responsabilidade é um golpe na
democracia e nos direitos humanos e (como afirma em sua Declaração) "a
maior das brutalidades contra o ser humano”; divulgar amplamente na mídia o
nome dos deputados e senadores que votaram e continuam votando contra o povo, a
fim de que, nas próximas eleições, sejam banidos para sempre da vida pública.
Frente internacional: presidenta Dilma, convoque para uma reunião
lideranças populares de outros países da América Latina e do mundo para
sensibilizá-las sobre o que está acontecendo no Brasil e suscitar uma grande
rede de solidariedade e apoio.
"Esse sistema não se aguenta mais. Temos que
mudá-lo, temos que voltar a colocar a dignidade humana no centro, e que, sobre
esse alicerce, se construam as estruturas sociais alternativas de que
precisamos” (Papa Francisco. 1º Encontro Mundial dos Movimentos Populares --
EMMP. Roma, 27-29/10/14).
"Povo unido, jamais será vencido!”. Virada
já!
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