Brasil/CARTA PARA A JUVENTUDE DE 64 E A DE HOJE -- Carina Vitral
11 maio2016, União Nacional dos Estudantes (UNE) http://www.une.org.br
(Brasil)
“…É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio,
palavra indireta, aviso
na esquina. Tempo de cinco sentidos
num só…”
de boca gelada e murmúrio,
palavra indireta, aviso
na esquina. Tempo de cinco sentidos
num só…”
Nosso tempo, Carlos
Drummond de Andrade
O dia primeiro de abril de 1964 ficou marcado pelo
início da ditadura militar que mergulhou o Brasil no obscurantismo por duas
décadas. O símbolo desse momento foi o incêndio da sede da UNE na praia do
Flamengo, no Rio de Janeiro.
Apenas agora, 52 anos depois, a UNE está prestes a
reinaugurar sua sede e espera, junto com ela, manter viva a memória da mocidade que entregou
a vida à causa democrática em nosso país. Ninguém foi mais
perseguida, torturada e morta pela ditadura do que a mocidade que se levantou
contra o golpe.
Os tempos são outros, é bem verdade. O Brasil
é outro. A UNE também é outra. Nossa “mocidade” agora é mais
jovem do que nunca. Mas, ainda hoje, temos a democracia em
nosso DNA. Não existe causa mais importante para UNE que a
democracia. É ela que
nos une.
É ela também que nos conecta com a mocidade de 64, que lamentava
o destino do país, mas buscou coragem e força na esperança de um futuro
democrático para enfrentar os dias de tormenta autoritária.
O pesadelo de um estado de exceção não veio, como muitos
querem fazer parecer, pelos coturnos dos militares, pelo menos em um primeiro
momento. O pesadelo foi gestado nos corredores do congresso, em reuniões de
bilionários, em capas de jornais, em protestos pacíficos contra a “corrupção e
a ameaça comunista” e na construção de um clima político de ódio, favorável a
um golpe de estado.
A UNE é uma das poucas entidades que sobreviveu a todo
esse período, mesmo que na
clandestinidade por se posicionar decisivamente contra o golpe. E por isso
mesmo tem a obrigação histórica de se posicionar novamente sobre os
acontecimentos dos dias atuais.
Os estudantes foram parte fundamental na luta pelo
impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Sabemos bem que
impeachment é um mecanismo constitucional que impede um presidente de continuar
seu governo depois de cometer crime de responsabilidade, exatamente como ficou
comprovado com Collor depois de uma longa CPI e um processo que lhe garantiu o
mais amplo direito de defesa.
Temos a convicção de que seremos julgados um dia sobre
nossa posição no conturbado ano de 2016, quando a juventude do tempo futuro
avaliar os dias de hoje sem as paixões e as simplificações que contaminam o
ambiente político.
É nesse contexto que a UNE, a
despeito de opiniões críticas que tenha sobre o atual governo da presidenta
Dilma Rousseff, em especial sobre os cortes na educação, defende
a manutenção do estado de direito. Defende que o impeachment de
uma presidenta eleita sem a caracterização de crime de
responsabilidade é casuísmo puro.
É falta de compromisso com as regras
democráticas. E sem respeito as regras, estamos todos namorando
o perigoso caminho do “vale-tudo” político e jurídico.
As universidades coloridas de esperança e diversidade,
com todos os tons do povo brasileiro, são a prova de que uma possível derrota,
mesmo que amarga, continuará tendo feito toda a luta valer a pena. Das ruas
tomadas por homens e mulheres que lutam e sonham nascerá o novo. A resistência
democrática deve ser a chave para o para o futuro, não para o passado.
O que nos UNE, hoje e sempre, é a democracia. É o
direito de coexistir em paz e em harmonia no mais belo país do mundo: o NOSSO!
“A nossa mensagem de coragem
É que traz um canto de esperança
Num Brasil em paz”
É que traz um canto de esperança
Num Brasil em paz”
Hino da UNE
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