7 maio 2016, http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
Por Maurício Dias, na revista CartaCapital
Impossível imaginar que a presidenta escape
da decisão premeditada da maioria oposicionista no Senado para impedi-la e, por ora, afastá-la da Presidência
por até 180 dias.
É um engano pensar, porém, nessa ausência como o
princípio do fim de toda a manobra golpista. Para o ingresso de alterações do percurso, há portas
além daquelas do Congresso.
Outras se abrem para recursos legais ou, quem sabe,
para a reação da voz das ruas. De todo modo, Dilma Rousseff promete continuar. Tem dito e
repetido: “Vou lutar
para voltar ao governo”.
Para afastá-la, o golpe
de Estado desenrolado no Parlamento faz parte de um conjunto de medidas
tramadas pela oposição juntamente com aliados distribuídos para muito além do
próprio Congresso. Para tanto, a mídia nativa se oferece como o instrumento
mais afiado.
Dilma, de qualquer forma, não é o objetivo primordial
dos opositores. O ex-presidente Lula é o “xis” do golpe. Ele é o fator
obsessivo da perturbação dos adversários, e eleito em 2018detonaria a “ponte para o futuro” que os arquitetos do PMDB pretendem construir à
sombra da traição de Michel Temer.
De volta à Presidência, Lula detonaria, obviamente, a
tal ponte, ao retornar à pauta
de 12 anos de governos petistas, comprometidos com as necessidades dos cidadãos
mais pobres. Nesse sentido, os programas sociais dispensam apresentação e
comparação. Eles existem e a população os conhece. E, através deles, reconhece
Lula.
Para tentar superar a estrondosa liderança popular de
Lula, os golpistas não hesitam em rasgar a Constituição. Transitam até, sem o
menor pudor, pela ilegalidade, como se deu largamente no caso dos grampos telefônicos, sem a mais pálida preocupação de verificar o que se
relacionava com as investigações e com quanto nada tinha a ver com elas.
Chegou-se a registrar e divulgar conversas entre a presidenta e o
ex-presidente.
Sergio Moro, desatinado, apresentou desculpas ao STF.
Mas não consta que o juiz em algum momento tenha se ruborizado. Ele mesmo
autorizou a condução coercitiva de Lula para depor.
Valeria para o ex-presidente ultrajado repetir trechos
da Carta Testamento de Getúlio Vargas: “A mentira, a calúnia, as mais torpes
invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos
numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa”.
Ao assumir a sua pré-candidatura à Presidência em
2018, Lula reagiu à perseguição golpista, movida inicialmente a ódio de classe,
urdida contra um ex-operário metalúrgico. A partir desse momento, ele passou a
viver sob a ameaça de prisão, por acusações desprovidas de prova.
Mesmo após dois anos de campanha martelante da mídia,
desfechada com o transparente propósito de estigmatizá-lo de vez, o ex-presidente
ainda é o candidato preferido do eleitor brasileiro.
Os adversários de Lula vivem um dilema. Se ele não for
preso, disputará a eleição em 2018 e pode ter uma votação avassaladora. Mas
pode ser pior se for preso. Criarão um mito.
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