16 abril 2014,
ODiário.info http://www.odiario.info (Portugal)
Documentos desclassificados que acrescentam novos dados à longa
história da ingerência imperialista. Historial que de Truman a Kennedy, de Bush
a Obama, acumula os mais hediondos crimes contra os povos de todo o mundo.
Neste caso com a particularidade de destacar de novo o papel da sinistra figura
de Vernon Walters, com quem a Revolução de Abril teve também que se defrontar.
O presidente John F. Kennedy e seus assessores discutiram o
derrubamento do governo de João Goulart uns dois anos antes do golpe militar no
Brasil perpetrado no 1º de Abril de 1964, opção que subsequentemente foi
implementada pelo governo de Lyndon B. Johnson, segundo revelam transcrições da
Casa Branca difundidas pela organização de investigação independente Arquivo de
Segurança Nacional.
Em Julho de 1962 Kennedy quis saber que tipo de relações mantinham os Estados Unidos com os militares brasileiros, e em Março de 1963 deu instruções aos seus assessores: “temos que fazer alguma coisa em relação ao Brasil” se Goulart não deixa de se entender com aquilo a que o presidente chamava “anti-estadunidenses ultra-radicais no governo brasileiro”.
“Creio que uma
das nossas tarefas mais importantes é fortalecer a coluna vertebral dos
militares brasileiros”, respondeu
Lincoln Gordon, embaixador estadunidense no
Brasil, em reunião com Kennedy e o assessor presidencial Richard Goodwin na
Casa Branca em 30 de Julho de 1962. Acrescentou que tinha de se “deixar claro,
discretamente, que não somos necessariamente hostis a qualquer tipo de acção
militar, seja ela qual for, se for claro que o motivo da acção militar é… que
(Goulart) está entregando o país aos” …. “comunistas”, interrompeu Kennedy para
acabar a frase, segundo a transcrição das gravações secretas de Kennedy das
suas reuniões na Sala Oval.
Foi nessa
reunião que Kennedy e a sua equipa decidiram melhorar os seus contactos com os
militares brasileiros, tarefa entregue ao então adido militar, tenente-coronel
Vernon Walters, resume o Arquivo de Segurança Nacional (National Security
Archive). Acrescenta que Walters se tornaria o actor clandestino chave nos
preparativos para o golpe de Estado no Brasil, pouco menos de dois anos depois
desta reunião.
O Arquivo de
Segurança assinala que os documentos oficiais – as novas transcrições
juntamente com outros relatórios oficiais da Casa Branca anteriormente
desclassificados – mostram que em finais de 1962 o governo de Kennedy tinha
concluído que um golpe de Estado serviria os interesses estadunidenses se os
militares brasileiros fossem encorajados a avançar com esse objectivo. A Casa
Branca estava incomodada com a política exterior independente de Goulart durante
a crise dos mísseis, e com a sua renitência em apoiar, entre outras coisas, o
desejo de Washington de expulsar Cuba da Organização de Estados Americanos.
Em 11 de
Dezembro de 1962 o comité executivo do Conselho de Segurança Nacional da Casa
Branca reuniu para avaliar três opções sobre o Brasil. A primeira: não fazer
nada; a segunda: colaborar com elementos hostis a Goulart dentro do país com
vista a impulsionar o seu derrubamento e; a última: mudar a orientação de
Goulart e do seu governo. Optou-se pela terceira mas, segundo o relatório
oficial desta reunião, aceitou-se que a opção de promover um golpe devia ser
mantida como consideração activa e contínua.
Pouco depois,
em 17 de Dezembro de 1962, Kennedy enviou o seu irmão Robert para apresentar um
ultimato a Goulart.
Robert Kennedy
informou Goulart de que Washington tinha sérias dúvidas sobre a futura relação
com o Brasil dados os sinais de infiltração de comunistas e nacionalistas de
extrema-esquerda em postos civis do governo do país, bem como a oposição que
mantinha relativamente a políticas e interesses estadunidenses em geral.
Em Março de
1963 Goodwin recomendava ao presidente que caso Goulart continuasse renitente
em modificar a sua postura, os Estados Unidos deveriam preparar o mais
prometedor clima possível para a sua substituição por um regime mais desejável,
segundo transcrições das gravações.
Numa reunião na
Casa Branca em 7 de Outubro de 1963, o presidente debateu se os Estados Unidos
necessitariam de derrubar Goulart, incluindo uma intervenção militar. Foram
elaborados, sob a direcção do embaixador Gordon, vários planos de contingência
destacando a possibilidade de uma intervenção armada, que foram transmitidos da
embaixada a Washington em 22 de Novembro de 1963 – o dia em que Kennedy foi assassinado.
Em Março de
1964, ao estalar a disputa entre Goulart e os generais brasileiros, o governo
de Johnson promoveu e apoiou o crescente descontentamento militar. Segundo um
documento secreto de uma reunião de responsáveis da CIA, o Departamento de Estado
e a Casa Branca, manifestaram que: “não queremos que o Brasil vá a pouco e
pouco pelo cano abaixo enquanto ficamos parados à espera das próximas
eleições”.
A Operação
Irmão Sam já tinha sido autorizada por Johnson para permitir que os militares
estadunidenses apoiassem os seus congéneres brasileiros, encoberta e
abertamente, com armas e tropas se tal fosse necessário para apoiar o golpe.
Peter Kornbluh,
director do projecto sobre o Brasil do Arquivo de Segurança Nacional, comentou
que as operações clandestinas de desestabilização política da CIA contra
Goulart entre 1961 e 1964 constituem o buraco negro desta história, e apelou a
que o governo de Barack Obama desclassifique os arquivos de inteligência desse
período sobre o Brasil.
Os documentos
difundidos e analisados encontram-se em Arquivo de Segurança Nacional.
Nova Iorque, 2
de Abril.
*Correspondente (La Jornada, quinta-feira, 3 de Abril de 2014)
*Correspondente (La Jornada, quinta-feira, 3 de Abril de 2014)
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